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Disney vive crise, aumenta preços e apela até para 'cassino do Mickey'

Bob Iger, CEO de The Walt Disney Company, bem que poderia colocar uma grande placa na frente da sede do grupo, na Califórnia, com um "família vende tudo" escrito em letras garrafais. Afinal, é quase isso que está ocorrendo com uma crise nunca vista pela empresa. No começo de agosto, durante evento para investidores após a divulgação dos resultados financeiros do segundo trimestre do ano, o executivo deixou bem claro: agora a Disney quer focar no estúdio de cinema, nos parques e no streaming para ganhar dinheiro. Todo o resto é secundário.

As repercussões desse novo direcionamento já estão surgindo. Na mesma ocasião, a empresa anunciou que seguirá os passos da Netflix e vai em breve impor regras para quem divide contas de suas plataformas. Iger disse que esse compartilhamento é "significativo". O certo é: em alguns meses vai ficar complicado "rachar" com outros uma mesma conta de Disney+ e Star+.

O streaming vai ficar mais caro, também. Nos Estados Unidos, o Disney+ terá um grande aumento de preço já a partir de 12 de outubro. Para quem tem o plano sem publicidade, o valor vai subir 27%, chegando aos US$ 13,99 (cerca de R$ 70) - sendo esse o segundo reajuste em menos de um ano. O plano com anúncios continuará US$ 7,99 (R$ 40).

A empresa está, claramente, tentando direcionar os assinantes para o pacote mais simples, garantindo mais público para as propagandas — e, no final do dia, faturar mais. Não foi confirmado, ainda, se o Brasil seguirá o mesmo aumento de valores.

Vendendo o jantar para pagar o almoço

Enquanto isso, Iger disse em uma recente entrevista para a CNBC que está pensando em voltar a vender o conteúdo da Disney para outras plataformas. Ou seja, podemos em breve ver novamente Branca de Neve, Bela Adormecida, os heróis Marvel e muito mais no app do grande N vermelho, ou ainda em outros concorrentes.

A jogada tem um motivo: ganhar mais dinheiro. Ao focar tudo em seus streamings próprios, a Disney cortou uma grande forma de receita, que era justamente o licenciamento para mídias de outros grupos. Ao mesmo tempo, investiu pesado em filmes e séries originais, acreditando que turbinaria os seus serviços ao se tornarem o destino único dos fãs de marcas como Marvel, Star Wars e ESPN.

A estratégia deu errado. O teto do vídeo sob demanda era muito mais baixo do que os executivos esperavam e, agora, a Casa do Mickey se vê obrigada a cortar gastos e encontrar outras formas de conseguir receita.Isso em um cenário já ruim: de acordo com o último balanço, o Disney+ perdeu 11,7 milhões de assinantes, caindo de 157,8 milhões para 146,1 milhões.

É como se o Mickey estivesse vendendo o jantar para conseguir pagar o almoço: se ele não for esperto, terá apenas adiado o momento de passar fome.

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O cassino do Mickey

O CEO da Disney, Bob Iger
O CEO da Disney, Bob Iger Imagem: Getty Images

Em meio a tudo isso, a Disney anunciou a ESPN Bet - aproveitando a famosíssima marca para entrar no mundo das apostas esportivas. Por enquanto, a iniciativa estará presente apenas nos EUA, nos estados que regulamentam esse tipo de jogo. Na prática, trata-se de um acordo de licenciamento de marca e de publicidade por dez anos, rendendo US$ 1,5 bilhão, mais ações.

A novidade não deixa de ser surpreendente. Há alguns anos, no final de sua primeira passagem pelo cargo de CEO, Bob Iger disse que o grupo não se envolveria em apostas esportivas "no futuro próximo".

Acontece que o mundo mudou: com poderio financeiro, empresas do tipo cavaram o seu espaço no imaginário esportivo, girando muito dinheiro. Faz sentido para a marca ESPN estar nessa jogada - com o perdão do trocadilho -, mas ela chega atrasada. Fora que a presença de uma bet própria inviabiliza outros acordos no setor. Ou seja: entram mais dólares de um lado, mas menos do outro.

Canais à venda

Há uma outra possível explicação para a criação da ESPN Bet: provar que a marca é forte e que pode caminhar sozinha, em uma trajetória que pode tirar a Disney do mercado de TV linear — um modelo considerado quebrado pelo próprio chefão.

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Colocar a divisão à venda parece questão de tempo. O problema é: quem é maluco o suficiente para comprar algo que a própria Disney acredita que está com os tempos contados? São poucos os que se encaixam nos critérios de Iger.

Acha muito? Que nada: na visão de muita gente em Wall Street e Hollywood, esses são apenas os primeiros passos para um desmembramento total da Disney — com a última e maior parte sendo comprada por algum gigante da mídia ou da internet. Como vemos, o Mickey está sendo obrigado a encarar uma dolorosa venda de garagem — e precisa encontrar alguém que queira as suas tralhas. Pior: pode acabar abrindo mão de algum tesouro a preço de banana.

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