Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
A imensidão de 'Grande Sertão: Veredas' - papo com Eloar Guazzelli
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Na 88ª edição do podcast da Página Cinco:
- Papo com Eloar Guazzelli Filho, que, com Rodrigo Rosa, levou para os quadrinhos "Grande Sertão: Veredas", clássico de Guimarães Rosa (Quadrinhos na Cia).
- O Ocupa FIG e a Flipoços 2021.
- "Elvis & Madona", de Luiz Biajoni (Bazar do Tempo/ Storytel), "Madame Xanadu", de Aureliano (Editora Companhia Nacional), e "Depois de Tudo Tem uma Vírgula", de Elizabeth Cardoso (Patuá), nos lançamentos.
Alguns destaques da entrevista:
Monumento universal
Tem livros que você tem medo de reler, porque talvez não parem mais em pé. O que não tira o encanto lá de trás. Essa releitura me trouxe duas conclusões: é uma das maiores obras da literatura universal, não só brasileira. É um tratado geral sobre o Brasil, ele tem camadas, me lembrou o "Dom Quixote" na estrutura. O "Grande Sertão" tem histórias maravilhosamente inacreditáveis no meio, além da narrativa principal. Agora, tem uma outra questão: você tem que se permitir entrar. Se você se permite entrar, é uma experiência inacreditável.
Paixão pela literatura
Nós, como país, temos uma geração muito educada tecnicamente, mas tem muita gente que ilustra livro sem ler livro. Tem que ter paixão pela literatura. Eu tenho paixão pelos livros. Vi uma entrevista do Bolaño que salvou a vida. Minha ex-mulher dizia "quanto livro, você não vai ler tudo isso". O Bolaño dizia: eu namoro meus livros. Eu tenho livro de passear. A coisa que mais me angustia são essas casas que não têm um livro.
Potência
"Grande Sertão" foi transformador para reafirmar algo que é óbvio: a grandeza. Mas que é uma grandeza transcendente, que ultrapassa só a questão do gosto pessoal. O desafio era: o que eu posso trazer de novo? Eu saí desse livro como uma pessoa mais potente como alguém que adapta, transcreve. E também mais consciente do peso dessa literatura, que tem uma densidade absurda de entendimento desse nosso país louco.
Paralelo com este Brasil
Entende pelo lado da violência, da brutalidade. Mas temos que ter um certo cuidado. Dentro daquela brutalidade, que chamo de brutalidade ecológica, aqueles sujeitos têm uma ética interna rigorosa, que não é fantasiada. Eles não têm essa brutalidade cínica. Essa brutalidade pós-moderna, urbana, mafiosa, ela é cínica. Não para em pé. Não tem um código interno de um sujeito que é capaz de morrer para provar alguma coisa. Os bandidos sociais não têm essa ética, porque eles querem se safar. Aqueles caras brutos, se algum deles se dá conta de que errou, ele se entrega ou se mata.
Quadrinhos
Essa discussão me deprime. O quadrinho é sempre julgado pela sua versão vulgar. É uma discussão que não faz o menor sentido, mas temos que ter muita paciência. O quadrinho é uma linguagem que se impõe por ela mesma. Você não vai entender o século 20 sem os quadrinhos. A gente julga o quadrinho pelos quadrinhos mais "vulgares", como se a gente fosse julgar o cinema pelos filmes do Chuck Norris.
Quadrinistas injustiçados
O quadrinho e os quadrinistas são grandes injustiçados. Essas liberdades que estão sendo ameaçadas foram conquistadas pelos quadrinhos. Os quadrinistas fizeram a luta contra a ditadura lá atrás. Mesmo quando o quadrinho surge mais anárquico, bagaceira, quando ele chuta o balde, ele está deixando os meus filhos mais livres.
Paraíso aqui
Num país com uma autoestima tão baixa, os quadrinistas são pessoas que dão orgulho. Nós temos aqui um dos maiores times de humoristas, desenhistas, criadores gráficos. Estamos sempre recomeçando, reinventando. Esse pessoal tem um lugar no céu, mas a gente quer o paraíso aqui. E essa geração nova é incrível.
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