IA, fusões e fake news: 5 tendências para mídia e entretenimento em 2025
As últimas duas décadas trouxeram mudanças profundas na indústria do entretenimento e na maneira como consumimos conteúdo —e tudo indica que essas transformações devem se intensificar em 2025. Da aplicação prática da inteligência artificial no cotidiano à fusão (ou até desaparecimento) de gigantes da mídia, o ano promete ser marcado por inovações e reviravoltas.
Mas nem tudo será tão imprevisível assim. Grandes movimentações no mercado podem ser antecipadas, enquanto tecnologias que irão definir o futuro já estão em fase de testes hoje. Estão ocorrendo mudanças que vão moldar não só o mercado, mas também a maneira como nos conectamos ao conteúdo. Com isso em mente, esta coluna de Splash apresenta cinco tendências que estão prestes a transformar o consumo de notícias, filmes, séries e entretenimento em geral.
Nova rodada de fusões e aquisições em Hollywood
O panorama da mídia nos Estados Unidos não terminará o ano com a mesma configuração do início de janeiro. O desejo por consolidação é grande, principalmente em Hollywood.
A Paramount Global, grupo dono da Paramount Pictures e da emissora de TV CBS, está em processo de união com a Lionsgate, assunto já abordado nesta coluna. O negócio depende de questões legais e pode enfrentar a resistência do novo governo de Donald Trump por conta de diferenças do político com a CBS News.
Fora casos pontuais como esse, o "velho novo" presidente é considerado mais permissivo a fusões e aquisições do que o governo Joe Biden, o que pode acelerar esse tipo de movimentação nos próximos quatro anos. A Warner Bros. Discovery, criada pela fusão entre WarnerMedia e Discovery, já estaria explorando possíveis novas parcerias.
Enquanto isso, na TV por assinatura, o grupo Comcast afirmou que, ainda neste ano, irá separar a sua divisão de canais pagos (incluindo MSNBC, CNBC e E!) em uma nova companhia. É possível que a nova empresa percorra o mercado para adquirir emissoras de outros grupos.
No streaming, The Walt Disney Company anunciou logo nos primeiros dias de 2025 que unirá o Hulu + Live TV e o Fubo, assumindo 70% da empresa resultante. Ambas operam no mesmo modelo de negócio, conhecido como vMVPD (distribuidor virtual de programação de vídeo multicanal, na tradução). Trata-se de uma espécie de "TV pela internet", com centenas de canais lineares transmitidos "ao vivo". O acordo não afeta a oferta SVOD (sob demanda e por assinatura) do Hulu, que funciona de maneira similar ao que conhecíamos como Star+ até recentemente no Brasil.
Um dos primeiros reflexos da fusão foi a desistência da Fubo no processo contra o Venu, uma proposta de plataforma de streaming de esportes idealizada pela joint-venture entre Disney, Warner e Fox. Resta saber se, com isso, o projeto finalmente verá a luz do dia.
Outros combos e uniões entre streamers também têm grande chance de saírem do papel. Uma das possibilidades é que Max (da Warner) e Paramount+ passem a oferecer um pacote de assinatura em conjunto, ganhando força na disputa contra Netflix, Prime Video e Disney+.
Nesse último caso, a possibilidade de acessar mais conteúdo por um custo menor é sempre bem-vinda.
Foco nas transmissões ao vivo
As transmissões esportivas ao vivo estão se tornando uma arma cada vez mais relevante, principalmente para os streamings.
Ainda que caros, esses direitos de exibição trazem consigo uma série de vantagens para a plataforma. Além de aumentar a retenção de assinaturas e o tempo médio do espectador, colaboram para a exibição de publicidade de forma mais orgânica no conteúdo.
Depois do sucesso da exibição de duas partidas da NFL (a principal liga de futebol americano) no dia de Natal, a Netflix começou 2025 com a WWE, uma espécie de mistura de luta-livre com entretenimento roteirizado. Nos EUA, o serviço conta com um programa por semana; no Brasil e em outros países, são três.
Enquanto isso, Prime Video, Disney+, Paramount+ e Max continuarão com as transmissões esportivas, principalmente de futebol, na tentativa de aumentar a competitividade e se destacar em um mercado saturado de opções sob demanda. No YouTube, iniciativas como CazéTV e o Canal GOAT contam com dezenas de horas semanais de conteúdo ao vivo.
Até mesmo iniciativas que surgiram no mundo analógico, como o Premiere, migraram para o online. Hoje, o canal do Grupo Globo pode ser assinado de forma independente ou como um adicional dentro do Globoplay e da plataforma da Amazon.
A tendência é que, durante 2025, outros contratos de licenciamento esportivo passem para a internet.
Busca por novas formas de monetização do conteúdo
Outra revolução, que já está ocorrendo, é na forma como o conteúdo chega aos leitores e espectadores.
Por décadas, publishers da internet investiram em um formato baseado em um ciclo virtuoso. A produção de textos otimizados para o Google e outros buscadores atraía leitores, que acessavam o site e geravam receita ao serem impactados por publicidade.
Contudo, o Vale do Silício está investindo pesado em inteligência artificial generativa, entregando respostas para as perguntas sem a necessidade de se entrar em qualquer página.
A corrida agora é por novas formas de monetização dentro dessa realidade. Paywalls e modelos de assinatura devem se intensificar, enquanto produtores de conteúdo vão precisar encontrar formas de se destacar frente a uma enxurrada de textos, áudios e vídeos criados em escala industrial por IAs.
Uma tendência, dentro do jornalismo, é uma personalização ainda maior para fazer frente ao noticiário genérico, criando conexão e credibilidade junto ao público. Formatos como vídeo e áudio possuem mais espaço para brilhar.
Conteúdo personalizável a partir de IA
No final de 2024, a Netflix patenteou nos EUA uma tecnologia que tem tudo para ser revolucionária. Chamada de "Métodos e sistemas para fornecer ativos de mídia personalizados compostos dinamicamente", a inovação permite uma nova forma de exibir vídeos para o espectador.
De acordo com o documento, a intenção é que os trechos do conteúdo sejam rearranjados e exibidos de forma dinâmica e personalizada, "provendo uma forma customizada de apresentar o item de mídia". A aplicação, ao menos de acordo com a proposta, seria em trailers.
Ou seja, cada espectador —a partir do seu comportamento pregresso dentro da própria plataforma— poderá ser impactado por diferentes prévias. Quem assiste a mais filmes de ação veria as explosões em destaque, enquanto quem engajar mais com romance seria apresentado ao relacionamento dos protagonistas, por exemplo.
Na prática, trailers são peças publicitárias para a divulgação de um filme ou série, com estúdios e canais identificando o público-alvo e definindo peças de acordo com essa estratégia. Com essa nova ferramenta, a Netflix poderia rearranjar o mesmo conteúdo para criar infinitas possibilidades de divulgação.
A empresa não se pronunciou oficialmente sobre a patente, nem quando (ou se) pretende colocar a iniciativa em prática. Porém, ver os primeiros testes do gênero ainda em 2025 não aparenta ser uma possibilidade muito distante.
Esse pode ser apenas o começo. Afinal, o mesmo conceito pode ser utilizado em comerciais mais tradicionais, de produtos de consumo e serviços. No futuro, até mesmo os próprios filmes e séries podem ser customizados de forma individual, a partir do gosto de cada um. Inclusive, já existem pesquisas nesse sentido, por parte de outras empresas.
Fica apenas a dúvida: será que este é um caminho que realmente queremos seguir?
Redes sociais menos sociais
Nesta semana, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou a flexibilização da moderação nas redes sociais da empresa: Facebook, Instagram, Threads e WhatsApp. Entre outras medidas, será adotado um modelo parecido com o do X (antigo Twitter), com notas da comunidade. A companhia já sofria críticas sobre a forma como lidava com conteúdos extremistas ou mentirosos, algo que deve se intensificar.
Para além das questões políticas (Zuckerberg, no vídeo do anúncio, fez uma sinalização clara para o novo governo Trump), a medida deverá ter grande impacto no que acessamos diariamente dentro desses sites e apps.
Com uma moderação menos contundente, postagens que levem à discussões acaloradas —incluindo fake news— devem ganhar mais relevância, já que tendem a trazer mais engajamento, o que alimenta algoritmos. Até mesmo as próprias notas da comunidade podem se tornar campo de batalha entre diversas vertentes políticas, como ocorre nos locais onde a iniciativa está sendo aplicada. Combinada à IA, as implicações dessa mudança são imprevisíveis.
Caso isso ocorra, existe a possibilidade de anunciantes e influenciadores se afastarem dos serviços da Meta, repetindo o cenário vivido pelo Twitter sob Elon Musk. Paralelamente, grupos e personalidades que utilizam discurso de ódio ou adotam a chamada "pós-verdade" (em que o apelo emocional e a crença possuem maior peso do que os fatos) vão certamente aproveitar a oportunidade para crescerem ainda mais.
No final, pode ganhar força o movimento das redes sociais como plataformas de consumo de conteúdo que busca modelar a opinião pública, e menos sobre a conexão saudável entre pessoas.
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