Tendência da vez entre os "patriotas": queimar livros de Paulo Coelho
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A tendência agora entre os brasileiros mais exaltados é queimar livros. Ao menos é o que tem nos indicado vídeos que começam a circular no Twitter. O alvo da vez são as obras de Paulo Coelho, que despertou a fúria de patriotas por seu olhar crítico ao governo de Jair Bolsonaro.
O próprio Mago postou o vídeo de um ex-leitor colocando fogo numa antiga edição de "O Alquimista", livro de 1988, e dizendo: "Queima, Paulo Freire". Depois o piromaníaco se corrige: "Paulo Freire, não, Paulo Coelho, mas o Paulo Freire também merece ser queimado".
Mas é um outro vídeo que está fazendo mais barulho. Nele, um casal de idosos despedaça um exemplar de "Veronika Decide Morrer" e queima cada página arrancada em uma churrasqueira. A dupla chama o escritor de "lesa-pátria" e reclama que ele mora na Suíça, não em Cuba ou na Venezuela.
Paulo Coelho se manifestou no próprio Twitter:
A queima de livro remete ao ritual de destruição de livros pelo fogo, e geralmente indica uma oposição cultural, religiosa ou política ao material em questão. A queima de livros pelo regime nazista em 10 de maio de 1933 é o mais famoso da história.
O escritor tem sido uma voz atuante na denúncia do que o governo de Jair Bolsonaro está promovendo. Recentemente, Paulo pediu para que países boicotassem as exportações do Brasil por conta do autoritarismo religioso em ascensão.
No ano passado, o escritor disse saber que perderia leitores, mas que não poderia ficar calado diante de um país em esfacelamento e que caminha para o "mesmo clima de terror" da ditadura. A entrevista está aqui.
Sobre o ataque aos livros, recordo de um poema de Bertolt Brecht, alemão que precisou fugir de seu país durante o regime nazista. Em "A Queima de Livros" ele tratou da truculência daqueles que torram obras. A tradução é de André Vallias e está no livro "Poesia" (Perspectiva) - escrevi a respeito.
Quando o regime ordenou que todos os livros
Com informação nociva fossem queimados, e por toda
Parte forçaram bois a puxar carroças com livros
Para a fogueira, um poeta escorraçado, um dos melhores
Descobriu estarrecido, examinando a lista dos
Incinerados, que os seus haviam sido
Esquecidos. Ele voou para a escrivaninha
Enfurecido, e escreveu uma carta aos donos do poder.
Incinerem-me! escreveu com a pluma alada, incinerem-me!
Não façam isso comigo! Não me deixem para trás! Porventura
Não relatei sempre a verdade em meus livros? E eis
Que agora vocês me tratam como um mentiroso! Eu ordeno:
Incinerem-me!
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