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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Os pedaços de boa literatura em um livro pensado para grandes amigos

Village Tavern, de John Lewis Krimmel - Reprodução
Village Tavern, de John Lewis Krimmel Imagem: Reprodução

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

13/07/2022 04h00

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"Agora que boa parte da literatura nos chega aos pedaços, especialmente sob forma de citações, este livro adquire uma curiosa atualidade".

Numa época de tantos fragmentos literários circulando pelas redes sociais, é oportuna a observação da escritora e ensaísta Laura Erber na quarta capa de "O Livro dos Amigos". Publicada pela primeira vez em 1922, a obra reúne citações, aforismos e tiradas de pensadores como Balzac, Heráclito, Voltaire, Baudelaire, Pascal e Schopenhauer costurados por reflexões e máximas escritas pelo dramaturgo austríaco Hugo von Hofmannsthal, ao mesmo tempo autor e organizador do título lançado agora pela Âyiné (tradução de Karina Janini).

Arte, amor, amizade, política, relações humanas e diversos outros aspectos da vida estão presentes no volume gestado por Hofmannsthal ao longo de mais de década e pensado como um agrado às pessoas próximas. "O Livro dos Amigos" tem menos este nome pelo que o leitor encontra dentro dele e mais pela forma como foi bolado. Desde o início do projeto, a ideia do autor era ter uma obra para presentear os camaradas mais íntimos, aqueles que também conseguissem reconhecer o valor das máximas de gigantes do pensamento ali reunidas.

É um livro que tem seu sabor, ainda mais numa época de literatura aos pedaços, como Laura escreve. Deixo aqui alguns desses fragmentos pescados por Hofmannsthal para "O Livro dos Amigos":

Autor x público

"A maior consideração que um autor pode ter por seu público é nunca lhe oferecer o que dele se espera, e sim o que ele mesmo, sempre de acordo com o grau de formação própria e alheia, considera correto e útil" - de Goethe.

Fome de gerações

"A perenidade só é prometida aos escritores capazes de oferecer algum alimento às sucessivas gerações, pois cada geração carrega uma fome diferente" - de André Gide.

Ignorância dogmática

"É a profunda ignorância que inspira o tom dogmático" - de La Bruyère.

O Livro dos Amigos, de Hugo von Hofmannsthal - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Sou rico

"Um jovem jônio aparece em Atenas vestindo uma túnica púrpura orlada em ouro. Perguntam-lhe qual sua pátria, e ele responde: 'Sou Rico'" - de Ateneu.

Estupidez e inteligência

"A estupidez não está de um lado e a inteligência de outro. É como o vício e a virtude; astuto quem os distingue" - de Flaubert.

Excesso

"O caminho do excesso conduz ao palácio da sabedoria" - de William Blake.

Política

"Em política, os grandes criadores não são os que concebem, mas o que executam" - de Vandal.

Tentativas e dificuldades

"Muitas coisas não são tentadas por parecerem difíceis; muitas coisas só parecem difíceis por não serem tentadas" - de Kaunitz.

Rebaixar os outros

"É uma infelicidade que normalmente os homens não possam ter um talento sem sentir alguma vontade de rebaixar os outros. Se têm alguma delicadeza, depreciam a força; se são geômetras ou físicos, escrevem contra a poesia e a eloquência; e as pessoas da alta sociedade que não pensam que os que se destacaram em certo campo depreciam outro talento deixam-se influenciar por suas decisões. Desse modo, quando a metafísica ou a álgebra está na moda, são os metafísicos e os algebristas que fazem a reputação dos poetas e dos músicos, ou o contrário; o espírito dominante submete os outros a seu tribunal e, na maior parte do tempo, a seus equívocos" - de Vauvenargues.

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