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Ricardo Lísias, nossa catástrofe e o ano do 'genocídio escancarado'
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Na 92ª edição do podcast da Página Cinco:
- Papo com Ricardo Lísias, que acaba de lançar "Diário da Catástrofe Brasileira - Ano II: Um Genocídio Escancarado" (Record).
- "No Útero Não Existe Gravidade", de Dia Nobre (Penalux), "O Coração em Outra América", de Evanilton Gonçalves (Paralelo 13S), e "O Último Processo de Kafka", de Benjamin Balint (Arquipélago), nos lançamentos.
Alguns destaques do papo com Lísias:
Pseudônimo Eduardo Cunha X Prêmio SP
Já tive uma questão anterior com a curadoria do Prêmio São Paulo, quando queriam que eu entregasse o RG do Eduardo Cunha. Expliquei a situação para os curadores, e acabei desclassificado via Diário Oficial.
Sem normalização
Não posso instalar nenhum tipo de debate com a extrema direita. Isso é algo de que esses dois livros falam. Eles defendem a hipótese de que não se pode permitir a presença desse tipo de fundamentalista na nossa vida cotidiana. Isso não pode ser normalizado. Essas pessoas não podem fazer parte de instâncias da vida comum. São pessoas que ajudam a engrossar o caldo que levou ao genocídio.
O que fizeram?
Desde que o governo nazifascista atual tomou posse, muitas das pessoas que propiciaram que ele tivesse essa ascensão não só se arrependeram, como fizeram bastante coisa para combater o erro. A questão é com as pessoas que nada fizeram, que fizeram apenas um pequeno rebranding nas suas colocações para que o seu passado fosse esquecido, sem que nada fosse corrigido.
Conservadorismo na literatura
O que há é uma prevalência de uma espécie de realismo envelhecido, romances com começo, meio e fim, uma espécie de chapabranquismo já colocado. Há exceções, evidentemente, mas o establishment, como grupo, é adesista. Há uma luta muito grande para que não se tenha tensão no meio. É bastante diferente do que ocorre na Argentina, por exemplo.
Chacinas
Eu acho que ela é formadora do Estado brasileiro. No segundo volume, tento fazer uma espécie de genealogia das chacinas que o Brasil viveu. Há uma, por exemplo, em Canudos, no século 19. Foi promovida pelo exército e ficou sem punição. A violência contra classes sociais mais baixas é formadora do Estado brasileiro. A diferença é que com esse governo ela se tornou uma violência escancarada, à luz do dia.
Dia a dia da catástrofe
É um trabalho muito desagradável de se fazer. Muito difícil. Por outro lado, me faz refletir sobre muitas das questões em que tenho mesmo pensado. Então, não é necessariamente algo só muito pesado. Mas é algo que gostaria que encerrasse amanhã.
Tensão
O trabalho artístico não é, necessariamente, uma oferta de conforto. Nem para quem cria nem para quem recebe. Nunca acreditei nisso. Nunca foi exatamente tão simples para mim, não haveria de ser agora. Só não precisava ser tão desagradável.
Educação e professores
Tenho a impressão de que os professores formam a categoria que mais sofre com a ascensão da extrema direita. Eu queria lidar com essa categoria.
Arte para novos modelos
A arte vai criando e oferecendo novos modelos, novas propostas de organização, quando é uma arte nova. É preciso algum tipo de trabalho reflexivo e imaginativo para que se imagine novas formas de organização social. E isso passa também por um trabalho de educação. E digo educação formal, na escola mesmo.
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