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CCXP muda de nome em estreia no México: 'Novo posicionamento'

A sigla CCXP quer dizer Comic Con Experience, correto? Não exatamente. Em estreia no México, que ocorre entre os dias 3 e 5 de maio, o evento brasileiro de cultura pop organizado pelo Omelete adotou novo significado para a abreviação.

Na terra de Frida Kahlo, a marca significa Comic Culture Experience. "Ao expandir para o México, optamos por testar um novo posicionamento", diz em nota Beto Fabri, vice-presidente de conteúdo e da marca.

A alteração foi um caminho para evitar possíveis problemas legais com a versão mais famosa do evento, a San Diego Comic-Con. Os organizadores, porém, não confirmam a informação.

No Instituto Mexicano de Propriedade Industrial, o IMPI, "Comic Con" foi registrado em 2017 como pertencente aos responsáveis pelo evento estadunidense. Ainda que outras empresas tenham conseguido com sucesso a autorização para utilizarem o mesmo sufixo, os brasileiros seguiram por outro caminho.

Mesmo que a CCXP MX prometa um formato bem parecido com aquele que acontece anualmente em São Paulo, não está afirmando oficialmente que é uma Comic Con. Resta saber se isso afetará o desempenho na venda de ingressos e na presença do público.

Viver o épico, uma experiência que é propriedade inconfundível da CCXP, continua sendo um pilar central tanto no Brasil quanto em sua nova edição mexicana. Este desenvolvimento destaca a capacidade do evento de se reinventar. Hoje é mais que uma convenção, é um verdadeiro festival e expande seu impacto cultural além das fronteiras, mantendo suas raízes e adaptando-se às novas audiências Beto Fabri

Seja como for, uma mudança parecida já ocorreu há alguns anos no Brasil — e você nem reparou.

A disputa pela marca

Sinônimo de grande convenção do universo entretenimento, Comic Con é um nome que se popularizou por causa da San Diego Comic-Con (assim mesmo, com hífen), realizada na Califórnia (EUA) desde 1970. O formato ganhou o mundo, com outros eventos assumindo a mesma identidade, mas sem relação direta com a versão mais antiga.

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Há alguns anos, os californianos adotaram uma postura mais agressiva sobre a propriedade da marca. Eles a registraram em outros países e entraram em embate com quem a utilizasse sem autorização. A justificativa é que o público, de forma incorreta, assumiria que há uma ligação com a San Diego Comic-Con.

O caso mais notório é o de Salt Lake Comic Con, de Utah (EUA), que se envolveu em um longo processo por violação de propriedade industrial movido pelos californianos.

O argumento era que Comic Con seria um termo genérico, como "drogaria" ou "bienal de artes", e que não é passível de registro. Não deu certo: após seguidas derrotas no Justiça, os organizadores adotaram novo título: FanX Salt Lake Comic & Pop Culture Convention.

No Brasil, a Santos Comic Con teve o mesmo problema e, após serem notificados extrajudicialmente e temerem a luta de "Davi contra Golias", adotaram em 2014 o nome Santos Comic Expo.

A polêmica por aqui ganha outros contornos porque falamos português — e, de acordo com especialistas ouvidos por esta coluna de Splash, não seria genérico o uso de um termo em outra língua, como argumentaram os organizadores de Salt Lake. Na visão desses advogados, isso deixa clara a tentativa de "pegar carona" na popularidade do formato criado na Califórnia.

Apesar de não ser exatamente a primeira, a Comic-Con de San Diego é o evento mais famoso com esse nome
Apesar de não ser exatamente a primeira, a Comic-Con de San Diego é o evento mais famoso com esse nome Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
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Inclusive, ao anunciar os planos para a primeira edição, Pierre Mantovani, CEO da CCXP, afirmou em 2014 durante entrevista à revista Veja que a intenção era "trazer para o país a experiência de um evento americano. Já acontecem por aqui pequenos encontros de quadrinhos, mas nada é tão representativo como uma Comic Con".

Por isso, o órgão brasileiro responsável pelo registro de marcas, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), viu o início de uma batalha para determinar quem tinha a posse desse título no Brasil.

Além do Omelete e da San Diego Comic-Con, a disputa envolve a Reed Exhibitions, empresa internacional responsável pela New York Comic Con e que, no nosso país, comprou a Alcântara Machado (que realiza o Salão do Automóvel de São Paulo). Após um lado contestar o outro, o INPI ainda não decidiu sobre todos os registros, mas os possíveis impactos disso são perceptíveis.

Mesmo com pouco tempo de vida, o evento do Omelete teve um grande "rebranding" há alguns anos: abandonou o logo original, com o colorido cubo mágico, e adotou unicamente o nome CCXP, sem significados para a sigla. Até a razão social foi trocada: agora é apenas CCXP Eventos LTDA.

Também não é mais possível encontrar o sufixo Comic Con em nenhum canto do site oficial, nem na comunicação da organização nas redes sociais. Na prática, os fãs são os únicos que ainda adotam esse nome. É possível fazer uma correlação entre os fatos.

Beto Fabri, no entanto, trouxe outra justificativa ao dizer que a CCXP, diferentemente das tradicionais convenções de quadrinhos, se estabelece como um universo expandido que celebra a cultura pop de todas as décadas, abarcando seus mais variados significados e formas.

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"Com mais de dez anos de história, a CCXP no Brasil, inicialmente inspirada nas convenções típicas, evoluiu significativamente e hoje é conhecida como Comic Con Experience, representando o maior festival de cultura pop do mundo".

Uma coisa é certa: independentemente de qualquer ponto sobre o nome, não deixa de ser o Brasil exportando o seu jeitinho de fazer grandes eventos para outros lugares do mundo.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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