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Mauricio Stycer

REPORTAGEM

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TV Cultura é obrigada a divulgar salários de 5 apresentadores do Roda Viva

Vera Magalhães, apresentadora do Roda Viva, da TV Cultura - Divulgação/TV Cultura
Vera Magalhães, apresentadora do Roda Viva, da TV Cultura Imagem: Divulgação/TV Cultura

Colunista do UOL

22/05/2021 13h15Atualizada em 22/05/2021 21h23

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A Fundação Padre Anchieta, responsável pela TV Cultura, foi obrigada pela Comissão Estadual de Acesso à Informação a divulgar os salários de todos os apresentadores do programa "Roda Viva" nos últimos dez anos.

O pedido foi feito em março de 2020 pelo jornalista Luiz Fernando Toledo via Lei do Acesso à Informação (LAI) e recusado em duas instâncias sob a alegação de "sigilo contratual". Somente ao chegar à terceira instância, o pedido foi aceito. O jornalista recebeu os dados neste sábado (22), um ano e dois meses após o pedido original, e os publicou em seu perfil no Twitter*.

Toledo argumentou, já na segunda instância, que a própria TV Cultura havia divulgado parte dos dados, no caso o salário da jornalista Vera Magalhães, atendendo a um pedido de dois deputados estaduais.

Em março de 2020, respondendo ao deputado Gil Diniz (PSL), que também recorreu à Lei do Acesso à Informação para saber o salário de Vera, o presidente da Fundação Padre Anchieta, José Roberto Maluf, disse que, apesar do parecer jurídico que o impedia de tornar público os valores, poderia divulgar o dado em um encontro pessoal com o parlamentar.

"Esse obstáculo (o parecer jurídico) não impossibilita e impede porém o acesso de Vossa Excelência às informações que nos são solicitadas, o que poderá ser disponibilizado em oportunidade em que pudermos ser honrados com sua visita à nossa instituição".

De posse da informação prestada por Maluf, o deputado fez um pronunciamento na Assembleia Legislativa dando a entender que Vera recebia R$ 500 mil mensais (o total que receberia em dois anos de contrato). Essa distorção levou a TV Cultura e a própria Vera, ainda em março de 2020, a divulgarem o valor informado (R$ 22 mil mensais).

"Diante dos números compatíveis com a prática de mercado, Douglas Garcia (PSL) e Gil Diniz (PSL) distorceram as cifras e divulgaram o valor total do contrato, um total de dois anos de salário. Ao produzir um número que fosse um escândalo, fizeram o que parece ser a sua única razão de viver: espalharam hashtags difamatórias com seus robôs", disse a TV Cultura em nota.

Toledo cita este episódio no recurso que enviou à Comissão Estadual de Acesso à Informação. Sua intenção era justamente esclarecer esta "fake news".

A carta de Maluf a Diniz foi obtida pelo jornalista via a Lei de Acesso à Informação e consta de um relatório da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) sobre o descumprimento da LAI por órgãos públicos no Estado de São Paulo.

Especializado em transparência da informação, Toledo no momento estuda na Universidade de Oxford, na Inglaterra, e atua como editor de um consórcio internacional de jornalistas, o OCCRP (Organized Crime and Corruption Reporting Project), dedicado a investigação de crimes e corrupção.

Em contato com o UOL, Toledo informou que pediu recentemente a divulgação dos salários dos integrantes do programa "Manhattan Connection". O pedido, segundo ele, foi recusado em primeira e em segunda instância.

* No últimos dez anos, o programa teve cinco apresentadores, os jornalistas Mario Sergio Conti (2011-13), Augusto Nunes (2013-18), Ricardo Lessa (2018-19), Daniela Lima (2019-20) e Vera Magalhães (desde 2020).

Segundo os dados informados pela TV Cultura, Conti teve remuneração mensal de R$ 56 mil, Nunes recebeu R$ 30 mil entre 2013 e 2015 e R$ 25 mil no período posterior. Lessa e Daniela ganharam R$ 20 mil por mês. Vera tem remuneração de R$ 22 mil.