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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Livro da Juliette, livro da Jout Jout, livro para pintar e outros fenômenos

Juliette e o livro de Miguel Ruiz - Arquivo
Juliette e o livro de Miguel Ruiz Imagem: Arquivo

Colunista do UOL

19/05/2021 08h44

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Sei lá o que colocaram na água dos brasileiros em 2015. Quase que do dia para a noite, centenas de milhares de pessoas, talvez alguns milhões, acordaram com a necessidade de pintar. Andavam de saco cheio, cansados de tanta tecnologia, estressados, diziam, e colorir mandalas ou bosques surgia como o grande caminho para momentos de calmaria.

Em semanas, "Jardim Secreto", de Johanna Basford (Sextante), e seus pares venderam tanto que as gráficas penaram para suprir as demandas das editoras. Logo surgiram variáveis mais ousadas, como o "Suruba Para Colorir" (Bebel Books). A busca por caixas de lápis de cor foi tamanha que elas desapareceram do mercado. Meia dúzia de meses depois, voltamos a alguma razoabilidade. Há anos que ninguém entra numa livraria e se depara com uma pilha de livros para colorir.

O fenômeno, que veio de fora e pegou forte no Brasil, alastrou-se por aqui de forma um tanto difusa. Talvez tenha sido a maior febre que já presenciei desde que lido com o mercado editorial. Recordo, contudo, de corridas tresloucadas por títulos pontuais.

Em 2018, um vídeo da youtuber Jout Jout fez milhões de pessoas descobrirem que amavam o "A Parte que Falta", infantil do norte-americano Shel Silverstein. Nele, um ser semelhante a uma pizza desfalcada de uma das fatias perambula por aí atrás do pedaço ausente. Na andança, cheira flores e troca ideia com minhocas, cenas que levaram muitos internautas às lágrimas. Pouco tempo depois do vídeo ir ao ar, o livro publicado pela Companhia das Letras já liderava listas dos mais vendidos.

Efeito praticamente igual acontece agora com "Os Quatro Compromissos - O Livro da Filosofia Tolteca - Um Guia Prático Para a Liberdade Pessoal" (BestSeller). O livro de autoajuda do guru mexicano Don Miguel Ruiz foi catapultado à liderança das vendas da Amazon no Brasil depois de ser indicado pela ex-BBB Juliette em uma transmissão ao vivo pelo Instagram.

E tome correria na editora para aumentar a tiragem e antecipar a edição com nova capa que estava prevista para chegar às livrarias no dia 7 de junho. A aposta óbvia é que muito mais gente se interessará por lições como "seja impecável com sua palavra", "não leve nada para o lado pessoal", "não tire conclusões" e "dê o melhor de si".

Voltando a 2018, Jair Bolsonaro se colocou involuntariamente como influenciador da área. Durante a corrida presidencial, ao ser entrevistado no Jornal Nacional, o candidato falou bobagens sobre o "Aparelho Sexual e Cia - Um Guia Inusitado Para Crianças Descoladas", de Zep e Hélene Bruller. O livro virou o grande assunto do momento e provavelmente suas vendas só não explodiram no dia seguinte às sandices ditas porque a obra publicada pela Companhia das Letras estava esgotada. Aproveitando a brecha, teve sebo pedindo R$230 por um exemplar.

De uns tempos para cá, quem vem se destacando nessa área é o também youtuber Felipe Neto. Desde que passou a compartilhar suas leituras com os milhões que lhe seguem, vira e mexe acaba por pautar discussões, choradeiras e melindres especialmente no Twitter. Nomes como Machado de Assis, Franz Kafka e Noam Chomsky já ganharam muita atenção após comentários de Felipe. Seria bom se esses autores também arrebentassem nas listas dos mais vendidos.

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