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O encontro de Guimarães Rosa e 'Os 3 Porquinhos' com nossas tragédias
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Na 106ª edição do podcast da Página Cinco:
- Papo com João Luiz Guimarães e Nelson Cruz, vencedores do Prêmio Jabuti de Livro Infantil e de Livro do Ano com "Sagatrissuinorana" (ÔZé).
Destaques do papo com João e Nelson:
Origem em Guimarães Rosa
João: Esse nome parte de "Sagarana" e eu encaixei no meio um "trissuino", que são "Os Três Porquinhos". Com isso estou fazendo uma referência que era muito roseana, de brincar com vocábulos de origens diferentes.
Lama que toma Guimarães, o lobo, os porquinhos
João: Já tinha tido Mariana e a gente estava muito próximo do desastre de Brumadinho. Eu estava com as imagens daquela lama vindo, aquele indizível daquele horror que se repetia, que a gente vê, vê, vê. Ficava imaginando o que as crianças devem sentir em relação a isso. Esse indizível do destruidor, da morte. Aí pensei: isso é mais do que o lobo, isso engole o lobo. Isso atravessa tudo. Então isso me atravessou mesmo. A lama invadiu o meu texto.
Imagens que já estavam em si
Nelson: A válvula que fez isso brotar, explodir, foi ler o texto. Aquilo brotou. Essa era a parceria que eu esperava para poder colocar essas ideias de uma forma poética, de denúncia. De levar um pouco de arte também. Para contar isso, tenho que amenizar, colocando cores e tais. Fazer com que seja bonito. Com que o olhar do leitor, seja o leitor jovem, adulto, infantil, tenha um descanso enquanto faz a leitura visual.
Camadas
João: O que está no texto também tem essa camada. Essa dimensão da ficção encontrando a não ficção. São duas camadas que estão presentes: a da notícia, do fato, da história concreta e a da fábula... Acho interessante, nesse momento, a gente também trazer a não ficção para o universo infantil. A gente associa muito a infância com a ficção. Mas a não ficção também tem um papel muito importante.
Nelson: Eu entendo que as leituras podem conduzir a uma porta aberta, sempre. O leitor pode ir ao final e voltar, interpretar algo do texto e interpretar outra coisa da ilustração. Aprendi muito isso com os cartunistas dos anos 70, quando eles faziam principalmente cartuns sem texto. Isso é vital na minha formação de leitor de imagem: a independência. E os cartunistas faziam muito isso como forma de combater a ditadura... O texto me provoca não para eu segui-lo, mas para criar outra coisa.
Infantil sem ser infantiloide
João: Sempre acreditei numa literatura infantil que não seja infantiloide. Que não subestima a inteligência da criança, que desafia a ir além. Que provoca... Que seja instigante. Me interessa trazer perguntas.
Nelson: Acho que os abobalhados aí são os adultos, que estão perdendo uma oportunidade imensa. O que está vindo no livro ilustrado hoje é uma oportunidade visual única. Há livros que você pode fazer investigações filosóficas, materiais, ao mesmo tempo em que você pode dialogar com a criança. Fazer essa travessia.
Sem receio de ser político
Nelson: A gente não pode ter receio de ser político no livro para o público jovem. Nós temos que jogar essas pílulas. Quando não tiver temas políticos, fazê-los. É um momento muito importante que estamos vivendo agora. Essa ultra direita está ocupando espaço justamente porque as pessoas não estão pensando... Nós temos que pensar isso. Colocar esses temas na mesa dos editores.
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