Não é mais uma Comic Con: CCXP atrai 120 marcas e se transforma em festival
Uma Comic Con - como são conhecidas as tradicionais convenções de cultura pop - consiste em reunir fãs e produtores de programas de TV, quadrinhos, filmes, colecionáveis e games. No entanto, a CCXP, que começa oficialmente nesta quinta-feira (5), em São Paulo, expandiu seu propósito e tornou-se mais do que isso, se consolidando como vitrine para marcas de diversos segmentos. Neste ano serão 120 no total, um recorde.
"A CCXP não é mais uma Comic Con, não é uma feira. É um festival", compartilhou Renato Fabri, chefe da área de eventos ao vivo da Omelete Company, que é a organizadora. A declaração do executivo foi feita em um contexto simbólico: o palco da Unlock, evento prévio à abertura oficial e que é voltado para profissionais de marketing e do mercado do entretenimento.
O resultado disso já pode ser visto pelos corredores do pavilhão do Expo São Paulo: estúdios como Warner Bros. e Paramount dividem espaço com estandes de Banco do Brasil, Bis, Cup Noodles e Heineken, entre outros.
A CCXP também é sobre consumo. Renato Fabri, sócio e líder do setor de eventos da Omelete Company
Em 2014, na primeira edição, a sigla CCXP significava Comic Con Experience, inspirada no modelo de grandes convenções internacionais, como a tradicional San Diego Comic-Con, nos Estados Unidos. No entanto, os organizadores afirmam que, ao longo dos anos, deixaram de lado a referência direta ao termo "Comic Con" para destacar o outro elemento central: a experiência. Prova disso é que, na recente estreia da CCXP no México, a sigla passou a ser interpretada como Comic Culture Experience.
O formato da CCXP agora se diferencia daquele da SDCC, que é realizada por uma entidade sem fins lucrativos. Lá na Califórnia, a presença de marcas externas ao universo da cultura pop é discreta, limitando-se a ações pontuais espalhadas pela cidade, com pouca representatividade dentro do pavilhão.
Um guia para as marcas
Em entrevista à coluna, Otávio Juliato, chefe criativo da Omelete Company, esclarece que existe um trabalho em conjunto com essas empresas "não endêmicas", que são de fora do entretenimento. Para ele, é necessário participar da conversa com o fã durante todo o ano, e não apenas durante um festival de quatro dias.
"É importante que exista um alinhamento de valores com o que a comunidade promove e abraça", explica o Bruxo, como é conhecido. "Atuamos como um farol para apontar a melhor maneira para essas marcas estarem aqui, para entrarem na conversa e se conectarem".
Não dá para simplesmente cair de paraquedas em um evento que celebra a comunidade, como um festival de cultura pop. Sempre tivemos essa preocupação. Otávio Juliato, CCO da Omelete Company
De acordo com o executivo, o público que visita a CCXP é diverso, com múltiplas necessidades em suas vidas — desde comprar uma cerveja até fechar um financiamento imobiliário —, com quem as empresas querem dialogar. "E se a marca não tiver um fit, construímos junto com ela".
Bruxo explica que existe um manual de boas práticas para a experiência no pavilhão, ajudando os expositores. Além disso, auxiliam na construção da narrativa dessa participação — com ações que ocorrem no restante do ano, seja nas redes sociais ou no mundo físico, sendo transformados em ativações nos estandes. "A CCXP tem ajudado algumas marcas, há alguns anos, a saírem do 'storytelling' [contação de histórias] para irem para o 'storydoing' [a vivência dessas histórias]".
Juliato acredita que essas parcerias ajudam a levar a CCXP para outros ambientes, com outras comunidades - e, pelo lado financeiro, viabilizarem que o evento exista dentro das proporções que tomou.
De quadrinhos a cerveja sem álcool
Uma das grandes companhias presentes no festival paulistano este ano é a Claro. Além de patrocinar o palco principal com a marca Claro tv+, a empresa conta com um estande de 180 m². A parceria com começou no ano passado. "Em um mercado competitivo e disputado, precisamos estar presentes nos eventos mais relevantes e aderentes à estratégia da Claro", afirma Ane Lopes, diretora de Marketing, Branding e Comunicação.
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Quero receberEm seu espaço, a operadora irá contar com ativações — como são chamadas as atividades de interação com o público — em parceria com o streaming Max, por exemplo. "Nosso público-alvo dentro da CCXP é a geração Z. Os 'gen Z' são hiperconectados e estão sempre antenados buscando as melhores oportunidades de compra, consumo e experiência", explica Ane.
Seguindo a lógica de consumo promovida pelos organizadores, a Claro está lançando uma edição especial de seu pacote que combina conexão 5G com o streaming Crunchyroll, especializado em animações japonesas, oferecido a um preço promocional.
Outro "forasteiro" é o Banco do Brasil. Para a instituição, "a CCXP é um evento de cultura pop, o maior festival do mundo, que se conecta com alguns territórios em que o Banco transita, como tecnologia, esporte e cultura", conta Mauricio Toledo, executivo de promoção e patrocínio.
Este é o segundo ano do BB no São Paulo Expo. O banco ocupa um estande grande, com 540 m², incluindo uma ativação que simula um santo de cinco metros de altura e até um "flash tattoos" (tatuagens) para quem é cliente. E, sim, os visitantes poderão emitir um cartão de crédito exclusivo.
Mais uma presença que pode parecer inusitada é a da Heineken 0.0, a versão sem álcool da bebida, lançada em 2017. "Cultura e entretenimento são pilares essenciais da estratégia de marketing da Heineken, que busca integrar-se de maneira autêntica a eventos e comunidades que geram impacto emocional e criam conexões genuínas com seus consumidores", diz Bruna Rosato, gerente de marketing da bebida no Brasil. Para a executiva, o destaque no público-alvo é a comunidade gamer, "que representa uma forte interseção com o lifestyle promovido pela marca".
Também em seu segundo ano na CCXP, a Heineken, já conhecida nos festivais musicais, agora terá exclusividade na venda de cervejas alcoólicas e não alcoólicas.
Mais espaço para os pequenos
Ao abrir lugar para grandes patrocinadores, a CCXP enfrenta um dilema de espaço: comportar os pequenos expositores, que não possuem as mesmas verbas milionárias. Afinal, mesmo deixando de lado o "Comic Con", são eles que (ao lado dos quadrinistas independentes) também fazem esse tipo de festival ser o que é.
Por isso, o Omelete abriu no ano passado uma nova área: a Magic Market. Com temática medieval, o local abre espaço para os lojistas menores. "É também uma área de experiência e imersão", contou Maíra Quagliato, head de Produto CCXP na Omelete Company, durante a Unlock.
Já para este ano, a novidade é o Palco Omni - que, nas palavras dos organizadores, é mais "intimista", com espaço para editoras de quadrinhos, autores, masterclasses e até com troca de dicas sobre como trabalhar na indústria de HQs dos EUA. Tudo isso lembra justamente a programação da San Diego Comic-Con.
Resultados em alta
Se os expositores ficam felizes com as oportunidades que o festival proporciona, o mesmo pode ser dito para a Omelete Company.
Na edição de 2023, foram 287 mil pessoas presentes — para 2024, são esperadas 300 mil pessoas. No ano passado, foram 20.490 empregos diretos e indiretos gerados, movimentando R$ 900 milhões na economia de São Paulo (R$ 547,3 milhões diretamente). Em média, cada visitante gastou R$ 930, sem contar a alimentação.
Não é por menos que, nas palavras do Omelete, a CCXP se firmou como um dos quatro grandes eventos anuais da capital paulista, ao lado de The Town, o GP de Fórmula 1 e o Lollapalooza.
Eles só precisam continuar mantendo feliz o seu maior e mais valoroso bem: o público.
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