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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Eliane Brum e a ousadia de imaginar grandes mudanças para o mundo

Almoço - Uma Conversa com Eliane Brum é uma HQ de Pablito Aguiar - Reprodução
Almoço - Uma Conversa com Eliane Brum é uma HQ de Pablito Aguiar Imagem: Reprodução

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

16/11/2022 04h00

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"Além de ternura, eu também tenho muita raiva. Porque eu faço um jornalismo de luta, né? Não ódio. Ódio é uma coisa que mata a gente por dentro. Eu não tenho ódio, eu tenho raiva! Desde pequena eu tenho raiva. Com cinco, seis anos, quando tentei botar fogo na prefeitura com uma caixa de palitos de fósforo - não consegui, ainda bem. Eu queria botar fogo era pela raiva de terem humilhado o meu pai. Acho que me tornei jornalista ali. Bom, se eu não posso botar fogo, então escrever foi essa maneira. Escrevo para não morrer, mas escrevo também para não matar".

As palavras são fortes e funcionam como chave para compreendermos o que impele Eliane Brum em seu trabalho. Ela é uma das mais importantes e combativas jornalistas do país. Após se tornar famosa pela mirada atenta aos personagens transposta para matérias memoráveis que resultaram em livros como "A Vida que Ninguém Vê" e "O Olho da Rua", Eliane se mudou para Altamira, no Pará. Passou a reportar o que acontece numa das regiões mais perigosas e cada vez mais degradadas da Amazônia, foco de grandes disputas e diferentes formas de violência.

Hoje, Eliane é uma das cabeças à frente da plataforma Sumaúma: Jornalismo do Centro do Mundo. A incisiva mensagem acima, no entanto, está num trabalho de natureza bem mais amena. É terna, singela e ligeira a HQ "Almoço - Uma Conversa com Eliane Brum", recém-publicada pela Arquipélago. Nela, o quadrinista Pablito Aguiar usa seus traços para narrar o que ouviu de Eliane enquanto a jornalista lhe preparava um almoço. Ao mesmo tempo em que cozinha o feijão, cuida do arroz e dá atenção para seus cachorros, a autora de "Brasil, Construtor de Ruínas" compartilha histórias, angústias, reflexões e convicções.

Erguendo uma espécie de casa dos sonhos onde as cores serão inspiradas em Frida Kahlo, Eliane entende que vivemos uma guerra climática provocada por uma "minoria dominante que destrói o planeta". É nessa batalha que ela se engaja enquanto diz estar num processo de transformação para virar parte da própria floresta. "A gente é um indivíduo, mas é ao mesmo tempo misturado com a floresta. Entendo o planeta, a vida, assim". É bonito o momento em que a jornalista diz enxergar a linguagem que tão bem utiliza como uma floresta de palavras.

Como é bonito o trecho em que Eliane comenta a importância da imaginação. É fundamental imaginar que podemos reflorestar a Amazônia, defende. Imaginar uma democracia que contemple não só os humanos, mas também os outros animais. Bolar um direito que se estenda à natureza. "Então a gente imagina. E aí as coisas se tornam. A gente faz com que as coisas aconteçam. Mas primeiro a gente precisa ousar imaginar e ousar radicalmente imaginar".

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