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Vision Pro: Apple cobra preço alto para revolucionar o entretenimento
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Depois de anos de especulações e de desenvolvimento, a Apple finalmente anunciou nesta semana o Vision Pro, os seus óculos de realidade mista. Ao estilo Jetsons ou Homem de Ferro, o visor permite mergulhar o usuário em um ambiente que mistura virtual com o real - no qual os aplicativos de computador e celular se tornam parte do que vemos, em 3D.
Agora a Apple quer fazer a maior revolução na forma como consumimos entretenimento desde o advento do streaming (ou da invenção da TV, para os mais entusiasmados). Isso, claro, se eles vencerem o maior adversário: o alto preço - para nossos bolsos e até para a nossa saúde.
O que o Vison Pro faz?
"Um dos maiores lançamentos da história da Apple", definiu o CEO Tim Cook. A empresa, vale lembrar, introduziu o primeiro computador pessoal bem-sucedido do mundo (o Apple II), um dos primeiros a ter interface gráfica e mouse (o Lisa), além, claro, do Macintosh e do iPhone.
Cook já deixou bem claro que uma das verticais do Vision Pro é justamente o lazer. Um dos usos mais básicos é poder criar telas virtuais pessoais. É como se, instantaneamente, surgisse um telão 4K de 50 polegadas bem em frente aos seus olhos, com o que você quiser ver. É possível também entrar em uma sala de cinema totalmente virtual, ou ainda assistindo a algo à beira do mar.
A Apple apresentou a possibilidade de filmes em 3D. No entanto, isso é pensar pequeno. É possível ter experiências 100% imersivas, nas quais o espectador se vê como um dos personagens da produção, com uma visão 360 graus.
A linha entre o audiovisual e os games vai ficar ainda mais tênue. Vai lembrar o futuro distópico que vimos em "Jogador Número Um", longa-metragem de Steven Spielberg - e estando um passo antes dos holodecks (uma realidade virtual sem a necessidade de óculos) da franquia "Star Trek".
Adesão é desafio
Não se trata de algo inédito, muito menos novo. Aparatos do tipo existem desde meados dos anos 2010. A própria Meta, ex-Facebook, tentou (e, até aqui, não se deu bem) com a sua própria abordagem para o assunto, com Metaverso. Produções filmadas em 180º ou 360ª já acontecem há algum tempo, também.
A diferença é a entrada da Apple. A empresa, com a sua legião de fãs, costuma muitas vezes ser o ponto de virada para a adoção de algumas tecnologias. Foi assim com as telas touch, por exemplo.
A gigante fundada por Steve Jobs agora quer atrair outros grupos de mídia. Eles precisam que as empresas de tecnologia e entretenimento - das grandes às pequenas - criem apps para tornar o Vision Pro realmente desejável. O grande exemplo aconteceu no próprio anúncio: Bob Iger, CEO de The Walt Disney Company, subiu ao palco para dizer que a empresa já está trabalhando em projetos para o dispositivo. O Disney+ está garantido para o Vision Pro já no dia de seu lançamento, o que deve ocorrer apenas no começo de 2024.
O momento do anúncio, mais de seis meses antes do lançamento, não é por acaso. A revelação ocorreu na Worldwide Developers Conference (WWDC), a conferência anual da Apple para desenvolvedores. Mais do que demonstrar o produto, a empresa quer apresentar o seu sistema operacional (chamado visionOS) e as ferramentas para o desenvolvimento de aplicativos.
Preço alto também é risco
A aposta da Apple fica por conta da tecnologia embarcada. O Vision Pro agrega uma tela com uma grande densidade de pixels, além de algumas dezenas de sensores e câmeras, tornando o seu uso mais natural. Há dois chips, desenvolvidos pela própria companhia, para lidar com esse poder de processamento.
Tudo isso é muito caro. O produto será lançado por US$ 3.499 (R$ 17.061 em conversão direta), o que é um valor exorbitante mesmo para o consumidor americano. Para referência, o concorrente Quest 3, da Meta, será lançado no final do ano por US$ 500 (R$ 2.438). Não há ainda um preço de venda no Brasil, mas considerando outros produtores da loja oficial da Apple é possível prever algo na casa dos R$ 40 mil.
Ao menos no começo, o Vision Pro será um divertimento para poucos. Os céticos vão dizer que o alto custo deve matar a iniciativa, assim como fez com que os óculos de realidade mista que vieram antes nunca engrenassem. A bateria, limitada nesta primeira versão a apenas duas horas de uso, é frustrante. O visual do dispositivo, para lá de distópico e extravagante, também deve afugentar compradores em potencial.
O produto ainda pode levar a dilemas morais e de saúde. Afinal, pode desconectar o usuário da realidade e tirá-lo de outras formas de lazer, ao ar livre. O preço a ser cobrado em nossos corpos e mentes pode ser ainda maior do que aquele sentido no bolso.
Será que a revolução vai emplacar?
O poder da Apple para criar fenômenos culturais não deve ser subjugado: em 2010 a imprensa especializada fez pouco caso do iPad. Steve Jobs chegou a ficar deprimido com a reação, como relata a sua autobiografia. No entanto, quando foi finalmente lançado, o tablet tornou-se um sucesso.
Podemos imaginar que, com mais desenvolvimento e aumento de produção, a tecnologia deve começar a baratear e ficar acessível. Fora que esta é a versão Pro do Vision, mais cara (como o iPhone Pro). Os óculos para o mercado consumidor de entrada devem chegar em algum momento no futuro.
Se a popularização acontecer, diretores de cinema, produtores de TV e desenvolvedores de games vão poder pintar (literalmente) o mundo à nossa volta com suas ideias. Nem o céu será o limite. Resta saber se vamos embarcar para um futuro utópico ou distópico.
Agora as cartas estão na mesa - e tudo o que irá ocorrer daqui até o começo de 2024 pode ditar para sempre o futuro de como consumimos o entretenimento.
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