Com livros inéditos, Coleção Vaga-Lume volta a emitir alguma luz
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De tempos em tempos, a Vaga-Lume volta a emitir sinal de luz e mexe com o saudosismo de seus muitos fãs. Há alguns anos, leitores que cresceram lendo romances como "A Turma da Rua Quinze", de Marçal Aquino, "Deu a Louca no Tempo", de Marcelo Duarte", "A Ilha Perdida", de Maria José Dupré, "O Mistério do Cinco Estrelas", de Marcos Rey, e "O Escaravelho do Diabo", de Lúcia Machado de Almeida, comemoraram adaptações cinematográficas, puderam comprar edições repaginadas e se preocuparam com os boatos de que a coleção chegaria ao fim após a editora Ática ser reformulada pelo grupo Somos Educação.
Agora, a série criada no início dos anos 1970, cujos cento e tantos títulos já venderam mais de 8 milhões de exemplares, volta dar sinal de vida com o que lhe consagrou: a publicação de histórias originais. É algo que não acontecia desde o final da década de 2000, quando "Morte no Colégio", de Luis Eduardo Matta, e "O Mestre dos Games", de Afonso Machado, chegaram aos leitores.
O título que marca o (ainda tímido) novo alumiar é "Ponha-se No Seu Lugar!", primeiro livro juvenil de Ana Pacheco, doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP. Para falar sobre o lançamento, a escritora conversará com Luiz Puntel, autor de "Meninos Sem Pátria", e com o mítico editor Jiro Takahashi, idealizador da coleção, numa live que acontecerá no final da tarde desta quarta, dia 28 — aqui mais informações.
Em "Ponha-se No Seu Lugar", Ana estabelece diálogo com "O Nariz", clássico do russo Nikolai Gógol, para contar uma história que passa por questões como sexualidade e a construção da identidade dos jovens. No romance o leitor acompanha Lucas, garoto que vê seu próprio nariz ganhar vida e fazer sucesso entre os colegas da escola onde estuda. Caberá ao rapaz, claro, dar um jeito de colocar o fujão de volta em seu lugar.
Numa narrativa que se passa sobretudo num colégio frequentado pela elite paulistana, a crítica social também está presente. "Para a autora, é como se certos disparates cotidianos, naturalizados no dia a dia, fossem tão inverossímeis que precisassem de uma narrativa absurda para representá-los", lemos num dos textos do volume que explicam o que motivou o romance. Ao trazer o nariz de Gógol para o Brasil contemporâneo, Ana busca "chamar a atenção para o que consideramos 'normal' em uma sociedade. Em um país como o Brasil, fatos inimagináveis como a desigualdade social gritante, as injustiças de todos os tipos, a morte da população pobre, negra, diversa repetem-se cotidianamente. No entanto, aconteça o que acontecer de horrível, tudo permanece oficialmente 'dentro da mais perfeita ordem', evidentemente sem que a 'democracia' responda pelo nome".
Além de "Ponha-se No Seu Lugar", outro título está sendo trabalhado pelos editores da Vaga-Lume: "Os Marcianos", de Luiz Antonio Aguiar, ficção científica ambientada em Marte que toca em temas como censura, agorafobia e a reclusão dos jovens. A previsão é que a obra chegue às livrarias entre o final deste ano e o começo de 2021. Mais trabalhos estão em análise, mas a Ática não tem previsão para outros lançamentos, muito menos para alguma regularidade nas novidades.
Depois de "Ponha-se No Seu Lugar" e de "Os Marcianos", a ver quando (e se) a Vaga-Lume voltará a emitir sinal de luz.
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