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Fora do Disney+, 'Avatar 2' custa duas vezes mais caro no streaming

"Avatar: O Caminho da Água" deve demorar seis meses para chegar aos Disney+ - divulgação/20th Century Studios
'Avatar: O Caminho da Água' deve demorar seis meses para chegar aos Disney+ Imagem: divulgação/20th Century Studios

Colaboração para UOL

28/04/2023 04h00

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"'Avatar 2' quase fazendo aniversário no cinema e nada de chegar no Disney+", lamenta um usuário identificado apenas como Luks Vader no Twitter. Não é só ele: diversos internautas dão falta do longa-metragem no catálogo da plataforma. O lançamento na tela grande foi em dezembro, há mais de quatro meses.

Há, ao menos, uma alternativa: desde o início de abril, "Avatar: O Caminho da Água" pode ser comprado digitalmente em Apple TV, Google Play, Microsoft Store e afins — no modelo chamado de TVOD, sigla em inglês para "vídeo sob demanda transacional".

Nessa modalidade, sai a partir de R$ 59,90, mais que o dobro ou o triplo de outros lançamentos nas mesmas plataformas, como "Creed 3" (R$ 18,90) e "A Baleia" (R$ 29,90). Já o Disney+ custa R$ 27,90 ao mês por todo o catálogo, sem cobranças adicionais.

Isso é reflexo de uma nova prática em Hollywood.

Pode ser o início do fim da era dos grandes "filmes evento" que chegavam ao streaming por assinatura menos de dois meses depois de estrearem no cinema.

A Splash, a Disney afirma que ainda não há previsão para o longa de James Cameron ser disponibilizado aos assinantes do Disney+. De acordo com a apuração desta coluna, é possível que isso ocorra apenas em junho.

O prazo, de seis meses, lembra o que era praticado em tempos pré-pandemia. Perguntada se este será um padrão daqui para frente, a empresa diz que a decisão "vai ser caso a caso".

Seja como for, parte da estratégia já é empregada em outra produção: "Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania". O filme chegou à tela grande em fevereiro e entrará no Disney+, sem custo adicional, em 17 de maio. Uma espera de 91 dias.

O mesmo ocorre com a Warner Bros., que chegou a lançar na HBO Max suas produções apenas 35 dias após a estreia nos cinemas. Agora, "Shazam! Fúria dos Deuses" ficou em cartaz por 40 dias antes de ser disponibilizado primeiro para aluguel digital por R$ 49,90. Não se sabe quando o título estará no catálogo da plataforma do grupo, que custa R$ 34,90 mensais.

"Nós não estamos com pressa de levar os filmes à Max", contou David Zaslav, CEO da Warner Bros. Discovery, em apresentação durante a Cinemacon 2023 — evento realizado nesta semana que foca o mercado exibidor.

"Os estúdios já disponibilizam quase todos os seus grandes filmes e estreias para TVOD: Warner, NBCUniversal, Paramount, Sony e etc", afirma Alessandro Maluf, diretor de Produto Vídeo da Claro, empresa que atua no setor, em entrevista a Splash.

O que mudou?

Com a pandemia em 2020 e a competição contra a Netflix, Hollywood acelerou a transição para o streaming por assinatura. Longas-metragens passaram a estrear em plataformas como Disney+ e HBO Max após poucas semanas nos cinemas e o foco nos serviços de aluguel e compra também diminuiu.

A Disney foi a mais radical: deixou totalmente esse mercado, retornando apenas com o novo "Avatar".

"Foi a estratégia deles de atração para converter as pessoas para o Disney+", afirma Fabio Lima, fundador e diretor da Sofa Digital — distribuidora de filmes para plataformas como Apple TV, Google Play, Prime Video e Netflix.

Os estúdios agora estão ajustando a rota, após um ano ruim nos resultados que essas empresas apresentaram ao mercado financeiro.

A queda no número de assinantes na Netflix, anunciada em abril de 2022, fez com que os investidores de Wall Street passassem a questionar as outras empresas sobre o foco excessivo no digital, com gastos vultuosos e crescimento aquém do esperado. Nos últimos 12 meses, o valor de mercado dos grupos de mídia despencou.

"Já está claro para nós que a exclusividade que pensávamos que seria tão valiosa para aumentar os assinantes, embora tenha algum valor, não foi tão valiosa assim", disse Bob Iger, CEO da Disney, em conferência do banco Morgan Stanley realizada em março.

Sucesso de 'Top Gun' anima cinemas

Nesse meio tempo, veio "Top Gun: Maverick". O longa estrelado por Tom Cruise foi um sucesso de bilheteria, com quase US$ 1,5 bilhão. Isso fez com que os cinemas recuperassem seu charme, pelo menos para os blockbusters.

"O que aconteceu é que [percebeu-se que] o streaming por assinatura não é a única receita de um filme. Não é porque o filme está exclusivo em uma plataforma que todas as pessoas vão ser assinantes", argumenta Fabio Lima.

O executivo também aponta que o mercado percebeu que a estratégia antiga pode ser melhor para o marketing. "Há muito conteúdo, muita oferta. As pessoas ficam perdidas. O cinema tem um espaço quase que exclusivo de dar visibilidade e credibilidade que nenhuma outra janela tem. O cinema será muito importante na valorização dos filmes".

A própria Sofa Digital - antes totalmente voltada ao vídeo sob demanda - partiu para a distribuição tradicional e até criou um evento no formato, chamado Festival Filmelier, com produções exclusivas.

Zaslav pensa da mesma forma. "A percepção de valor do conteúdo aumenta quando há uma grande expectativa e empolgação - e as pessoas querem fazer parte de algo", disse o CEO da Warner em uma conferência com investidores no começo deste ano.

"Elas conseguem vivenciar isso com outras pessoas, seja em um cinema lotado ou em uma noite de domingo", completou - mencionando o horário habitual no qual HBO e HBO Max exibem novos episódios de suas maiores produções, como "Succession" e "The Last of Us".

Mais dinheiro pelo mesmo?

Os distribuidores voltaram a valorizar outras formas de rentabilizar com suas produções. A janela de compra e venda do TVOD começou a receber mais longas no chamado modelo "premium". Ou seja, por um valor mais salgado.

"Essa tecnologia traz oportunidades para os grandes estúdios rentabilizarem suas produções com exclusividade neste formato", explica Alessandro Maluf, da Claro.

"Top Gun" mais uma vez ajudou a iluminar o caminho. "Foi um sucesso de audiência no Claro tv+", revela o diretor. "Além de outros, como 'Minions 2', 'Gatos de Botas 2' e 'Jurassic World 3', que foram disponibilizados na plataforma".

Podemos resumir, então, que ser cinéfilo está ficando um hobby ainda mais caro?

"Na verdade, as pessoas vão economizar mais", contra-argumenta Fabio Lima. Para ele, o público poderá decidir se paga mais caro para assistir antes, ou se espera para pagar menos - ou até ver de graça, em serviços gratuitos como a Pluto TV. "As pessoas não vão se sentir mais presas a ter que ter quatro ou cinco assinaturas", defende.

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