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Opinião: SBT foi concessão da ditadura ao 'dócil e submisso' Silvio Santos

O SBT é um dos grandes legados (se não for o maior) de Silvio Santos, que morreu neste sábado (17), aos 93 anos. O comunicador, empresário e apresentador, porém, contou com o auxílio da ditadura militar brasileira (1964-1985), em um dos momentos mais sombrios do país, para ter o seu grande sonho concretizado.

Desde os anos 1960, Silvio —que, quando jovem, serviu ao Exército como paraquedista— era figura popular na televisão, comprando a programação da TV Globo aos domingos. Ele, porém, queria mais.

O primeiro movimento veio em 1975, quando, após um processo de concorrência, o governo do ditador Ernesto Geisel concedeu ao apresentador o canal 11 no Rio de Janeiro. A decisão foi motivo de polêmica na época, inclusive levando a reclamações públicas de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, que era superintendente da Globo.

Na avaliação de Boni, o Brasil não precisava de "mais um" canal popular. Já Manuel de Nóbrega, pai de Carlos Alberto de Nóbrega, defendeu o amigo publicamente, afirmando que, pela primeira vez, teríamos uma televisão nas mãos de um profissional do meio.

A TVS, de TV Studios Silvio Santos, entrou no ar na cidade do Rio em maio de 1976. Devido a seu sonho, o comunicador saiu da Globo e levou o seu programa dominical para a Rede Tupi —garantindo assim um alcance nacional para a sua atração.

Na mesma época, Silvio comprou 50% da TV Record, o que o ajudaria a finalmente formar uma rede própria para todo o Brasil. Contudo, os outros 50% estavam nas mãos de Paulo Machado de Carvalho. Em uma mistura de água e óleo, os dois lados nunca se entenderam.

A Tupi também vivia um momento de desidratação. Desde a morte de seu fundador, Assis Chateaubriand, o canal sofria com uma péssima gestão financeira e com o crescimento da Globo. Com a alegação das dívidas, a concessão da TV foi cassada em julho de 1980, o que deixou o apresentador mais uma vez com menor alcance —ainda que presente nos lares paulistas via Record.

"Dócil ao regime"

"Ao longo dessa história, houve um momento em que o poder da Globo a colocava cada vez mais próxima de uma situação monopolista, o que não convinha ao regime. O poder de barganha da emissora tornava-se potencialmente perigoso para uma ditadura que, ao final da década de 1970, mostrava sinais de enfraquecimento", conta o jornalista Laurindo Leal Filho, o Lalo Leal, em artigo publicado na Revista da USP, em 2004.

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Fazia sentido ao regime estimular o surgimento de novos canais que disputassem a audiência com a Globo. Por isso, poucos dias depois, o governo anunciou que faria uma nova licitação para as frequências da Tupi e da Excelsior —essa última extinta em 1970. O patrimônio, que incluía as sedes e antenas da Tupi, foi repartido entre Silvio Santos e Adolpho Bloch, dono da revista Manchete.

Mesmo já tendo a TVS e 50% da Record, o apresentador foi escolhido por ser mais "dócil e submisso ao regime que os concorrentes Jornal do Brasil e Editora Abril", afirma Lalo Leal. A justificativa para a decisão é que Silvio era dono da TVS, enquanto o SBT era de propriedade de outra pessoa —Carmen Abravanel, cunhada do apresentador.

Verdade ou não, o SBT entrou no ar em 19 de agosto de 1981, exibindo justamente a assinatura do contrato de concessão, direto do Ministério da Comunicação, em Brasília. Pouco depois estrearia o miniprograma Semana do Presidente, com um relato chapa-branca da agenda de João Figueiredo dentro do Programa Silvio Santos. A atração continuaria no ar até o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Silvio Santos morreu a dois dias de o SBT completar 43 anos.

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