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Opinião

Vencedores de 2024: Disney, Netflix e o audiovisual brasileiro se deram bem

Estamos naquela época do ano em que a voz de Simone ressoa em nossas cabeças, transformando versos em algo mais próximo de uma cobrança do que de votos de fim de ano: "Então é Natal, e o que você fez? O ano termina, e começa outra vez".

O cenário não é muito diferente no mundo do entretenimento, com empresas e profissionais reavaliando os resultados de 2024 para planejarem o que vem por aí. Envolto nesse espírito de encerramentos e ainda digerindo o peru devorado na noite natalina, esta coluna de Splash lista, a seguir, três dos grandes vencedores do ano.

(Ou que venceram apesar de tudo).

Disney

O ano não foi um dos mais fáceis para o grande conglomerado de mídia fundado por Walt Disney. Porém, em meio a uma Hollywood que patina, o estúdio fecha 2024 com um bom saldo positivo.

Em termos de cinemas, a companhia emplacou os dois únicos longas-metragens que superaram a barreira de US$ 1 bilhão de bilheteria global, com "Divertida Mente 2" (US$ 1,68 bi, ou R$ 10,2 bilhões) e "Deadpool & Wolverine" (US$ 1,33 bi, ou R$ 8 bilhões). "Moana 2" também foi uma grata surpresa, já acumula US$ 729 milhões (R$ 4,4 bilhões) até o fechamento deste texto e pode, sim, chegar nesse mesmo clube bilionário.

'Divertida Mente 2' foi a maior bilheteria do cinema mundial em 2024
'Divertida Mente 2' foi a maior bilheteria do cinema mundial em 2024 Imagem: Divulgação/Disney

Não acabou: "Mufasa: O Rei Leão", o prelúdio do clássico, tem potencial para adicionar alguns bons dólares.

A Marvel Studios, que faz parte do conglomerado, teve um importante respiro com menos lançamentos, mesmo que por conta dos reflexos das greves de 2023. "Deadpool & Wolverine", ainda que seja um ponto fora da curva justamente por jogar com a nostalgia de uma geração, aponta também que a tão comentada "fadiga de super-heróis" é mais sobre falta de criatividade do que necessariamente sobre o nicho em si.

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No streaming, este também foi um ano bom, com a Casa do Mickey fazendo de vez a transição para o mundo digital. Sozinho, o Disney+ alcançou 122,7 milhões de assinantes. Somado ao Hulu, que opera apenas nos EUA, e ao Disney+ Hotstar, que só existe na Índia, são quase 210 milhões. Em termos globais, perde apenas para Netflix, que está em 282 milhões de lares. Há ainda os "200 milhões de espectadores mensais" que a Amazon afirma ter no Prime Video, mas é um comparativo mais difícil de fazer.

Em termos financeiros, o faturamento cresceu 14% no ano fiscal, enquanto o lucro operacional reverteu um prejuízo de US$ 387 milhões (R$ 2,3 bilhões) para um lucro de US$ 321 milhões (R$ 1,9 bilhão).

Com tudo isso, apesar de uma certa volatilidade, o valor das ações da empresa na Bolsa de Nova York está fechando o ano com um ganho acumulado de 20%. Investidores ativistas, que pretendiam ter voz nas decisões da Disney, também recuaram.

Ainda assim, há muitos desafios por vir. O mercado de TV por assinatura, que já foi uma grande fonte de receita, está minguando — no Brasil, o grupo informou que praticamente sairá desse ramo em fevereiro, mantendo apenas a ESPN. Já a emissora aberta norte-americana ABC está vendo um declínio na receita e em telespectadores.

O setor de parques e experiências também enfrenta os seus próprios percalços, crescendo menos do que outras áreas.

Olhando o copo "meio cheio", Mickey tem motivos para sorrir neste final de 2024. O desafio, porém, será saber se ele realmente resolveu os problemas ou apenas os empurrou com a barriga, escondendo a sujeira do balanço debaixo do tapete.

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Netflix

A Netflix enfrentou tempos difíceis, mas mostrou que é possível se reinventar.

Com a ressaca da pós-pandemia, a empresa precisou enfrentar a perda de espectadores e a desconfiança dos investidores. Adotou, a partir de 2022, uma série de medidas para conter essa queda. Entre elas, passou a cobrar pelo compartilhamento de senhas, lançou planos com anúncios e foi atrás de esportes ao vivo.

Tudo isso deu frutos em 2024. A Netflix alcançou 282 milhões de assinaturas e, de longe, venceu a tão comentada guerra do streaming. Tanto é que, a partir de 2025, vai se dar ao luxo de não divulgar mais quantos membros possui. Agora, quer que o pessoal de Wall Street olhe para métricas 100% financeiras, turbinadas pela publicidade.

O ano de 2024 representou a entrada definitiva da Netflix no ramo de transmissões esportivas ao vivo
O ano de 2024 representou a entrada definitiva da Netflix no ramo de transmissões esportivas ao vivo Imagem: Matt Winkelmeyer / GETTY IMAGES

No quesito dos esportes ao vivo, a plataforma afirma ter batido 108 milhões de espectadores, sendo 65 milhões simultâneos, durante a noite da luta entre a lenda Mike Tyson e o ex-influenciador digital Jake Paul — se tornando, nas palavras da própria companhia, o "evento esportivo mais transmitido da história". Neste Natal, investiu em dois jogos da NFL, a liga de futebol americano. Em janeiro, inicia a transmissão da WWE, campeonato de luta-livre que mistura artes marciais com entretenimento roteirizado.

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Como nada é perfeito, 2025 já começa com a necessidade da Netflix continuar se provando. Transmissões ao vivo são mais sensíveis a problemas técnicos e atrasos, enquanto a modalidade com propagandas ainda precisa ganhar mais tração com o público e com os anunciantes.

No próximo ano, a grande disputa será pelos orçamentos das grandes empresas do mundo.

Audiovisual brasileiro

Depois de alguns anos de baixo e do impacto da pandemia, a nossa indústria de TV e cinema teve um 2024 para comemorar.

Estamos fechando estes 12 meses com duas grandes notícias. A primeira é o sucesso internacional do filme "Ainda Estou Aqui", que conquistou duas indicações ao Globo de Ouro (Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz) e está na shortlist do Oscar. A campanha de divulgação do longa junto ao eleitorado da premiação, capitaneado por Sony Pictures e RT Features, está sendo muito benfeita, ainda que considerando as limitações de orçamento frente aos outros competidores.

É permitido sonhar.

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O ano termina com o sonho de estatuetas internacionais em 2025
O ano termina com o sonho de estatuetas internacionais em 2025 Imagem: Divulgação/Sony Pictures

No streaming, a minissérie "Senna" representa um grande feito para a indústria nacional. Sim, temos um longo histórico com novelas e até mesmo séries de nível mundial, mas a produção sobre o tricampeão mundial de Fórmula 1 entregou uma qualidade técnica que vai ainda além, no mesmo nível do melhor que é feito em Hollywood e na Europa. Os efeitos especiais, tanto práticos quanto por computação gráfica, podem ser o cartão de visitas para colocar o nosso país definitivamente na rota para mais produções e coproduções internacionais.

Isso sem falar no próprio sucesso de audiência. "Senna" entrou no top 10 global da Netflix para produções em língua não inglesa, chegando a liderá-lo na segunda semana após a estreia. O resultado, considerando a envergadura mundial do protagonista, poderia ser um pouco melhor — inclusive em países como os EUA —, mas é um passo importante.

Além disso, no começo do ano, três longas-metragens nacionais tiveram um impacto positivo no mercado exibidor brasileiro. "Minha Irmã e Eu", "Os Farofeiros 2" e "Nosso Lar 2: Os Mensageiros" levaram o público aos cinemas em um momento de menos ofertas internacionais. No momento em que a indústria norte-americana operava no vermelho, a nossa foi na contramão.

Enquanto esses vencedores colhem os frutos de um ano transformador, outros enfrentam os desafios do mercado. Na próxima semana, na ressaca pós-Réveillon, a coluna retorna com os grandes perdedores e decepções de 2024.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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