Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Messi é o maior cachorro da história
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Escrevo de véspera. Uma música ecoa na minha cabeça há uma semana. "Muchaaaaaachoos, ahora nos volvimos a ilusionar/ quiero ganar la tercera, quiero ser campeón mundial/ y al Diego, en el cielo lo podemos ver/ con don Diego y con la Tota, alentándolo a Lionel". O principal grito da torcida argentina no Catar me acompanha por esses dias. Já sei que Tota, figura mítica, é a mãe de Diego. Gosto do tom fugidio, da espécie de miragem que o verbo ilusionar causa; um eventual sonhar deixaria tudo possível demais, materializável demais.
Me apego mesmo a Lionel. Curto a foto que alguém posta dele ainda criança, batendo bola com a camisa do Newell's Old Boys. Refresco a memória vendo o pibe jogar ao lado de Ronaldinho Gaúcho, outro bruxo do futebol. Repasso grandes jogadas do argentino, o maior de todo o meu tempo. Pulo a tristeza de 2014. Sorrio ao vê-lo sorrir com a taça de 2021. Revejo a dança em cima do joão croata. Dedico um tempo à genialidade eternizada com a camisa do Barcelona. A bola colada ao pé. O olhar fixo, quase obsessivo. Quando Messi acolhe sua companheira é como se nada mais existisse no mundo.
Há lugar para a literatura nisso tudo, sempre há. Depois do craque ter metido dez gols numa semana - três para a Argentina e sete para o Barcelona, cinco na Champions e dois na Liga espanhola - que o também argentino Hernán Casciari escreveu "Messi es un Perro". Impressa em livro que leva seu título e narrada em vídeo acompanhada de jogadas de seu protagonista, na crônica Casciari observa como Messi trata a bola e o jogo da mesma forma como um cachorro cuida de sua bolinha ou de qualquer outro brinquedo favorito.
Nada é capaz de desviar o olhar ou deter o cão. Da mesma forma como nada parece ser capaz de deter Messi. Mesmo após as pancadas mais brutais, o gênio não reclama. Dá de ombros até para regras que poderiam beneficiá-lo. Quer brincar. Busca o reequilíbrio para seguir em frente. O que importa é a bola. Em transe, hipnotizado, segue em direção ao gol. "Se o deixassem, não faria outra coisa. Levar a esfera branca aos três paus durante todo o temo, como Sísifo. Uma e outra vez", traduzo.
Escrevo de véspera. Não sei se Messi agora fez algum francês de joão e presenteou a todos com mais algum lance épico - ou algumas jogadas para a eternidade, quem sabe. Não sei se depois de misturar tango e cúmbia pela direita ele deu o presente para Julián Álvarez ou, mais improvável, Lautaro Martínez. Não sei se foi dele o gol do título.
Há o outro lado. Também não sei se a França venceu após Tchouaméni roubar uma bola de Lionel e soltar na frente para Mbappé garantir sua segunda Copa. Não sei se Messi zidanou e acabou expulso em sua derradeira final de Mundial. Sequer sei se um piripaque horas antes do jogo deixou Messi de fora da decisão.
Tudo isso importa, mas nem tanto assim. Messi é gênio. Sempre será gênio. Eduardo Galeano se definia como um mendigo do bom futebol, ia aos estádios suplicar por lindas jogadas. Quem viu Messi jogar ao longo dos últimos quinze anos só pode abrir um largo sorriso ao lembrar de tudo o que esse perrito nos entregou.
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