Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Papo de boteco: os favoritos para o Nobel de Literatura deste ano
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Michel Houellebecq aparece como favorito das casas de apostas para levar o Prêmio Nobel de Literatura deste ano. Obra pra isso tem. "Plataforma", "O Mapa e o Território", "Serotonina"..., são romances povoados por personagens odiosos, encadeados por cenas e conflitos que anteveem a derrocada da civilização em nossos dias. É um autor bastante admirado (e um tanto odiado, é verdade) entre os leitores.
Só não sei se a Academia Sueca estaria disposta a arrumar de novo pra cabeça. O francês é um falastrão. Ao abrir a boca, muitas vezes parece se confundir com seus protagonistas mais toscos. Talvez os nórdicos queiram sossego depois dos protestos pelo Nobel de 2019 entregue ao austríaco Peter Handke, defensor de Slobodan Milosevic, sérvio conhecido como "carniceiro dos Bálcãs" pelas atrocidades cometidas na Guerra da Iugoslávia.
Não que ser favorito nessas listas signifique grandes coisas. É raro os líderes da relação terminarem com o prêmio em mãos e a bolada equivalente a quase 5 milhões de reais no bolso. Entre os dez primeiros deste ano, pelo menos três estão há mais de década bem cotados para ficar com a honraria: o poeta sírio Adonis (em 4º enquanto escrevo), o romancista queniano Ngugi Wa Thiong'o (5º) e Haruki Murakami (9º), japonês que virou piada pelo favoritismo nunca confirmado. Na próxima quinta, dia 6, quando a Academia Sueca abrir o envelope que revelará o escolhido da vez, descobriremos se finalmente chegou a hora do autor de "1Q84" - aposto que não.
E não colocaria meus trocados em Houellebecq. Mas outra opção da França que aparece bem, na 3ª colocação, é uma boa: Annie Ernaux, dona de uma admirável mistura de investigação da própria vida com tensões sociais de seu país. Entre os dois franceses está a canadense Anne Carson, do elogiado "Autobiografia do Vermelho", nome a se considerar com seriedade. Outro bem colocado na listagem é o britânico Salman Rushdie (6º), vítima de um atentado em agosto; talvez o prêmio para ele simbolize uma resposta tanto às facadas levadas em Nova York quanto ao ódio de fanáticos religiosos.
É raro o vencedor encabeçar a lista de apostas, verdade, porém é raro que o agraciado sequer apareça na relação com cerca de 50 nomes. Ali no meio da tabela estão autores como Margaret Atwood, de "O Conto da Aia", um surpreendente Stephen King, Mircea Cartarescu, romeno que tem boa torcida aqui no Brasil, e o moçambicano Mia Couto, que, se escolhido, permitirá a quase todos eventos literários do país se orgulhar de já ter tido um Nobel em sua programação.
Ainda estão lá nomes que me agradam por virtudes diferentes. Falo da ruandesa Scholastique Mukasonga, de dolorosos livros sobre a guerra e o genocídio em seu país. Falo do estadunidense Cormac McCarthy, responsável por romances hipnóticos, com personagens de vidas cruzadas por forças extraterrenas enquanto a desgraça impera. Espero que o Nobel não dê com McCarthy, já com 89 anos, o mesmo vacilo que deu com Philip Roth.
Pode surgir algum nome que ninguém nunca ouviu falar e que passaria batido mesmo estando na relação das casas de apostas? Claro. Surpresas são bem-vindas. "Sobrevidas", do tanzaniano Abdulrazak Gurnah, o então desconhecido nobelizado de 2021, está entre as grandes leituras do ano. Se não serve para antecipar o provável vencedor, pelo menos esse tipo de relação pode despertar a nossa curiosidade para certos autores. E é boa para alimentar papos de boteco sobre literatura, o que também é importante.
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