Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Livro 'fast-food' de Gil do Vigor é candidato a pior leitura do ano
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Memória é um gênero delicado para se trabalhar. Ao colocar no papel momentos importantes da própria vida, cabe ao protagonista elaborar essas passagens com detalhes, apresentar nuances, mostrar como elas impactaram na sua trajetória e de que forma dialogam com o mundo no qual está ou esteve inserido.
Leva tempo para que o dono das memórias que serão contadas selecione as passagens principais, veja quais são as secundárias que merecem espaço e encontre a linha narrativa, o tom e o foco da história como um todo. É uma boa orbitar no entorno de alguns temas centrais.
Depois, convém que se distancie dessa versão inicial, deixe decantar o texto, reflita longe do papel sobre as escolhas. Pense nos principais assuntos expostos e avalie se não vale a pena buscar informações ou perspectivas que agreguem valores ao que irá se tornar, enfim, um livro. É um processo que precisa de tempo.
"Tem que Vigorar!" (Globo Livros) chegou aos leitores poucas semanas após Gil do Vigor sair do "BBB 21", programa que fez o economista famoso em todo o país. O texto do livro não disfarça que estamos diante de uma obra feita às pressas. Ao longo das páginas, o leitor passa voando por temas que poderiam sim render algo tão interessante quanto pertinente (machismo, homofobia, violência paterna, abandono, miséria, importância da educação, a vida da comunidade LGBTQIA+ nas igrejas) e encontra apenas recordações pouco elaboradas que descambam em discurso motivacional e lições de moral.
"Como me aceitei, venci na vida e realizei meus sonhos", subtítulo da obra, já dá ao leitor uma ideia do que o espera: algo que oscila entre a autoajuda e as balelas de coach tão na moda nesses tempos. Superação, perseverança e fé (é Deus para tudo que é lado) são três elementos exaustivamente martelados na cabeça de quem encara o livro. O tal vigor se confunde com afobação.
A linguagem muitas vezes burocrática, cheia de lugares-comuns e bordões forçados, deixa a leitura ainda mais desanimadora. O tom das passagens, o exagero de fotos e a participação da mãe do ex-BBB como uma das narradoras dão ao livro uma cara de "Arquivo Confidencial", aquele do Faustão. Essa impressão se confirma com inesperadas e dispensáveis intervenções de Xuxa e Deborah Secco. São puxadas de saco que contribuem somente para a imagem em construção de Gil.
Livro fast-food, com cara de que foi feito para agradar os fãs mais deslumbrados e para ajudar a fortalecer ainda mais a figura de um dos principais influencers do país no momento, "Tem que Vigorar!" desponta como uma das piores leituras do ano. Mas cumpre o seu papel. Já aparece em listas dos mais vendidos e talvez renda alguns bons números para a planilha da editora, o que é importante. Logo será esquecido. Jogo que segue.
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