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Página Cinco

REPORTAGEM

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O poeta Renato Russo

Colunista do UOL

01/10/2021 04h00

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Na 97ª edição do podcast da Página Cinco:

- Papo com a pesquisadora Julliany Mucury, autora de "Renato, O Russo" (Garota FM) - aqui a campanha no Catarse. As leituras de partes da obra de Renato Russo foram feitas por Tamy Ghannam, do Literatamy.

Alguns destaques do papo com Julliany:

Poesia na música

A própria poesia é tão melódica. A gente está falando de rima, de encadeamento, de sonoridade. Como é que a gente não brinca nas fronteiras das coisas?

Renato Russo, personagem de Manfredini Jr.

O Renato criou um personagem mesmo. Ele cria um cara. E quando você começa a assistir a entrevistas dele, você vê esse cara se desmontando o tempo todo: impostação vocal, o jeito como ele respondia os repórteres, se ele ia com a cara do repórter ou não, a docilidade com as pessoas.

Utopias frustradas

O mais doloroso, pra mim, foi perceber uma coisa que o Carlos Marcelo [biógrafo de Renato Russo] fala: Brasília e o Renato nasceram em 1960, e Brasília e o Renato são utopias frustradas.

Renato hoje?

Uma certeza eu tenho: ele não seria um babaca moderno. Definitivamente, não.

Pessoa, Mann, "Bíblia", Camões?

Ele gostava muito dos heterônimos do Fernando Pessoa. "A Montanha Mágica" é uma influência óbvia pra ele. Agora, é interessante de a gente pensar na influência judaico-cristã do Renato. A "Bíblia" era uma referência muito constante... Ele lia Camões. Ele lia os clássicos. Ele gostava de sonetos... É extremamente curioso ver como o Renato se debruçava nas coisas. Ele não estava para brincadeira.

Legado

Sempre fico muito chateada, para não usar outra palavra, quando as pessoas menosprezam o Renato. Chamam de brega, cafona, minimizando o legado dele... Antes de falar, você tem que prestar atenção nas letras. É inegável o legado que esse cara deixou. O mínimo de respeito você tem que ter.

Uma vida

É um movimento de onda. O Renato escreve a vida de um sujeito completa. No "Legião Urbana", no "Dois" e no "Que País é Este" são as letras que ele já tinha, é um jovem. No "Descobrimento do Brasil", "A Tempestade" e "Uma Outra Estação" é o fechamento de um caminho. No meio dessa vida, a gente quando está lá pelos 30 anos, experimentando de tudo, tem "As Quatro Estações", o "V" e o "Música p/ Acampamentos".

Bobinha?

Todas as letras são interessantes de serem pensadas e analisadas. E aí fui na contramão: quis pegar todas as que as pessoas falavam assim "nossa, mas que letra bobinha" e falar um pouco "pera aí, mas bobinha pra quem? Quando ele escreveu isso e por que ele escreveu isso?".

Olhar que o Renato merece

Num congresso, um cara da plateia, que era meu amigo, falou assim: "Você tornou o Renato maior do que ele é". E eu falei: "Então fiz um bom trabalho. Porque estou trabalhando só com as coisas que ele escreveu. Você está olhando para o Renato pela primeira vez como ele merece".

Mal banalizado

Gosto muito dessa agressividade de "Perfeição". Ela é uma canção toda trabalhada na ironia, no duplo, no sarcasmo. Ele quer celebrar o que não se celebra, quer celebrar a morte. Aí você vê coisas sendo ditas de maneira tão leviana, tão banal, que tenho que falar da Hannah Arendt, da banalização do mal. Porque o mal está banalizado. A gente fala coisas tão absurdas de um jeito tão corriqueiro, saem coisas de bocas que você fica tão chocado pensando que aquilo é real. Fico muito curiosa pensando como seria a repercussão disso na cabeça dele.

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