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Página Cinco

REPORTAGEM

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Chico Felitti e as histórias silenciadas do mundo LGBTQIA+

Colunista do UOL

18/02/2022 04h00

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Na 112ª edição do podcast da Página Cinco:

- Papo com Chico Felitti, que lançou há pouco "Rainhas da Noite" (Storytel).

- Vanessa Passos vence a 6ª edição do Prêmio Kindle de Literatura.

- A campanha Espalhe Lima.

- "Estudo Sobre o Fim - Bangue-bangue à Paulista", de Paula Fábrio (Reformatório), e "Rê Tinta e o Pé de Jamelão", de Estevão Ribeiro (Nova Fronteira), nos lançamentos.

Destaques do papo com o Chico:

Jacqueline Blábláblá

Nasceu de um sussurro. Muita coisa pra mim nasce de um nome. O "Rainhas da Noite" nasceu do nome da Jacqueline Blábláblá. Por causa do ofício e por causa de interesse pessoal, converso muito com travestis, mulheres trans e homens gays já de certa idade, de 70, 80 anos. Sempre nessas conversas com pessoas essenciais da noite de São Paulo ali dos anos 1970 falavam da finada Jacqueline Blábláblá.

Poder à margem

A grande questão desse livro foi não só contar essa história, mas mostrar a história e por que ela não foi contada até hoje. Está aqui porque você não sabia que algumas travestis chegaram a ter 12 apartamentos em São Paulo, andar de limusine, ter arma, mandar matar. Um poder que você nunca imaginaria que uma pessoa num grupo tão marginalizado pela sociedade poderia ter. E parte muito de por que a gente conta algumas histórias e não conta outras histórias, por que algumas pessoas ganham uma biografia e outras não ganham.

Silenciamento histórico

Quando essas pessoas morriam, nem no jornal elas saíam. Mesmo sendo riquíssimas, poderosíssimas... Nem processadas elas eram, nem B. O. tinham direito, de tão marginalizadas.

"Ricardo e Vânia"

Eu não queria fazer esse livro. Por muito tempo eu não quis. O primeiro contrato que assinei com a Todavia não era a continuação da história do Ricardo, que era conhecido como Fofão da Augusta. Eu não queria mais mexer nessa história. Pra mim, o perfil que saiu no Buzzfeed estava de bom tamanho. Tinha medo de cair numa lógica de exploração. Fui procurado por produtora de tevê que queria fazer um documentário com ele, trancar numa casa e levar as famosas que ele tinha feito cabelo e maquiagem para encontrá-lo naquele estado em que estava.

Viver de escrita

Eu escolhi tentar viver disso. Escolhi não ter um emprego na imprensa, que é onde eu tinha trabalhado até o lançamento de "Ricardo e Vânia". Escolhi tentar viver de escrever. Pra isso, preciso publicar mais ou menos um livro por ano, imagino, e fazer outras coisas. O que me salvou um ano da pandemia foi escrever um livro para uma empresa farmacêutica.

Margem x centro

Eu gosto da margem, não gosto do centro. Não gosto de trabalhar no centro. Eu não prestaria para escrever esses perfis (excelentes, inclusive) da Piauí sobre, sei lá, o presidente da Câmara. Não me interessa quem está no poder, me interessa quem está muito longe do poder - ou quem esteve muito longe do poder, como no caso de João de Deus, que tinha acabado de cair do poder.

Universo LGBTQIA+

A vida tentou que eu não escrevesse sobre isso. Sofri homofobia num jornal em que trabalhei. Já ouvi autor muito famoso dizendo: 'Que legal, seu primeiro livro é sobre o universo LGBTQ. Não escreva outro, ou você vai ser considerado um autor que só consegue escrever sobre o universo LGBTQ'. Foi difícil conseguir oportunidades para publicar.

Público de fora do universo dos livros

A maior parte dos brasileiros se sente intimidada com livros. Esse é o público que mais me interessaria, se eu pudesse escolher. Queria ser lido pelas pessoas que leem muito pouco porque têm medo de livro. Pra mim, fazer um livro curto, o mais divertido possível, objetivo, potente e barato é o ideal. Quanto mais conseguir ser conciso e chegar em mais gente, maior a alegria... Talvez por não ser uma pessoa do universo dos livros, gosto de jogar do lado de quem não é do universo dos livros também.

Estética x fluidez

Tendo a escrever de uma maneira muito coloquial. Me esforço para escrever da maneira mais coloquial e fluida possível. Entre a estética e a fluidez, fico com a fluidez. Entre a pessoa ler o livro até o final e sair desse livro sentindo alguma coisa e a pessoa ler o livro e ser arrebatada a cada duas linhas ou a cada parágrafo, prefiro que a pessoa termine o livro.

Debruçado sobre crimes

Está muito na moda história de crime. Então, estou investigando duas histórias de crime completamente distintas. Uma vai ser livro e podcast ao mesmo tempo, a outra será só podcast... Uma é um crime histórico que eu mesmo não conhecia, da elite, que nunca foi resolvido. E a outra é a história mais louca que já cruzei, é até difícil de definir, que começa com o interesse por uma pessoa que está em situação de rua e termina sendo um crime internacional.

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