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Nobel de Literatura: os favoritos nas casas de apostas e as minhas torcidas

Maryse Condé - Arquivo
Maryse Condé Imagem: Arquivo

Colunista do UOL

06/10/2020 09h51

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Maryse Condé, de Guadalupe, território francês no Caribe, é a favorita. A russa Lyudmila Ulitskaya está em segundo lugar, enquanto o japonês Haruki Murakami está em terceiro. Completam os cinco primeiros postos da lista a canadense Margaret Atwood e o queniano Ngugi Wa Thiong'o.

No Nicer Odds, site que agrega tendências das casas de apostas, são esses os principais cotados para levar o Prêmio Nobel de Literatura deste ano, honraria que deverá ser anunciada na próxima quinta, dia 8. Vale para fazer um auê, nada muito além disso. Não costuma ser fácil entender a cabeça dos membros da Academia Sueca e prever quem escolherão para o galardão - ou alguém cravou a dobradinha Peter Handke e Olga Tokarczuk que rolou no ano passado?

Em todo caso, é uma boa surpresa encontrar Maryse liderando as apostas. Negra, ligada a movimentos feministas, professora emérita de francês e filologia românica na Columbia University e autora de uma obra em que questiona atrocidades cometidas ao longo do colonialismo e pós-colonialismo, parece ser um nome em consonância com discussões das mais importantes do nosso tempo. Seu "Eu, Tituba: Bruxa Negra de Salem", publicado por aqui no ano passado pela Rosa dos Ventos em tradução de Natalia Borges Polesso, vem ganhando comentários emocionados de muitos leitores brasileiros.

A russa Lyudmila Ulitskaya também aparece como novidade nesse top 5 das apostas. Já os outros três nomes são figuras recorrentes dentre os cotados.

Há poucos dias, o Jornal Rascunho pediu para que eu indicasse meus favoritos. Ponderei: na impossibilidade de entrar na mente dos jurados, apontaria minhas torcidas. O primeiro nome foi de Margaret Atwood, autora de "O Conto da Aia", que passa por pontos deste presente distópico em que estamos metidos; seria uma escolha tão óbvia quanto valiosa para as nossas trevas. Thiong'o também entrou na breve lista; é ele que incorpora o meu desejo de ver o Nobel de Literatura voltando para a África. Sempre espero que africanos e latino-americanos recebam os louros e a bufunfa. Como são paulino, entretanto, alerto: minha torcida está mais desvalorizada do que o real.

E se há uma "não torcida", essa é para Murakami. Nada contra o corredor e fã de jazz, que me parece ser gente boa. Apesar de a sua literatura ter virtudes, soa aquém da qualidade imaginada quando falamos em alguém que mereça o prêmio. Mas nem é por isso que torço contra o japonês; vez ou outra a Academia escolhe mequetrefes. O Nobel para Murakami representaria o fim da eterna presença do cara entre os favoritos. Perderíamos uma piada. Não teríamos mais o eterno vice, o Vascão da Literatura. Entre o prêmio para o autor e a tiração de sarro literária (já um tanto desgastada, é verdade), a decisão é fácil.

Outros nove nomes completam o top 10 da Nicer Odds. A canadense Anne Carson está em sexto. O espanhol Javier Marías, em sétimo. O sul-coreano Ko Un, em oitavo. O chinês Yan Lianke, em nono. E a francesa Annie Ernaux, a chinesa Can Xue e os estadunidenses Cormac Mc Carthy, Don de Lillo e Marilynne Robinson dividem o décimo posto. Respeito todos, não solto rojão por nenhum.

Em outras posições da lista, já bem menos cotados, ainda gostei de ver a ruandesa Scolastique Mukasonga (essa renderia festa por aqui), o tcheco Milan Kundera, por quem tenho alguma simpatia, e Stephen King, que dispensa apresentações. Um eventual Nobel para King renderia boas discussões para a próxima década.

Como também renderia muita discussão um Nobel para outro autor presente na lista da Nicer Odds e que também tem a minha torcida: Michel Houellebecq. Poucos delinearam tão bem dilemas e a ruína moral de nossos dias quanto esse francês que se vende como uma persona abjeta. Parece que de tempos em tempos os suecos precisam premiar alguém da França, então, se já honraram até o insosso do Patrick Modiano, que chegue logo a hora de Houellebecq.

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