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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sete notas para uma definição de leitor independente

Sete notas para uma definição de leitor independente - Arquivo
Sete notas para uma definição de leitor independente Imagem: Arquivo

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

07/09/2022 04h00

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Independência é o assunto da vez. Difícil fugir do papo nesse 7 de setembro. Desvio de tanques, golpes, papagaiadas patrióticas, vômitos ufanistas ou coração de defunto sendo tratado como chefe de Estado. Me peguei pensando: o que ajudaria a definir um leitor independente? Esboço caminhos possíveis.

- São muitas as pressões que influenciam na escolha de qual livro ler. Dar chance para aquele clássico ou descobrir por que andam falando tanto de algum livro contemporâneo? Embrenhar-se por mais uma ficção ou olhar um pouco para ensaios, biografias, narrativas de viagem? Dentre tantas urgências, qual é a mais candente em nós? Qual será o livro da vez, afinal? O leitor independente sabe que existem muitos caminhos para responder a essa pergunta e que cabe a cada um encontrar a resposta mais honesta para o momento.

- Sempre repetirei em listas do tipo: o hype é o avesso da literatura. O melhor livro de todos os tempos da última semana pode esperar; se for bom mesmo será leitura válida durante décadas. Por outro lado, livros ignorados por quase todos podem nos reservar ótimas surpresas.

- Ninguém é uma ilha isolada do restante do mundo. É sinal de sabedoria olhar para o que outros leitores têm a dizer sobre certos livros e saber discernir, com base no próprio repertório, o que faz ou não sentido. O olhar crítico é um bom amigo. Há que tê-lo como aliado não só durante a leitura de livros, mas também ao ver o que andam dizendo sobre determinada obra.

- Olhar crítico também vale para saber lidar com os prêmios literários. Venerar um título só porque foi premiado ou, por outro lado, pensar que esses prêmios não dizem absolutamente nada a respeito da literatura contemporânea? Não é por aí nem por ali. Vale usá-los como um farol possível na hora de certas escolhas, mas é besteira deixar que selos (quaisquer selos) se sobreponham ao constatado durante a leitura.

- Ser best-seller do New York Times, ou de qualquer outra lista, não é indicativo de qualidade. É preciso ter cuidado com o marketing.

- Uma prática saudável: ter esse olhar crítico inclusive para si. Buscar compreender de que forma a própria trajetória dentro dos infinitos caminhos da literatura está sendo trilhada. A prática é fundamental para ter clareza na hora de se aprofundar em certos pontos - autores, tradições, escolas... - e de repensar deficiências ou vícios que podem nos atrapalhar como leitores.

- O leitor independente sabe: há livros que merecem levar um pé na bunda antes da leitura ser concluída. Se dinheiro já foi gasto com a jaca literária, que não se perca também o tempo. Só não esqueça: ter clareza dos motivos do achincalho é importante.

- Uma nota bônus tomada do texto que inspirou essa breve lista, "Notas Para Uma Definição do Leitor Ideal", do argentino Alberto Manguel, bibliófilo dos que mais admiro: o leitor independente "observa rigorosamente as regras e normas que cada livro cria para si".

Outras contribuições são bem-vindas, claro.

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