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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Juan Rulfo: Caminhos para desvendar o inesgotável autor mexicano

Colunista do UOL

02/07/2021 09h15

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Na 86ª edição do podcast da Página Cinco:

- Papo com o jornalista Alan Riding sobre Juan Rulfo, autor de "Chão em Chamas" e "Pedro Páramo", ambos relançados pela José Olympio com tradução de Eric Nepomuceno.

Alguns destaques da conversa:

País para os exilados

O México era um país, naquele momento, com um partido único. Era um sistema político, não um governo. Era uma espécie de burocracia política que governava e circulava o poder por todos os clãs que existiam. Mas parte da imagem era de um país revolucionário, então abriam as portas aos exilados sobretudo da América do Sul. Chegavam um grande número de chilenos, brasileiro, uruguaios. Isso era muito importante para manter a imagem de porta aberta para a América Latina, o que ajudava a criar a ideia de ser um lugar de esquerda, progressista.

O segredo

Nos meus estudos na universidade, na Inglaterra, nunca se falava de Juan Rulfo. Só estando no México, já depois da explosão de García Márquez com "Cem Anos de Solidão", que começamos a perguntar de onde vinha aquela coisa misteriosa, que não era realista, não era surrealista. Aí começo a ouvir falar de Juan Rulfo, Juan Rulfo. De repente, Juan Rulfo era um segredo, alguém que existia mas talvez não existisse.

Sacerdotes enforcados

Quando cheguei no México, estava numa recepção. Um amigo me indicou um senhor. Disse que era um general que enforcava sacerdotes. E meu amigo dizia isso com certa admiração. Enforcar sacerdotes no México, em certa época, era algo positivo, porque a igreja era algo negativo. Mesmo que Rulfo não tenha vivido isso, ele viveu o que veio depois.

Interior mexicano

O Rulfo não era uma pessoa da Cidade do México. O mundo dele, sobretudo imaginativo, era lá no interior. Os contos de "Chão em Chamas" dão uma certa ideia de desespero permanente, repressão, morte. Não são contos difíceis de ler.

Qual é a história?

Pode se dizer que o mundo de "Pedro Páramo" é o mesmo de "Chão em Chamas", mas ele dá umas voltas incríveis. Teoricamente, "Pedro Páramo" é um romance. Não vou contar a história porque é impossível, ninguém está de acordo quando o outro conta.

Morte permanente

Você entra nesse mundo das mortes, das memórias das mortes, e vai encontrando todo o mal feito por Pedro Páramo, esse latifundiário que rouba terras, rouba as meninas, todo mundo tem medo dele. É muito difícil descrever. Há o desespero e a morte não é o final. E, vendo os personagens desse livro, você pensa: que pena para eles que a morte não é o final. É uma espécie de morte permanente.

Dimensão mítica

Pouco a pouco Rulfo se tornou espécie de Shakespeare mexicano. Muita gente falava de "Pedro Páramo", "Chão em Chamas" e Rulfo sem ter conhecido muito, sem ter entrado na complexidade do que era a sua literatura.

Tem que ler

Temos que admitir, "Pedro Páramo" é um livro difícil. É um livro que qualquer escritor ou estudante de literatura tem que ler. É um pouco como "Ulysses" ou "Finnegans Wake", do Joyce, ou o Céline. Tem que conhecer o que é. A primeira leitura é como ir a uma festa enorme onde não conhece ninguém, você não sabe o que fazer, mas sabe que já chegou em um lugar importante.

Entrada

"Chão em Chamas" é duro, mas é uma entrada para entender aquele mundo. É uma espécie de chave que permite entrar no mundo que é o "Pedro Páramo".

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