Mineirinho por Lázaro Ramos: artistas dão voz à obra de Clarice Lispector

"Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos. Até que treze tiros nos acordam".

Escrito após a autora ser impactada pela forma brutal como um bandido havia sido aniquilado pela polícia, "Mineirinho" é um dos pontos altos da obra de Clarice Lispector. Fiquei feliz quando, passeando pela plataforma Clarice, cheguei ao vídeo com o ator Lázaro Ramos lendo o conto que estava entre os escritos favoritos da própria gigante da nossa literatura. Recomendo a todos o vídeo que está logo abaixo.

Como recomendo uma boa volta pela plataforma que será formalmente lançada hoje, às 18h30, com papo via Youtube com a presença de Fernanda Torres (aqui o caminho). Iniciativa do Brazil Lab da Universidade de Princeton, dos Estados Unidos, em parceria com o Instituto Moreira Salles, Clarice foi pensada para celebrar o centenário da autora, comemorado em 2020, e registrar parte de seu legado por meio da contribuição de artistas renomados.

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Fernanda Montenegro, Rodrigo Santoro, Zezé Motta, Regina Casé, Mariana Ximenes e Miguel Falabella estão dentre aqueles que leem, em alguns casos com toques cênicos mais evidentes, partes da obra de Clarice. Ao todo, o projeto reúne mais de 300 horas de gravações que dialogam com o trabalho da autora de "A Hora da Estrela" e "Paixão Segundo G. H.".

Os muitos admiradores da escritora também encontrarão coisa boa em "Clarice 100 Ears", braço do projeto que reúne textos da brasileira lidos em diversos idiomas por gente como Chico Buarque e Jhumpa Lahiri, britânica autora de "Aguapés" e "Intérprete de Males".

Outra boa novidade sobre Clarice é a edição de "Perto do Coração Selvagem" que a Rocco acaba de colocar no mercado. Depois de "A Hora da Estrela" e "Água Viva", agora é o romance publicado originalmente em 1943 que ganha versão em que manuscritos e trechos datilografados pela autora acompanham o texto final do trabalho. O volume ainda traz ensaios de Marília Librandt, Maria Clara Bingemer, Faustino Teixeira e Evandro Nascimento, especialistas na obra de Clarice.

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