Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Paulo Freire, 100 anos: pensador superará os que nutrem 'amor à morte'
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"A opressão, que é um controle esmagador, é necrófila. Nutre-se do amor à morte e não do amor à vida".
A citação está em "Pedagogia do Oprimido" (Paz e Terra), livro mais famoso de Paulo Freire. É simbólico que o educador tenha sido um dos alvos apedrejados por Jair Bolsonaro e seu rebanho durante a ascensão da extrema direita no país. Sem jamais disfarçar o amor à morte, o presidente que hoje carrega às costas centenas de milhares de fins evitáveis provocados pela pandemia de Covid-19 chegou a vociferar: entraria com um lança-chamas no Ministério da Educação para tirar Paulo Freire de lá.
Não é uma novidade. Na década de 1960, Freire já havia sido perseguido pelos fardados e pelos lambe-coturnos. Durante a ascensão da ditadura civil-militar, foi "considerado um inimigo de Deus e da pátria, um bandido terrível", como lembrou em 1994 numa entrevista ao jornal Folha de São Paulo.
Mas obtusos passam, relinchos ou mugidos uma hora voltam a rarear e as ideias de Paulo Freire, que podem sim ser questionadas, mas com alguma razoabilidade, seguem. E não só no Brasil. Suas propostas para alfabetização, horizontalidade nas relações e compartilhamento de saberes são estudadas, debatidas e aplicadas em dezenas de países pelo mundo. Assim foi, assim será.
Freire morreu em 1997. Se estivesse vivo, o educador, que nasceu no Recife, teria completado 100 anos ontem, dia 19. Para celebrar a data, o Itaú Cultural acaba de inaugurar em sua unidade da avenida Paulista, em São Paulo, a Ocupação Paulo Freire, que poderá ser visitada até o dia 5 de dezembro. Para quem está longe ou segue se precavendo de aglomerações, parte do material está disponível no site da mostra.
Cerca de 140 peças compõem a exposição, formada por fotografias, vídeos, instalações interativas e fragmentos originais de livros, cartas e poemas escritos por Freire. O material foi dividido em quatro partes que focam em diferentes momentos da vida do pensador: Formação, Angicos (cidade potiguar onde maturou seus métodos de alfabetização), Exílio (perseguido pelos militares, viveu fora do Brasil entre 1964 e 1980) e Retorno (aqui, o legado de Freire para a educação mundo afora também é esmiuçado).
Para complementar a Ocupação, haverá também uma programação paralela com papos virtuais, ações educativas e uma série de podcast dividida em 6 partes que irão ao ar no dia 18 de outubro. Daqui, o último episódio merece atenção especial. Promete ser muito bom o papo entre os educadores e pesquisadores Walter Kohan, autor de "Paulo Freire Mais do que Nunca: Uma Biografia Filosófica" (Vestígio), e Sérgio Haddad, que publicou em 2019 "O Educador, um Perfil de Paulo Freire" (Todavia).
Como a exposição, o livro de Sérgio é uma boa para quem deseja conhecer melhor a trajetória, compreender a importância do estudioso e, eventualmente, reavaliar a própria(?) posição em relação a Paulo Freire. São movimentos importantes para fazer com que o nome do pensador seja tratado da forma como merece ser por tantos brasileiros que resolveram achincalhá-lo sem nem saber muito bem o porquê, ecoando a estupidez de sinistros que nutrem o amor à morte.
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