Sem Silvio Santos, SBT precisa buscar reinvenção na era do streaming
Silvio Santos morreu neste sábado, 17 de agosto, em São Paulo. Porém, o legado do empresário e apresentador continua por meio do Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT. O canal, no entanto, precisará se reinventar sem a presença do seu maior ícone — processo que já está em andamento.
Não se trata apenas da programação, dos famosos domingos, estes já assumidos por Patrícia Abravanel. É sobre adaptar a emissora às novas tendências da mídia e do consumo digital.
Se antes se gabava de ser o "líder absoluto do segundo lugar", inclusive rivalizando com a TV Globo em diversos momentos, o SBT passou por um processo de perda de audiência nas últimas décadas. Coincidência ou não, isso se intensificou com o avanço da idade do comunicador, que, desde 2022, não gravava mais o programa dominical e tinha menor interferência no dia a dia do canal.
Na prática, desde o ano passado, o comando está nas mãos da filha Daniela Beyruti.
O balanço financeiro deixa a atual situação um pouco mais transparente. Em 2022, o SBT registrou um prejuízo operacional de R$ 29 milhões. Ainda reflexo de um momento difícil por conta da pandemia da covid-19, que aumentou os custos de produção, e de uma queda das receitas publicitárias.
Para 2023, a nova gestão diminuiu os gastos em quase 6% — em um país com inflação de 4,62%, segundo o IPCA. Dessa forma, chegaram a um lucro operacional (quando se gasta menos do que se ganha, mas sem considerar impostos) de R$ 4,3 milhões. Enquanto empresa, o SBT registrou um lucro de R$ 31 milhões por conta dos bons resultados obtidos com investimentos financeiros.
O nada fácil mundo novo
O cenário atual é desafiador para todo o mercado de mídia tradicional. O dinheiro dos anunciantes está fluindo por caminhos mais diversos, principalmente na mídia online — onde é possível delimitar o público-alvo de forma mais segmentada.
Do outro lado, a audiência também está mais fragmentada. Há muito mais competição pela atenção das pessoas, que dividem os seus dois olhos entre diversas telas. Temos a Netflix, mas também o TikTok e diversas outras plataformas.
Nesse cenário, os canais de TV aberta ainda possuem sua força e relevância, mas sem a hegemonia de outros tempos. As audiências são menores, impactando novamente nas verbas publicitárias.
É nesse mundo no qual Daniela Beyruth recebe o SBT.
Diversificação de receitas
O caminho parece óbvio. Além de uma política austera para conter gastos — o que não parece ser o caminho adotado pelo canal nos últimos meses, diga-se —, a alternativa é ampliar as formas de arrecadação financeira.
Por coincidência, uma delas é justamente o +SBT, que teve a estreia adiada, mas já pode ser baixada em lojas de aplicativos para celulares. A nova plataforma de vídeo da emissora adota o modelo chamado FAST (sigla em inglês para "televisão via streaming gratuita com publicidade"), com conteúdo linear e sob demanda totalmente sem custos para o usuário. Formato ideal para um veículo de comunicação que sempre se orgulhou de sua veia popular.
O principal trunfo, ao menos aos olhos deste colunista, fica por conta da grande biblioteca do SBT, incluindo mestres da TV brasileira — não só Silvio Santos, mas também Hebe, Carlos Alberto de Nóbrega e tantos nomes.
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Quero receber"Programas clássicos do SBT têm uma base de fãs leais que aprecia reviver momentos icônicos da televisão. A memória afetiva não só atrai espectadores que cresceram assistindo, mas também introduz esses programas a novas gerações", contou Carolina Gazal, diretora de Conteúdo Digital, em entrevista recente para a coluna.
Ainda na fase de testes, o serviço agrega diversos anunciantes, mostrando a força do departamento comercial da emissora. Mais do que isso: é uma forma da companhia trazer para si parte dos reais que estava migrando para Google, Facebook e outras plataformas da internet.
Os ganhos com o streaming não param por aí. Desde o começo, o SBT licencia suas produções — principalmente as novelas — para terceiros. "Chiquititas" (2013-2015) e "Carrossel" (2012) são até hoje grandes sucessos de audiência na Netflix, pintando entre os títulos mais assistidos em números de horas.
"Esses acordos são rentáveis para o SBT. Eles não só fornecem uma fonte significativa de receita, mas também aumentam a exposição da nossa marca e dos nossos conteúdos. A diversificação de fontes de receita é uma estratégia chave para a sustentabilidade e crescimento a longo prazo da empresa", explicou Carolina Gazal.
Silvio Santos veio aí, fez história na nossa TV e, neste sábado, nos deixou. Agora, cabe aos seus herdeiros e ao novo comando do SBT manter esse legado vivo, adaptando-se aos novos tempos e explorando as oportunidades que o streaming oferece.
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