Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Ressaca das Olimpíadas? Hora de ler uns japoneses
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Sou contra o fim das Olimpíadas de Tóquio. Mas, já que insistem nisso, paciência. Gosto bastante do pouco que conheço da literatura do Japão. De lá que saíram dois vencedores e meio do Nobel da área: Yasunari Kawabata, Kenzaburo Oe e Kazuo Ishiguro (o meio é este daqui; apesar de ter nascido em Nagazaki, Ishiguro cresceu e se fez escritor na Inglaterra). Aproveitando essa ressaca olímpica, lembro de alguns autores que valem a pena.
A bandeira de Yoko Ogawa eu levanto há tempos. Indiquei em 2017 os seus "O Museu do Silêncio" e "A Fórmula Preferida do Professor". As narrativas da escritora, que domina o manejo do insólito, causam estranhamento ao mesmo tempo em que nos cativam. Há pouco a Estação Liberdade, que vem publicando os livros dela por aqui, lançou "A Polícia da Memória". Este nos faz pensar sobre o apagamento do passado e do esvair de tudo aquilo que nos torna humanos. São alguns os paralelos possíveis de se estabelecer entre esse bom romance e o nosso país estraçalhado.
Yoko Ogawa já foi finalista de importantes prêmios internacionais e é uma autora de bastante sucesso no Japão. São deixas que levam a dois dos autores mais badalados daquela terra em nossos dias: Haruki Murakami e Sayaka Murata.
Eterno candidato ao Nobel que nunca vence, em certas mesas de boteco há quem aponte Murakami como uma espécie de Vasco da literatura. Encarar os livros do cara esperando encontrar uma obra que explicite o alardeado merecimento ao principal prêmio literário não é um bom caminho - o mesmo vale para qualquer outro autor em situação semelhante, as chances de o leitor se frustrar são sempre gigantescas. Lido sem a expectativa de deslumbramento, no entanto, títulos como "Sono" e "O Assassinato do Comendador" divertem. No Brasil, ambos saem pela Alfaguara.
Com pouco mais de 40 anos, Sayaka Murata é a autora da vez no Japão. Seu festejado "Querida Konbini" deve estar próximo da marca de 1 milhão de exemplares vendidos por lá e, traduzido para cerca de 20 idiomas, fez algum sucesso em outros países. Aqui no Brasil, inclusive, onde saiu também pela Estação Liberdade. Na história, uma mulher que parece se encontrar no mundo somente enquanto trabalha numa loja. Confesso que a prosa não me envolveu e acabei largando o livro logo, mas conheço leitores confiáveis que gostaram bastante de Sayaka. Há pouco, um novo livro dela chegou por aqui: "Terráqueos".
Ainda na pegada do Nobel que, no caso, nunca veio mesmo, Yukio Mishima pode ser uma boa escolha para esses dias pós-Olimpíadas. "Confissões de Uma Máscara", "O Templo do Pavilhão Dourado" e "Cores Proibidas" são três dos títulos mais respeitados do escritor que nutria um patriotismo destrambelhado e que deu fim à própria vida com uma espadada na barriga, após uma tresloucada tentativa de golpe de estado.
O ritual com o qual se matou já tinha sido levado para a ficção de Mishima no bom conto "O Patriotismo", publicado pela Autêntica num box, acompanhado de um longo perfil do autor. Ainda que com toques trágicos, mas bem mais leve e divertido, temos "Vida à Venda" (Estação Liberdade, de novo), romance de quando Mishima levantava uma grana escrevendo folhetins para revistas. Apesar de menos prestigiado, é um livro que vale o tempo de leitura (escrevi sobre ele há pouco).
Das HQs, se tenho a chance de indicar o terno e triste "O Cão Que Guarda As Estrelas", de Takashi Murakami (JBC), eu indico. "O Homem Sem Talento", de Yoshiharu Tsuge (Veneta), vai a fundo em frustrações e no retrato da miséria. Já "Ayako", de Osamu Tezuka (Veneta), é um primor sobre tradições e grandezas alicerçadas em enormes podridões. Caso a ideia seja só dar um passeio de longe pelas ruas da cidade que recebeu as Olimpíadas, as ilustrações de "100 Vistas de Tóquio", de Shinji Tsuchimochi (Estação Liberdade), são uma simpatia.
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