Alternativa grátis ganha força com aumento de preço no streaming; conheça
Com os recentes aumentos no preço dos streamings de vídeo — na casa dos 40%, como levantou esta coluna recentemente —, está crescendo uma alternativa 100% gratuita e legalizada. Trata-se do Fast, sigla em inglês que quer dizer "Free ad-supported streaming television" (ou "Televisão via streaming gratuita suportada por anúncios", em português). No Brasil, os dois grandes expoentes deste formato são Pluto TV e Samsung TV Plus, mas já estamos vendo impacto desse sucesso em outros serviços, incluindo na Netflix e no Globoplay.
Como o nome entrega, essas plataformas são viabilizadas por meio de publicidade. O formato lembra um mix da televisão tradicional aberta com a velha TV paga: a exibição é linear, sendo dividida em uma centena ou mais de canais, que trazem uma média de dez minutos de propagandas por hora. Tudo é transmitido via internet. Do lado do espectador, há a comodidade de simplesmente zapear por uma curadoria pré-determinada, sem ficar muito tempo olhando menus, lendo sinopses e assistindo a trailers para encontrar o que ver a seguir.
"É a percepção que tínhamos da TV de antigamente, sabe? Todo o conteúdo está ali dentro, sem importar sobre onde ver", resume Aline Jabbour, diretora de Desenvolvimento de Negócios para América Latina da Samsung, que mantém o serviço Samsung TV Plus. "Eu brinco que para a indústria a gente é Fast, mas para o consumidor somos sinônimos de assistir à TV".
A nova modalidade de televisão então vai substituir outras que já existem? A executiva é enfática na resposta:
O Fast é muito mais uma questão complementar do que um substituto. Não vamos substituir a Netflix ou qualquer outro Svod [streaming por assinatura], mas vamos substituir a TV paga. Não é agora, mas vamos chegar ao momento em que as pessoas vão refletir se vale a pena pagar por esses canais lineares ou tê-los de uma forma gratuita e mais abrangente. Aline Jabbour, da Samsung
Como acessar os canais Fast?
A Pluto TV pode ser acessada por meio de seu site ou com apps para smartphones, tablets e televisões conectadas, enquanto a plataforma da Samsung é uma exclusividade para os aparelhos da marca sul-coreana, e não exige cadastro.
Os conteúdos não são exatamente os mais novos e recentes. Na Pluto TV, que faz parte da Paramount Global e licencia produtos de terceiros, você encontrará clássicos como "Profissão: Perigo" (ou "MacGyver", para os mais íntimos), "Jeanie é um Gênio", "CSI: Miami" e "Rin-Tin-Tin"; reprises de séries e animações mais recentes como "MasterChef", "Younger", "O Encantador de Cães", "South Park", "Bob Esponja" e "iCarly", além de muitos animes. Há também um "gostinho" da oferta do Paramount+ (outro serviço do grupo, esse sim pago), incluindo episódios selecionados de algumas novidades. Parte desse cardápio também é exibido no Samsung TV Plus, que tem outras parcerias (inclusive com SBT e Globo).
"A Paramount seleciona os conteúdos da Pluto TV com base em critérios como relevância para o público-alvo, qualidade de produção, direitos de exibição e potencial de engajamento", explica Fabricio Proti, que é gerente geral da companhia no Brasil e também chefia as vendas publicitárias.
As duas plataformas contam ainda com programadores que fortalecem bastante a oferta de filmes. Há opções como "Quanto Mais Idiota Melhor", "Os Especialistas", "Cosmópolis", "Ali", "Com Amor, Van Gogh" e até boa parte da filmografia do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Para quem quer se manter informado, há os sinais ao vivo de emissoras como Canal UOL, Jovem Pan News, CNN Brasil e Record News, entre outros.
Para fechar, a CazéTV vai transmitir os Jogos Olímpicos de Paris e a UEFA Euro 2024 no TV Plus com 24 horas de programação. O canal também está disponível no YouTube.
Todas as atenções
Os Estados Unidos são a principal "frente de batalha" desse mercado. De acordo com o consultor Gavin Bridge, já são quase 2 mil canais desse tipo por lá, disponibilizados em 19 serviços diferentes. Uma delas, a Tubi, já é o oitavo streaming mais assistido, à frente da Max e não muito longe do Disney+, de acordo com a Nielsen.
Na América Latina, a penetração do Fast cresceu 65% entre 2023 e 2024, informa um estudo da provedora de soluções Amagi.
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Quero receberPara a coluna, a Paramount informou que a Pluto TV teve 466 milhões de horas consumidas por espectadores brasileiros em 2023. Em maio, eles atingiram cerca de 5 horas e meia assistidas por usuário. "Gosto de destacar que a Pluto TV atinge a massa através dos nichos", reflete Fabricio Proti.
Já a Samsung informa que, no Brasil, são 18 milhões de TVs conectadas que assistem a apps de streaming por mais de três minutos. Desses, um pouco mais da metade estão ativos no TV Plus.
A previsão é que o Fast movimente US$ 9,04 bilhões (R$ 49 bilhões) em todo o mundo neste ano, de acordo com o Statista, com os EUA correspondendo a maior parte desse dinheiro. Já a receita média por usuário foi US$ 7,95 (R$ 42,95) em 2023, e deve chegar a US$ 9,01 (R$ 48,70) neste ano. É próximo do que as plataformas por assinatura tradicionais cobram normalmente.
Esse sucesso fez outros streamers se movimentarem. "[A Netflix viu] que esses players de Fast estavam crescendo três dígitos", conta Omarson Costa, especialista em transformação digital da indústria de mídia. Para ele, os serviços por assinatura passaram a oferecer planos com anúncios justamente por conta do sucesso da Tubi, Pluto TV e concorrentes.
O impacto não para por aí. O brasileiro Globoplay agregou canais do tipo, acessíveis para quem não paga a mensalidade. Já de acordo com The Information, o Disney+ estaria interessado em um derivado da fórmula: o Past, com o "Free" da sigla trocado por "Premium". Basicamente, são canais lineares sendo vendidos em conjunto com a oferta sob demanda. Nos EUA, o Peacock, da NBCUniversal, já adota esse caminho.
Vendendo essa atenção
Para quem anuncia, a compra do espaço publicitário em uma plataforma Fast também é mais vantajosa, já que os intervalos funcionam como na TV tradicional: sem a opção de pular. Além disso, a maioria das séries — advindas de outras eras da televisão — foram pensadas com pausas para intervalos. "Isso permite aos anunciantes alcançar o público em um contexto de consumo de conteúdo mais passivo e relaxado, com maior atenção à publicidade", argumenta Proti, da Pluto TV.
"A gente vende audiência. Eu vendo o perfil que a marca quer", complementa Aline Jabbour, da Samsung. De acordo com a companhia sul-coreana, mais de 200 marcas já fizeram ou fazem campanhas no TV Plus. A empresa consegue, inclusive, oferecer uma abordagem em sintonia com as propagandas feitas nos canais tradicionais, sejam abertos ou fechados. Como tudo passa pelo mesmo aparelho, ela sabe se você, por exemplo, viu um anúncio horas antes na TV Globo — e pode exibir uma publicidade complementar dentro de um canal Fast. O inverso também é possível: se você ainda não assistiu, ela tem a oportunidade de trazer aquele vídeo original pela primeira vez.
Há ainda outras divisões de público, a partir dos hábitos de consumo do conteúdo. Dessa forma, é possível entregar o anúncio de um varejo de materiais de construção no TV Plus para quem, algum tempo antes, assistiu ao Discovery Home & Health na TV paga. "É muito mais qualificado para a marca. Podemos fazer diversas segmentações", explica a executiva. O formato também detecta os streamings acessados e quem joga games em sua televisão, e quais foram esses títulos. Isso, em um universo fragmentado de opções, é uma vantagem para quem anuncia.
A partir do momento que liga a TV na casa dele, a gente consegue saber tudo. Temos, obviamente, todas as questões da LGPD, de proteção de dados — estamos super dentro da lei. Não temos nenhum cruzamento com Samsung Account, nada disso. Olhamos [apenas] o dispositivo. Não sabemos quem assiste, quantos são, mas sei o que assiste. É uma arma muito poderosa, e isso faz com que as marcas venham até a gente. Aline Jabbour, da Samsung
E você? Preparado para abrir mão de alguns dados sobre o seu comportamento, de parte do poder de escolha e de alguns minutos por hora para ver filmes e séries de graça?
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