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Netflix X estúdios: a guerra dos grupos de mídia por esportes ao vivo

Se a guerra do streaming terminou com a vitória da Netflix, há um outro conflito se desenrolando entre os grandes grupos de mídia. Agora, a disputa é pelos direitos esportivos e pelas transmissões ao vivo. Tudo para conquistar a sua atenção — e isso envolve a criação de uma "superplataforma" que unirá Disney (e ESPN) com Warner (TNT Sports) e Fox para enfrentar a pioneira desse setor.

O que está acontecendo

Em fevereiro, The Walt Disney Company, Warner Bros. Discovery e Fox Corp (com o que restou da velha 21st Century Fox nas mãos da família Murdoch) anunciaram um novo streaming, 100% focado em eventos esportivos. A iniciativa está sendo comparada ao Hulu, app que só existe nos EUA e que também começou como uma união entre estúdios.

Ainda sem nome, o novo serviço reunirá em um só lugar canais e marcas como TNT, ESPN e Fox (que, nos EUA, é um emissora aberta), carregando consigo os direitos de transmissão de NFL (a liga profissional de futebol americano), NBA (basquete), Copa do Mundo da FIFA, Fórmula 1, Nascar (corridas de stock car), NHL (hóquei sobre o gelo), UFC, MLB (baseball) e três dos quatro grand slams do tênis. A intenção é lançá-lo entre final de setembro e dezembro deste ano.

Com a saída do público da TV paga tradicional e as novas plataformas entrando na era da publicidade, ter transmissões esportivas ao vivo virou um grande diferencial para a retenção dos espectadores. Com medo de ficarem para trás nessa nova fase, os grupos de mídia tradicionais estão fazendo um movimento em conjunto para criarem uma plataforma que realmente possa se destacar.

Não há, ainda, uma previsão de quando (ou se) esse novo streaming estreará no Brasil. De qualquer forma, tanto Warner quanto Disney estão presentes no nosso país e investindo em esportes. Qualquer ação na terra do Tio Sam deve ter repercussões por aqui, no mínimo impactando o catálogo de Max e Disney+.

Ao mesmo tempo, a Netflix também está fazendo uma série de movimentações do tipo nos bastidores. O caminho repete o que Amazon e Apple já trilharam: ambas as empresas têm o ao vivo em seus serviços de vídeo sob demanda.

A corrida pelos esportes

O cenário atual é parte de uma transformação no panorama do streaming.

De um lado, os grupos tradicionais de mídia — quase todos com programadoras em suas estruturas — estão sofrendo com a fuga dos assinantes da TV paga. Em parte, motivada pela corrida que elas mesmas alimentaram, quando passaram a privilegiar o vídeo sob demanda por assinatura.

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Bob Iger, CEO da Disney, é um dos executivos por trás da nova 'super plataforma' de esportes
Bob Iger, CEO da Disney, é um dos executivos por trás da nova 'super plataforma' de esportes Imagem: Getty Images

Acontece que o antigo modelo é quase que uma "pirâmide": o assinante paga por tudo que está disponível, inclusive aquilo que não vê. Isso permitiu uma estrutura que alimentou a existência dos canais e ajudou em uma inflação nos direitos esportivos. Sem consumidores, o castelo de cartas está ruindo, colocando em xeque a existência dos contratos para as transmissões ao vivo.

Ao mesmo tempo, o esporte é um conteúdo considerado de primeira, que atrai fãs e captura a atenção do público por horas em uma transmissão linear. Fora que são o meio quase perfeito para a exibição de propagandas. É aqui que entra uma convergência importante: para fechar a conta, os streamings estão buscando ter publicidade em seus serviços.

Como esse tipo de exibição custa caro, a Netflix nunca tinha ido atrás dele — e, por isso, virou um trunfo das empresas de mídia mais tradicionais. Neste momento, esses "grupos legados" querem levá-lo para o vídeo sob demanda, pelos motivos listados. Só que fazer isso de forma solitária tem seus riscos. Se não houver um grande número de assinantes, a iniciativa não vai ficar financeiramente de pé — e elas descobriram que não é fácil (nem barato) angariar usuários.

Ainda assim, Disney e Warner seguem com um pé em cada barco. A primeira já anunciou que terá um novo serviço com a marca ESPN, enquanto a segunda aposta na Max para exibir os esportes que possui em seu catálogo.

Comcast (dona da Universal) e a Paramount também estão apostando na migração dos esportes para o streaming, mas não entraram no "consórcio" da nova plataforma.

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A jogada da Netflix

Seja como for, a grande atenção do momento é em relação ao movimento da Netflix.

A gigante do streaming conta com um plano com publicidade desde o ano passado, mas a adesão ainda é considerada fraca - tanto do mercado publicitário, quanto de assinantes em potencial. Transmissões esportivas são a esperança para mudar esse jogo.

'Drive to Survive', sobre os bastidores da F1, é o grande exemplo do momento dos esportes no streaming
'Drive to Survive', sobre os bastidores da F1, é o grande exemplo do momento dos esportes no streaming Imagem: Divulgação/Netflix

Não é de hoje que a Netflix está de olho nos esportes. A diferença é que a empresa não começou com as exibições ao vivo, mas sim mostrando os bastidores. Foi o início de uma febre dos documentários esportivos, levando a uma verdadeira inundação de conteúdo com esse modelo — e a um impulso em algumas categorias esportivas, notadamente a Fórmula 1 (que é retratada em "Drive to Survive"). Chegou a hora do próximo passo.

Em janeiro, a WWE (uma mistura de encenação com luta, em uma zona cinzenta do que é ou não esporte) assinou um acordo de US$ 5 bilhões (quase R$ 25 bilhões) para ser parcialmente transmitida em tempo real pela Netflix. A liga é uma propriedade da TKO, que também é a dona do UFC.

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Agora, a empresa norte-americana deve ir atrás de um esporte "real". Uma possibilidade é a NBA, que passará para uma nova rodada de negociações de transmissão em 2025. Seja como for, a gigante do streaming também precisa aprender a oferecer melhor suas "lives", que ficam perdidas em meio às recomendações.

Enquanto isso, as concorrentes olham com atenção: se a Netflix for bem-sucedida na tática, elas terão perdido a grande vantagem que possuem hoje.

Enquanto isso, no Brasil

O cenário no nosso país é um pouco diferente daquele dos Estados Unidos, ainda que os movimentos de lá respinguem por aqui.

Por décadas, a Globo dominou quase como um monopólio. No entanto, desde o começo da pandemia e da queda na TV por assinatura, o grupo carioca tirou o pé nesses investimentos. Hoje temos um panorama bastante difuso, com as transmissões divididas entre canais lineares tradicionais (Globo, Sportv, Band, ESPN, RecordTV e afins) e as novas opções (Paramount+, Cazé TV, Goat TV, Prime Video e diversos outros).

Porém, o que sabemos que muda mesmo o pêndulo no mercado nacional é o futebol, principalmente o Brasileirão — e esse jogo anda bem confuso também.

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Parte dos times da Série A (em um bloco que conta com Atlético-MG, Bahia, Flamengo, Grêmio, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Santos e São Paulo) formou a Libra (Liga do Futebol Brasileiro), vendendo as exibições de seus jogos enquanto mandantes para o Grupo Globo, em acordo válido entre 2025 e 2029.

Já o restante se alinhou na Liga Forte União do Brasil (LFU), que traz consigo Fluminense, Botafogo, Cruzeiro, Fortaleza, Internacional e Vasco, entre outros clubes. O bloco ainda não fechou a venda das partidas do nacional a partir de 2025, e indicou que pode "fatiar" esses direitos entre diversas emissoras e streamings.

Tem também o Corinthians, integrante da Libra e que não assinou o acordo com a Globo.

O cenário lembra aquele que existiu entre 2019 e 2021, quando as partidas de alguns clubes foram exibidas no canal pago TNT - e abre caminho para que novas plataformas (como Netflix, Prime Video, Paramount+ e Max) dividam os direitos de transmissão a partir de 2025.

Uma coisa é certa: a confusão que vem marcando a vida do fã de esportes nos últimos anos, nos deixando perdidos sem saber onde assistir ao próximo jogo do time do coração, tem tudo para continuar ao menos até o final desta década.

Ganhamos em opções e pulverização de forças, mas nos perdemos na confusão. Resta torcer para, quem sabe, a ideia de aplicativo integrado também ganhe força por aqui.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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