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OPINIÃO

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Lendo os mais vendidos: o insosso 'Amor e Gelato', de Jenna Evans Welch

Jenna Evans Welch, autora de Amor e Gelato. - Divulgação
Jenna Evans Welch, autora de Amor e Gelato. Imagem: Divulgação

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

19/10/2022 04h00

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"Percebi que não há como agradar a todos os leitores", diz a estadunidense Jenna Evans Welch em entrevista para Isabela Frasinelli. É bom termos essa consciência. Quem não procura por uma história juvenil marcada por clichês e da qual emana uma força danada para criar sensação de intimidade, como se a leitura dependesse do leitor ser cúmplice da protagonista, pode dispensar "Amor e Gelato". O romance saiu em 2016 e chegou ao Brasil no ano seguinte pela Intrínseca, com tradução de Joana Faro. Desde então, cerca de 300 mil exemplares foram vendidos por aqui.

Após a morte da mãe, Lina deixa os Estados Unidos e ruma para a Itália para conhecer (ou descobrir) o próprio pai, um último desejo da finada. Escancarando o jogo entre vida e morte que permeia a narrativa, é num cemitério que funciona como memorial de soldados norte-americanos que a garota morará. Na Toscana, Lina vive paixonites enquanto reconstrói o passado da mãe e descobre elementos da própria vida.

São os amores que movem "Amor e Gelato", romance feito de adolescentes sendo adolescentes, muito papo furado, soluções fáceis e caminhos previsíveis. É a caricatura da Itália (a preocupação com a moda, os carrões, os casarões, a arquitetura em diálogo com o passado, os rapazes galanteadores e grosseiros, a boa comida...) que Jenna entrega aos leitores. Aproveitando as comidas que aparecem desde o título do livro, a autora enfileira imagens de gosto duvidoso, como refrigerantes que correm nas veias ou vozes tão fortes quanto molho barbecue.

Amor e Gelato, de Jenna Evans Welch. - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Sigamos com a pegada gastronômica: o trabalho de Jenna tem graça semelhante a tofu - e tofu sem tempero. Em todo caso, quem procura pelo tal quentinho no coração ou qualquer outra superficialidade do tipo talvez se dê bem. O livro é honesto em prometer e entregar uma história contada sem grandes pretensões. Só é insosso, feito para comover quem se comove com tramas amenas. O luto de Lina, por exemplo, que caso trabalhado com mais atenção daria profundidade à obra, é praticamente desprezado pela autora.

Em termos de linguagem, tudo aparece perfeitamente domesticado para que o leitor não precise fazer esforço algum. Inclusive o passado da mãe de Lina é exposto da forma menos original possível: via diário pouco convincente, domado, pensado como peça que chegaria às mãos de outras pessoas, não um espaço íntimo e confidencial de sua autora. O suspense armado dentro do próprio diário, aliás, é sustentado por uma solução que desdenha da inteligência do leitor.

Há quem curta o negócio do jeito que ele é. Caso contrário, "Amor e Gelato" não teria alcançado tanta gente, virado filme pela Netflix e iniciado uma trilogia que seguiu com "Amor e Sorte" e "Amor e Azeitonas". Sinceramente, torço para não precisar encará-los para essa série de leituras de mais vendidos.

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