Na Sua Tela

Na Sua Tela

Opinião

Nova fase e visual: Priscilla (ex-Alcântara) ecoa Taylor, Miley e Whitney

É curioso o caso de Priscilla, ex-Alcântara. Alçada à fama ainda criança, quando apresentava (ao lado de Yudi Tamashiro) o programa Bom Dia & Cia, do SBT, a jovem vem há quase 15 anos tentando se firmar na carreira musical. A última repaginação ocorreu agora em novembro, quando a cantora ressurgiu com visual diferente e novo estilo em seu mais recente trabalho, no single intitulado "Quer Dançar?".

A mudança chocou muita gente — a maioria, diga-se, ainda com a imagem de Priscilla dos tempos do programa infantil, sem nunca ter prestado a atenção nas canções da moça. E é justamente essa a atual luta dela: se tornar musicalmente relevante e com sua própria identidade, em uma trajetória que ecoa a de estrelas internacionais como Taylor Swift, Katy Perry e Miley Cyrus — ou, no passado, Whitney Houston.

Não é um caminho simples ou fácil de se trilhar: e, no caso da brasileira, significa trocar a fantasia de unicórnio de The Masked Singer por uma nova máscara, em busca de quem verdadeiramente ela é.

No começo de novembro, Priscilla anunciou que estava abrindo mão do "Alcântara" em seu nome artístico. Com um novo e radical visual (que inclui cabelos mais curtos e vermelhos, piercings no rosto e tatuagens à mostra), lançou o clipe de "Quer Dançar?", em parceria com o Bonde do Tigrão.

Esse é o pontapé inicial para o próximo álbum da cantora, chamado simplesmente "Priscilla". Com 17 canções previstas e ainda sem data de lançamento, ele é definido pela própria como "um pop bem pra cima", além de já demonstrar influências do funk e da música eletrônica.

Não se trata da primeira mudança musical de Priscilla. Em 2008, com seu primeiro disco, a então adolescente mergulhou no gospel, lançando cinco álbuns.

Fora do nicho desde 2018, Priscilla ganhou novamente os holofotes em 2021, quando venceu o talent show The Masked Singer Brasil, da TV Globo.


Em busca da própria identidade

Vamos deixar de lado a qualidade sonora ou gostos pessoais. A trajetória de Priscilla está longe de ser inédita na música brasileira ou mundial. Ela reflete os caminhos de uma carreira que começou muito cedo — e de alguém que busca se entender enquanto navega em um momento complexo da indústria cultural, de muitas transformações.

Continua após a publicidade

"Essa é uma construção artística que venho fazendo nos últimos seis, sete anos. Para fazer essa curva oficialmente, precisei revisitar ideias e estigmas que me foram passados desde a infância pelo ambiente religioso", contou a cantora em recente (e franca) entrevista para O Globo.

Guardadas as devidas proporções, essa caminhada lembra a de Katy Perry. A norte-americana começou a carreira profissional em 2001, com ainda 17 anos, sob o nome Katy Hudson e ao estilo cristão. A transição ao som secular só veio depois, com ela encontrando o seu estilo e, principalmente, o sucesso no pop. Se anteriormente cantava "Deus, me ajude a ver a realidade", passou a entoar "eu beijei uma garota e gostei".

Priscilla, sem revelar o rosto, foi a ganhadora da primeira edição do 'The Masked Singer Brasil'
Priscilla, sem revelar o rosto, foi a ganhadora da primeira edição do 'The Masked Singer Brasil' Imagem: Reprodução / Internet

O caminho também lembra o de Whitney Houston. Antes de ter Kevin Costner como seu guarda-costas no cinema ou se tornar famosa por "I Wanna Dance With Somebody", ela começou no cenário gospel — de onde aprendeu técnicas que incorporaria ao seu repertório vocal.

A grande diferença das duas para Priscilla é o peso que a brasileira carrega por ter se tornado famosa ainda mais jovem, em uma era de extrema exposição da internet, e ter ficado marcada com uma imagem de "boa menina", mesmo que poucos fora do cenário cristão tenham realmente prestado atenção em suas músicas.

Miley Cyrus, Taylor Swift?

Nem a troca de estilo após a fama é algo incomum. Taylor Swift, que está passando pelo Brasil com a sua The Eras Tour, que o diga. A norte-americana vem no cenário country, pelo qual já era famosa, mas soube incorporar outros estilos, enveredando pelo pop - e explodindo de vez.

Continua após a publicidade

O caso de Miley Cyrus é ainda mais icônico. Filha do astro do country Billy Ray Cyrus e ex-estrela adolescente da Disney pela série "Hannah Montana", a cantora lançou os primeiros discos no mesmo estilo do pai. A transição drástica (inclusive no visual) veio a partir de 2013, com Miley enveredando pelo pop, R&B, dance, rock e até o psicodélico e o glam.

Não vamos nos enganar: todas essas transformações consideram questões comerciais e, principalmente, um faro acertado dos produtores para perceberem tendências antes mesmo delas ganharem forma. Porém, há também uma verdade que vem das artistas: o sucesso aconteceu porque elas puderam se expressar como realmente são, se sentindo confortáveis — ainda que transgressoras.

Na música, o som está associado a uma imagem. Um fã não compra apenas as canções, mas também o estilo de vida de seu ídolo. Isso se aplica a todos: dos comportados aos rebeldes.

A batalha de Priscilla, na verdade, é encontrar esse equilíbrio entre quem ela é e o que o mercado quer, isso enquanto precisa brigar com aquilo que as pessoas, de fora, acham que ela deveria ser. O fato de ela própria produzir o seu próximo álbum é reflexo dessa busca.

Vai dar certo? Ë cedo dizer. O choque inicial funcionou. Afinal, estamos aqui, falando de Priscilla. Contudo, parece que mais uma vez a sonoridade da cantora ficou em segundo plano. No YouTube, o clipe de "Quer Dançar?" ainda não chegou aos três milhões de views - o que não é pouco, mas ainda é bem menos do que os maiores sucessos da fase gospel dela.

Uma coisa é certa: o mais difícil é convencer você dar chance ao play sem lembrar daquela menina que gritava "Playstation!" nas manhãs do SBT.

Continua após a publicidade

Siga o colunista no Twitter, Instagram, TikTok e LinkedIn, ou faça parte do grupo do WhatsApp.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes