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Página Cinco

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Formas de prolongar o luto

Colunista do UOL

20/08/2021 09h57

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Na 91ª edição do podcast da Página Cinco:

- Papo com Noemi Jaffe, que acaba de lançar "Lili - Novela de um Luto" (Companhia das Letras).

- Paula Hawkins na TAG.

- "Domingo", de Ana Lis Soares (Instante), "O Sol dos Dias", de Taylane Cruz (Penalux), e "Gente Alemã", org. Walter Benjamin (Nave), nos lançamentos.

Alguns destaques do papo com Noemi:

Amor

Nesse caso, é praticamente um livro de amor. Nem é sobre o amor, é um livro de amor mesmo.

Sobrevivente do Holocausto

Minha mãe gostava que conhecessem a história que ela tinha vivido. Ela pensava que isso ajudaria a impedir a repetição da tragédia.

Necessidade da escrita

Não houve a ideia, houve só a necessidade. Não foi uma escrita que seguiu um projeto. Foi quase que uma extensão do meu corpo, uma extensão da minha dor. Foi uma forma de fixar a minha dor. Eu tive um desejo de manter a dor. Não queria que a dor entrasse num processo necessário e natural de esquecimento. Não escrevi para me curar, escrevi para permanecer doente. É uma coisa estranha falar isso, mas não queria que o luto entrasse numa roda, no seu ciclo necessário de esquecimento. Sentia que se eu esquecesse, iria me distanciar dela.

História real

Cada um dê o rótulo que quiser. Não é um livro ficcional, não. Tudo que está lá é realmente o que eu estava sentindo, o que aconteceu com ela, a história da vida dela, das relações familiares. Está tudo lá com os mesmos nomes, as mesmas pessoas.

Mãe

É uma palavra muito onomatopaica. Quase como se fosse uma expressão de delícia, uma expressão de hospitalidade, de recepção. Isso que eu quis dizer com a palavra perfeita: parece que o som e o significado se encaixam perfeitamente.

A morte concreta

Foi bem grande a diferença entre a expectativa da morte, às vezes até o desejo da morte para que ela pudesse parar de sentir dor, parar de sofrer, e a morte concretamente. Dois, três dias antes dela morrer, ela nem se mexia mais, nem falava mais nada. Mesmo assim, o fato dela não reagir mais, de não apertar mais minha mão quando eu apertava a mão dela, foi muito chocante. Ainda é.

Luto na pandemia

Eu já não sabia mais por quem chorar. Se pelas pessoas que estavam morrendo. Se pelo país que está morrendo. Se por ela.

Sentimentos

Não acho que o trabalho técnico diminua o sentimento. Nem acho que escrever sentindo o que você está escrevendo te torna menos técnico. Para mim, passar por esse trabalho de revisão, construção, cuidar da escrita, das frases, pode fazer com que o sentimento fique ainda mais perceptível para o leitor. É uma forma respeitosa de tratar o sentimento que pode ter uma contundência maior até.

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