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Lygia Fagundes Telles e a literatura como caminho para melhorar as pessoas
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"[A literatura] pode melhorar [as pessoas], sim. Pode desviar do vício, da loucura. Pode estancar a loucura por meio do sonho. Eu tenho um impulso, que talvez seja um impulso cristão, pelo próximo. Eu tenho vontade de servir ao próximo, verdadeiramente. E a literatura me proporciona isso. E o que eu faço, acredito, com o máximo de competência que me é possível e com amor, com paixão, acaba chegando, de algum modo, ao outro". Lygia Fagundes Telles deu esta declaração em depoimento concedido ao Cadernos de Literatura Brasileiras (CLB), do Instituto Moreira Salles, em edição que a homenageou. A escritora continuará podendo melhorar os outros, contudo, a partir de agora, exclusivamente por meio de sua obra.
Autora de grandes títulos da literatura brasileira, como os romances "Ciranda de Pedra" e "As Meninas", Lygia foi uma verdadeira colecionadora de prêmios. Dentre os muitos, destacam-se quatro Jabutis, mesmo número de vezes que levou o da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). Em 2005, recebeu o Prêmio Camões, um dos mais importantes da literatura em língua portuguesa, pelo conjunto de sua obra, pela qual também foi agraciada como Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB), em 2001. Muito antes disso, desde 24 de outubro 1985, já era a ocupante da cadeira número 16 da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Sobre seu trabalho, o crítico literário Antonio Cândido afirmou: "A obra de Lygia Fagundes Telles realiza a excelência dentro das maneiras estabelecidas de narrar. Mas ela sabe fecundá-las graças ao encanto com que compõe, à capacidade de aprender a realidade pelos aspectos mais inesperados, traduzindo-a de modo harmonioso".
Os elogios também são compartilhados por outro importante crítico brasileiro: "O híbrido é mais fascinante porque, diante do exame mais exigente do leitor, não o conduz à verdade do mundo, não o conduz à mentira dos seres fictícios. Lygia ensina que a intriga ficcional tem de ser engenhosamente derrapante na troca com o leitor. Ela é gesto de disponibilidade e de oferta. Se a intriga ficcional se entregar ao leitor exclusivamente como verdade ou exclusivamente como mentira, ela morre. Ao convidar o leitor a esquivar-se da verdade e da mentira, a narrativa híbrida de Lygia leva-o a perder o sentido da direção unívoca e a derrapar para a análise do corpo do narrador e dos personagens, para a leitura de sua pele", escreveu Silviano Santiago para o mesmo CLB.
Ciranda de Pedra
Lygia nasceu em São Paulo, em 19 de abril de 1923. Filha do advogado Durval de Azevedo Fagundes - homem que gostava de frequentar casas de jogos e que levava sua filha a esses ambientes crente de que ela lhe traria sorte na roleta - e da pianista Maria do Rosário de Azevedo, cresceu vivendo em cidades pequenas e médias do interior do seu estado natal. Adorava ouvir histórias, principalmente de terror. Antes mesmo de ser alfabetizada, já as contava e recriava, mudando as versões a cada vez que as revisitava. Quando aprendeu a escrever, julgou importante começar a registrá-las em seus cadernos.
De volta à capital paulista, em 1941 Lygia ingressou na Escola Superior de Educação Física. Depois entra na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, onde conheceu o jurista e professor Goffredo da Silva Telles Junior, com quem viria a se casar em 1950 e teria um filho, Goffredo Telles Neto. Mais tarde, Lygia se divorciaria e casaria com o ensaísta e crítico de cinema Paulo Emilio Salles Gomes, que falece em 1977.
Em 1938, a escritora publicou seu primeiro livro, "Porão e Sobrado", uma reunião de contos com edição bancada pelo pai. O segundo título, viria apenas em 1944: "Praia Viva", outra coleção de contos, este sim lançado por uma editora. Após a consagração literária, Lygia se indisporia (era essa a palavra que usava) com esses dois trabalhos. Argumentava que ficava aflita ao pensar que novas gerações de brasileiros leriam aqueles livros que, em sua opinião, não tinham importância. Gostaria que não perdessem o tempo com eles, mas sim com suas outras obras.
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