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Greves afetam temporada de blockbusters, mas cinema nacional brilha em 2024

O cinema segue um ritmo sazonal: tradicionalmente, o ano é dividido em diferentes temporadas, cada uma com seus próprios objetivos, audiências e filmes. A mais importante é a do verão norte-americano, que vai de maio a agosto. É nesse período que os blockbusters —produções populares com grandes orçamentos— dominam as telas, garantindo as maiores bilheterias do ano e enchendo os bolsos dos exibidores e estúdios. Porém, em 2024, essa época festiva do cinema quase se transformou em um fiasco.

Nos Estados Unidos, o mês que abre a época dos arrasa-quarteirões registrou uma queda de 29% no faturamento em comparação a 2023, segundo dados da Comscore. O impacto foi grande, refletindo as greves em Hollywood no ano passado. Com as paralisações, diversas filmagens foram adiadas, incluindo "Deadpool & Wolverine", que era esperado para abrir o verão (ou inverno, se considerarmos a perspectiva brasileira). No fim, o peso desse pontapé inicial coube a "O Dublê", estrelado por Ryan Gosling, mas o filme tropeçou nas expectativas, com o perdão do trocadilho.

Outras novidades de maio, como "Furiosa: Uma Saga Mad Max" e "Planeta dos Macacos: O Reinado", também "floparam", para usar o jargão do setor cinematográfico.

Segundo analistas norte-americanos, o cinema entrou em um "ciclo de desespero" naquele momento. Sem um grande lançamento para atrair o público, faltou o impulso inicial necessário para manter a audiência voltando às salas nas semanas seguintes, entre outras justificativas. Um resultado inesperado, especialmente em tempos de internet, onde o digital e as redes sociais têm tanta influência quanto a experiência presencial.

Mesmo adiado para julho, 'Deadpool & Wolverine' alcançou uma bilheteria mundial de US$ 1,3 bilhão
Mesmo adiado para julho, 'Deadpool & Wolverine' alcançou uma bilheteria mundial de US$ 1,3 bilhão Imagem: Divulgação/ Marvel Studios

Tudo mudou em meados de junho, com a chegada de "Divertida Mente 2". A animação da Disney e Pixar foi um verdadeiro trator, faturando US$ 1,68 bilhão (R$ 9,2 bi) até agora e tornando-se a oitava bilheteria da história mundial (sem reajustes para compensar a inflação). No nosso país, o sucesso foi ainda mais notável: o longa-metragem assumiu a posição de maior do século, superando "Vingadores: Ultimato" com mais de 20 milhões de ingressos vendidos e uma arrecadação de R$ 400 milhões, de acordo com dados da Abraplex (Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex).

"O mercado só tem a agradecer, sinceramente, por vender ingresso para o maior filme de todos os tempos no Brasil, em um ano que estávamos esperando que fosse super difícil. Foi maravilhoso", define Mauro Gonzalez, diretor de negócios da Ingresso.com. A empresa, parte do Grupo UOL, é responsável pela venda online de tíquetes para 90% dos exibidores no Brasil.

A sequência de "Divertida Mente" marcou o despertar do gigante. A segunda metade da estação foi mais forte, com os bons resultados de "Twisters", "Bad Boys 4", "Meu Malvado Favorito 4" e, especialmente, "Deadpool & Wolverine", que finalmente estreou no final de julho. Com isso, a temporada dos blockbusters ganhou novo fôlego. Nos EUA, a queda geral no faturamento do verão foi reduzida para "apenas" 10,3%, afirma a Comscore.

Enquanto isso, no Brasil

Por aqui, os exibidores estão mais aliviados. Segundo a Ingresso.com, o cinema nacional foi o grande responsável por salvar o primeiro trimestre de 2024, com o sucesso de "Nosso Lar 2: Os Mensageiros", "Os Farofeiros 2" e "Minha Irmã e Eu". "Três filmes parrudos", define o executivo Mauro Gonzalez, destacando que essas produções nacionais compensaram o fraco início para os lançamentos internacionais.

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Dados do Filme B, que monitora as bilheterias brasileiras, mostram que nos primeiros oito meses de 2024 houve um crescimento de 2,6% no público total e de 3% na arrecadação. "O que é bastante razoável, considerando que, no ano passado, tivemos [os fenômenos de] 'Barbie' e 'Oppenheimer'", comenta Gonzalez.

Se não fosse pela comédia 'Os Farofeiros 2' e por outros filmes nacionais, o cinema do Brasil estaria no vermelho
Se não fosse pela comédia 'Os Farofeiros 2' e por outros filmes nacionais, o cinema do Brasil estaria no vermelho Imagem: Divulgação/Downtown Filmes

Entre os longas nacionais, o aumento foi impressionante, chegando a 565%. No entanto, Gonzalez ressalta que, após o período forte para o cinema do Brasil no primeiro trimestre, há uma escassez de títulos nacionais, justamente quando a Ancine anuncia o retorno da cota de tela.

Final de 2024 é promissor

Ainda restam cerca de 100 dias para que o ano seja encerrado, e o mercado cinematográfico está esperançoso. A lista de títulos que chegam à tela grande nas próximas semanas inclui "Transformers: O Início", "Coringa: Delírio a Dois", "Gladiador 2", "Wicked", "Moana 2" e "Mufasa: O Rei Leão". Já no cinema nacional, a grande aposta é "O Auto da Compadecida 2", que estreia em 25 de dezembro. Todos são continuações ou derivados, o que evidencia, por parte dos estúdios, uma falta de criatividade e o receio em assumir riscos quando se trata das produções de maior orçamento.

"Estamos vendo o final do ano com otimismo. 'Compadecida' pode ajudar bastante, além dos filmes estrangeiros", afirma um aliviado Mauro Gonzalez, da Ingresso.com. Com tantos pedidos atendidos, nada mais justo do que encerrar 2024 com a bênção de Nossa Senhora, não é mesmo?

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