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REPORTAGEM

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Betty Milan e a luta para colocar um ponto final na vida com dignidade

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

27/05/2022 04h00

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"Preciso morrer na hora que me parecer necessário. Se possível, com a ajuda do médico. Mas, pela lei, nós temos que viver mesmo sem querer. A vontade é considerada secundária. Mesmo quando a vida é um estorvo... quando nos tornamos mortos-vivos e só aceitamos continuar por medo. Uma lei que não é respeitada por ser justa, e sim por ser lei".

Lemos isso num momento de "Heresia - Tudo Menos Ser Amortal", o novo romance de Betty Milan (Record). Um pouco mais adiante, outro trecho que merece ser destacado:

"Os holandeses querem legalizar a pílula da morte, o Drion, para os que não estão doentes mas desejam ir embora. Com a pílula, seria possível se suicidar sem doença. Não seria mais preciso usar arma de fogo ou se defenestrar. O fim dependeria só da compra do medicamento na farmácia. Nada é mais civilizado do que isso".

"Heresia" toca num tema que permanece como tabu em nossa sociedade, apesar de discussões a respeito já avançarem em outros cantos do mundo: a morte assistida, o suicídio não violento, a eutanásia. História permeada por elementos autobiográficos, na obra acompanhamos Lúcia, mulher que precisa cuidar da mãe após a senhora de quase cem anos levar um tombo e se machucar com gravidade.

É a derrocada física e mental da idosa que serve de pretexto para um texto que passa por questões como a indústria da medicina, o questionável prolongamento de vidas em determinadas situações e a forma como a cultura ocidental lida com a finitude. O livre-arbítrio e o limite entre o viver e o existir são outros pontos que permeiam o trabalho de Betty, psicanalista que já assinou colunas em diversos grandes veículos de nossa imprensa e que tem uma vasta obra ficcional. "Heresia" faz par com "A Mãe Eterna", livro de 2016 no qual já havia tocado em questões semelhantes.

Se Albert Camus dizia que o único problema filosófico verdadeiramente sério é o suicídio, tratar do direito de dar cabo de forma digna da nossa própria vida e da vida daqueles que amamos é um assunto que merece muita atenção e debates francos, abertos. Por isso que convidei a Betty para o papo que vocês ouvem no podcast.

A foto de Betty usada na divulgação do podcast foi feita por Lailson Santos.

O podcast do Página Cinco está disponível no Spotify, na Apple Podcasts, no Deezer, no SoundCloud e no Youtube.

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