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REPORTAGEM

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Literatura holandesa: um país além do bolinho de maconha

Colunista do UOL

25/02/2022 04h00

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Na 113ª edição do podcast da Página Cinco:

- Papo com Daniel Dago, tradutor de literatura holandesa.

Destaques do papo com o Daniel:

Universo holandês

O brasileiro, quando pensa na Holanda, já pensa direto em maconha, em coisas bem estigmatizadas. A Holanda tem bem mais do que isso... Na literatura holandesa há muitas coisas que o brasileiro não sabe, realmente não sabe. Sobre a colonização da Indonésia, por exemplo... O universo da literatura holandesa é grande. E se pegarmos os países de língua holandesa, aumenta muito mais.

"Tirza" como porta de entrada

O Arnon Grunberg [autor de "Tirza"] é uma boa. Eu o comparo ao Ricardo Lísias. Ele gosta bem da polêmica, da controvérsia. Ele é, provavelmente, o autor holandês mais famoso da idade dele dentro e fora da Holanda. Ele acabou de ganhar o prêmio holandês equivalente ao Camões.

"Max Havelaar", de Multatuli

Seria o equivalente ao Machado ou Euclides da Cunha [para a literatura brasileira]. Ele era político. Na época, a Indonésia era colônia holandesa e os políticos iam para lá para ajudar os indonésios. O cargo que tinha era de assistente residente, porque o residente era o indonésio. Era um cargo mais ou menos como o de vice-governador. Ele foi lá e começou a ver toda a podridão do sistema. Os holandeses foram muito cruéis com os indonésios, e os indonésios também foram muito cruéis com o próprio povo. O Multatuli foi ficando cada vez mais revoltado e escreveu esse livro.

Bomba de Multatuli

Ele já tinha saído do governo. Quando o livro foi lançado, já se sabia que um ex-assistente residente estava escrevendo um livro-bomba sobre o governo. Quando sai, vira best-seller. Foi o livro mais vendido da literatura holandesa no mundo até a chegada de Anne Frank. A importância dele seria mais ou menos como a de "Dom Quixote" para a Espanha. Ele vai narrar de uma forma muito satírica, muito cruel, com uma mistura de muitos gêneros literários.

Além da literatura

["Max Havelaar"] é um livro muito importante porque extrapola tudo. É importante literariamente, historicamente e politicamente. Ele extrapola o romance e vai para outras áreas do conhecimento.

Obsessão com a colonização

Os argentinos são obcecados pela ditadura. Comparo isso com a Holanda. Os holandeses são obcecados com a colonização. Há muito disso na literatura.

"O Amigo Perdido", de Hella Haasse

["O Amigo Perdido"] é sim uma boa porta de entrada. A Haasse é a principal escritora holandesa do século 20. Seria o equivalente aqui à Clarice em termos de importância; o texto não tem nada a ver... "O Amigo Perdido" é uma ótima introdução a esse tema [a colonização da Indonésia].

Três inícios possíveis

"O Amigo Perdido", porque ele vai tratar da colonização de maneira bem fácil, bem simples, mas de maneira muito gostosa de ler. "A Erva Amarga", da Marga Minco, é um livro também pequeninho sobre a fuga da autora, que foi a única sobrevivente da família dela [na Segunda Guerra]. E o "Contos Holandeses", que é uma boa porta porque são 18 autores que vão de 1839 a 1939.

Quem está na foto da arte desta edição do podcast é a escritora Hella Haasse, autora de "O Amigo Perdido" (Rua do Sabão).

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