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Globo entra no mercado de bets. E como ficam o jornalismo e os anunciantes?

Casas de apostas online estão transformando a forma como muitos se relacionam com o entretenimento. E, sim, bets são consideradas entretenimento, um tipo peculiar que agora está atraindo a Globo. O grupo dos Marinho terá em breve uma plataforma de jogos de azar para chamar de sua, em parceria com a MGM Resorts International. Não o estúdio de cinema, que hoje pertence à Amazon, mas o famoso cassino de Las Vegas.

Uma recente análise do Itaú, assinada pelos economistas Luiz Cherman e Pedro Duarte, mostra que os gastos com as bets já representam 0,2% do PIB —soma de todos os bens e serviços produzidos anualmente no Brasil. É muita coisa. Os brasileiros desembolsam quase dez vezes mais com jogos de azar que com cinema, teatro, museus, clubes, parques, streaming e, veja só, até com eventos esportivos.

É nesse contexto que se insere a movimentação da Globo em parceria com a MGM, anunciada neste mês. Juntas, elas vão criar uma nova plataforma, prevista para lançamento em 2025.

"O Brasil é um dos mercados emergentes de jogos mais empolgantes e vibrantes do mundo, e ninguém tem mais exposição e experiência neste mercado do que o Grupo Globo. Esta aliança histórica nos permite entrar rapidamente no mercado com a escala e a experiência necessárias para estabelecer uma posição de operadora líder e fornecedora da melhor experiência para clientes em todo o Brasil", disse Bill Hornbuckle, CEO e presidente da MGM Resorts, em comunicado oficial.

É inegável que o conglomerado brasileiro faz parte do nosso dia a dia. Ela poderá integrar sua própria bet nas transmissões de forma orgânica, similar ao que já faz com o Cartola, que também pode ser turbinado a partir de 2025. Veja o cenário: Caio Ribeiro, comentarista da casa, não só dará dicas de quais jogadores escalar no Cartola, mas efetivamente em qual time apostar, incluindo as "odds" —que são as chances e multiplicadores em caso de vitória.

Vale notar que a Globo não está sozinha. Entre as emissoras de TV, Band e SBT também formalizaram pedidos para operar suas próprias plataformas de jogos. A Disney, dos canais ESPN, também seguiu o mesmo caminho nos EUA. O SBT, em particular, tem uma longa tradição em transformar sua programação em game shows e promover a Tele Sena.

Como ficam o jornalismo e os anunciantes?

Uma "GloboBet" pode ter outras consequências. Primeiro, as casas de apostas virtuais se tornaram poderosos anunciantes na mídia. As bets gastam com marketing entre R$ 5,5 bilhões e R$ 8,8 bilhões anualmente, de acordo com o já mencionado estudo do Itaú. É um volume massivo de recursos, que praticamente está financiando parte relevante dos orçamentos dos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, para ficar com apenas um exemplo.

Em uma realidade no qual cinco ou mais casas de apostas colocam os seus nomes lado a lado no mesmo campo de futebol, elas podem não se importar a ponto de retirar seu dinheiro do Grupo Globo. A verdadeira questão é outra: o grupo da família Marinho e outros continuarão dando espaço àqueles que, a partir de 2025, se tornarão seus concorrentes? A nova iniciativa precisará ser extremamente lucrativa para que os canais possam abdicar dessa receita.

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No caso da Globo, o impacto que realmente chama a atenção é o no departamento de jornalismo. Em dezembro de 2023, em reportagem do Fantástico, a Globo escancarou a associação criminosa por trás do agora famoso Jogo do Tigrinho, proibido no Brasil.

Ainda que não seja por si só o modelo de negócio, estes tipos de jogos online—semelhantes aos caça-níqueis— fazem parte do portfólio de diversas bets. A principal crítica ao modelo é que eles são mais fáceis de manipular que, por exemplo, apostas envolvendo partidas esportivas.

Isso não quer dizer que os esportes sejam imunes. Basta ver casos recentes de jogadores no futebol brasileiro investigados por levarem cartões propositais, e até o mais famoso escândalo, de Lucas Paquetá, jogador da seleção brasileira e do West Ham, também investigado por um suposto amarelo forçado para beneficiar apostadores. Vale ressaltar que estes casos não tiveram relação com as marcas de bets, apenas condutas dos próprios jogadores.

Com o mundo das casas de apostas tendo relações de diferentes tipos com veículos de comunicação, resta saber como ficará a credibilidade jornalística e a exposição dada caso alguma empresa de bets venha a ter algum tipo de problema que renda críticas ou questionamentos à sua marca. Por hora, nenhuma teve algum tipo de problemas.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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