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'Beau Tem Medo' e você também deveria ter: terror mexe com temores ocultos

Joaquin Phoenix é a grande estrela de "Beau tem Medo" - Divulgação/Diamond Films
Joaquin Phoenix é a grande estrela de 'Beau tem Medo' Imagem: Divulgação/Diamond Films

Colaboração para UOL

21/04/2023 04h00

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Um bom filme de terror é aquele que brinca com os nossos sentimentos mais profundos, que nem sabemos que existem. Melhor: é também o longa-metragem que coloca uma lupa nos pequenos temores do dia a dia, nas nossas manias e preocupações.

Dois filmes que seguem essa linha chegam aos cinemas brasileiros nesta semana. Um deles é "Beau Tem Medo", uma verdadeira epopeia do gênero com 3 horas de duração. A assinatura é de Ari Aster, o mesmo diretor de "Midsommar: O Mal Não Espera a Noite".

O outro é "A Morte do Demônio: A Ascensão", que retorna ao universo de um clássico dos anos 1980 - "A Morte do Demônio", mais conhecido pelo título original, "Evil Dead".

Com esse gancho sombrio, a curadoria de Na Sua Tela desta semana mergulha em outras produções que criam pavor a partir do cotidiano. Você está preparado?

Antes, confira ainda os lançamentos das plataformas de streaming - incluindo "Ghosted: Sem Resposta", mistura de ação com comédia romântica estrelada por Ana de Armas ("Blondie") e Chris Evans ("Capitão América: O Primeiro Vingador").

O que tem de novo nos cinemas?

Beau Tem Medo

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O que tem de bom? Viver pode ser um terror por si só. Essa é a ideia que o diretor Ari Aster apresenta logo nos segundos iniciais de "Beau Tem Medo", transformando o parto do protagonista em uma sequência assustadora. Quem então vai nos proteger? Uma mãe dedicada, é claro. Só que isso, no caso deste filme, vira relação abusiva com ares surrealistas em uma verdadeira sessão de terapia transformada em longa-metragem. A história é sobre Beau (Joaquin Phoenix): um homem que vive em um lugar horrível e, por causa disso, perde o voo para reencontrar a mãe, Mona (Patti LuPone), no aniversário de morte do pai. Quando ele recebe uma ligação informando que ela morreu tragicamente, tudo se transforma em uma jornada absurda para chegar em sua cidade natal - e, no processo, rever a ligação dele com a própria família, medos e memórias. Não é exagero dizer que os psicoterapeutas, principalmente os discípulos de Freud, vão amar analisar a mente do diretor. Porém, para o público em geral, fica parecendo que são três filmes dentro de um só: um muito bom, o outro razoável e o último excessivamente delirante.

A Morte do Demônio: A Ascensão

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O que tem de bom? Lançado em 1981, "A Morte do Demônio", do diretor Sam Raimi (que depois faria "Homem-Aranha"), é um dos clássicos do gore - subgênero com muito sangue e tripas. O sucesso motivou mais duas continuações, uma série de TV e um reboot. Agora, retornamos a esse universo com "A Ascensão" - que utiliza elementos da franquia, incluindo o Livro dos Mortos, para construir um enredo que usa a possessão demoníaca como metáfora em um subtexto sobre maternidade. Tudo começa quando um adolescente encontra o Necronomicon no subsolo de um prédio condenado. O garoto acaba libertando todo esse poder, justificando uma série de boas cenas de terror. Você nunca mais vai encarar um ralador ou um olho mágico da mesma forma.

O que tem de novo no streaming?

Ghosted: Sem Resposta

Onde? Apple TV+
O que tem de bom? Quem nunca encontrou aquele garoto ou aquela garota que parece ser o grande amor da vida - para, depois, ser agraciado com a total indiferença? Desta vez a vítima é Chris Evans (o Capitão América da Marvel Studios), que vai atrás de Ana de Armas (indicada ao Oscar por "Blondie") após levar um "ghost" da amada. O único problema é que ela é uma espiã da CIA - e ele é confundido com um agente secreto. Pronto, a confusão está armada nessa mistura de comédia romântica com filme de "buddy cops", subgênero da ação onde duas pessoas (ou um casal, neste caso) precisam enfrentar os vilões. As cenas de ação são bem desenvolvidas e há bons diálogos, ainda que o longa fique devendo uma química maior entre os protagonista e no apuro técnico - incluindo na fotografia, efeitos especiais e iluminação. Infelizmente, parece que todo o orçamento foi para pagar o cachê do elenco estelar e esqueceram do dinheiro para produção em si.

Power Rangers: Agora e Sempre

Onde? Netflix
O que tem de bom? "Mighty Morphin Power Rangers" foi um sucesso da TV brasileira e mundial em meados dos anos 1990. Para comemorar os 30 anos dessa estreia, a Hasbro resgatou parte do elenco original para um especial da Netflix. O filme não reinventa a roda: tem o mesmo toque brega de novela da Record misturado com "Malhação", o que dá aquele ar de vergonha alheia. Ou seja, nostalgia total para os fãs. Infelizmente, a produção escorrega na falta de três integrantes da primeira temporada, aqui ausentes por questões financeiras e criativas. Um deles, Jason David Frank (o Ranger Verde), morreu pouco depois das gravações - deixando uma grande lacuna na homenagem.

Quer mais? Hoje chega à MUBI o filme "Close", indicado ao Oscar 2023. O longa foi anteriormente tema da coluna, clique aqui para ler.

Outro indicado ao Oscar que estreia no streaming nesta semana é "Tár", agora disponível para aluguel e compra em Apple TV e Google Play. Clique aqui para conferir mais sobre o longa.

Se você quiser algo mais pop, a pedida é "Creed III" - disponível para para aluguel em Loja Prime Video, Apple TV, Google Play, YouTube e Claro tv+. A produção foi o gancho para uma edição especial da antiga newsletter Na Sua Tela com um guia completo da franquia "Rocky" - acesse aqui.

Quando o terror fica pessoal

Psicose - Reprodução/Universal Pictures - Reprodução/Universal Pictures
'Psicose': cena do banheiro é uma das mais famosas da história do cinema
Imagem: Reprodução/Universal Pictures

"Dê-lhes prazer. O mesmo prazer que eles têm quando acordam de um pesadelo", dizia Alfred Hitchcock. E não há pesadelo pior do que aquele sugestionado pelo terror do dia a dia.

Quem nunca teve um sonho com um dia ruim na escola ou no trabalho? Eu confesso: até hoje visito os corredores do meu antigo colégio em noites mal-dormidas.

É por isso que as grandes produções da história do cinema usam o terror da vida diária para construir as suas histórias. Veja, por exemplo, "Psicose" (1960): o clássico aborda, entre diversos temas, os pecados do passado de seus personagens, enquanto a famosa cena do banheiro dialoga com o medo do estupro. Isso sem falar de Norman Bates, com a relação tóxica do vilão com a mãe atingindo o seu ápice.

Esse, inclusive, acaba sendo um interessante paralelo entre "Psicose" e "Beau tem Medo".

Outro mestre do gênero que captura esse estado de espírito é Stephen King. O clássico "O Iluminado" (1980) é também sobre os temores do isolamento. Uma das interpretações para o longa de Stanley Kubrick é de que não há fantasmas: tudo não passa de um delírio pela falta de contato com o mundo exterior.

Com "Jogo Perigoso" (2017), obra mais intimista baseada em um conto do escritor, a abordagem é parecida: os perigos são reais ou são apenas fruto da imaginação?

Uma coisa é certa: o Pennywise de "It: A Coisa" (2017) é bem real, mas o medo de palhaços é só um elemento. Os maiores perigos são a puberdade e o amadurecimento, algo pelo qual todos passamos.

Já os pavores envolvendo a sexualidade rendem histórias envolventes e aterradoras, como em "O Silêncio dos Inocentes" (1991). "Corrente do Mal" (2014) vai no mesmo caminho, mas por outro prisma: o da reprovação da sociedade em relação à liberdade sexual feminina.

Enquanto isso, o mais recente "Noite Passada em Soho" (2021) traz o espanto a partir das relações tóxicas.

Corra - Divulgação/Universal Pictures - Divulgação/Universal Pictures
'Corra!', de Jordan Peele, foi indicado ao Oscar de Melhor Filme em 2018
Imagem: Divulgação/Universal Pictures

No cinema atual, quem merece destaque é Jordan Peele. O diretor se notabilizou por se inspirar no cotidiano dos negros para causar medo, nos brindando com filmes aterradores como "Nós" (2019) e o ótimo "Corra!" (2017).

Dá para ter horror nas relações familiares. "Shiva Baby" (2020), apesar de ser mais uma comédia, utiliza elementos do gênero para causar um estranhamento por parte do espectador em momentos constrangedores. As amarras femininas impostas pela sociedade, incluindo aquelas pela religião, motivam o clássico "O Bebê de Rosemary" (1968).

Por último, mas não menos importante, situações profissionais podem ser o ápice do medo. "Cisne Negro" (2010), por exemplo, aborda o extremo da pressão familiar pelo sucesso e do ambiente de abuso.

Já "Psicopata Americano" (2000) é o combo do excessivo culto ao trabalho, do apego ao material e da masculinidade tóxica, tudo isso com um toque de humor e Christian Bale.

A seguir você encontra essas e outras sugestões em uma curadoria especial.

Morra de medo com filmes no streaming

Clique nos nomes das plataformas de streaming de sua preferência para acessar.

Psicose
Onde: Star+, Telecine

O Silêncio dos Inocentes
Onde: Prime Video

O Iluminado
Onde: HBO Max

Shiva Baby
Onde: MUBI

Noite Passada em Soho
Onde: Telecine

Corra!
Onde: Netflix, Prime Video, Star+, Paramount+, Globoplay, Telecine, UOL Play

Nós
Onde: aluguel e compra em Loja Prime Video, Apple TV, Google Play. YouTube, Claro tv+

Corrente do Mal
Onde: Netflix, MUBI

It: A Coisa
Onde: HBO Max

Psicopata Americano
Onde: Star+, Lionsgate+

Hereditário
Onde: Netflix, HBO Max

Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
Onde: Telecine

O Bebê de Rosemary
Onde: Telecine

Jogo Perigoso
Onde: Netflix

Cisne Negro
Onde: Star+

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