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'Sou só um pobre': A Bíblia e os caprichos de Murilo Rubião
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"Seja aquela uma noite solitária, e não digna de louvor".
"Vê pois que passam os meus breves anos, e eu caminho por uma vereda, pela qual não voltarei".
"Olha pra mim, e tem misericórdia de mim; porque eu sou só um pobre".
"Também eu fui reduzido ao nada, e não o entendi".
São trechos destacados num exemplar da "Bíblia", uma edição impressa em 1902 do texto aprovado em 1842 pela Rainha D. Maria II com a consulta do Arcebispo eleito de Lisboa. Surrado, com evidências de intenso manuseio, grifado, anotado, o volume foi traduzido para o português "segundo a vulgata latina pelo padre Antoni". E aqui não conseguimos descobrir quem é o sujeito. Soterrando a informação, um carimbo com o nome do dono daquele livro: Murilo Engenio Rubião.
Ao lado de Machado de Assis, a "Bíblia" é uma das influências mais presentes na literatura de Murilo Rubião, exímio contista de obra enxuta, composta por pouco mais de 30 narrativas breves. É comum que as histórias sejam precedidas por citações do livro tido como sagrado para tantos. Agnóstico, o mineiro encontrava principalmente no Antigo Testamento, com preferência pelo Apocalipse, as epígrafes que ecoam ao longo de páginas marcadas pelo modo como o fantástico é absorvido e normalizado, quase desprezado, por uma realidade apática.
A "Bíblia" de Rubião é destaque do novo site que reúne parte significativa do acervo do autor. Quem assina a curadoria do espaço virtual é a jornalista e editora Sílvia Rubião, sobrinha do escritor e gestora de sua obra, e Cleber Cabral, pesquisador do Núcleo de Estudos dos Acervos de Escritores Mineiros. O material reunido perpassa diferentes momentos da vida do artista nascido 1916 e morto em 1991.
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