Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Menos hype, desapego e outros votos para os amigos leitores neste 2023
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"Desta vez, que a leitura e o conhecimento nos ajudem a começar a vencer o obscurantismo". Com esse pedido que fechei a minha relação de votos para 2022. Deu certo. Nas urnas, no ano passado, a democracia derrotou o fascismo (que segue vivo em nossa sociedade, fiquemos alertas). É com o Brasil respirando novos ares que escrevo meus desejos para 2023:
- O Ministério da Cultura está de volta. Junto, o novo governo criou a Secretaria de Formação, Livro e Leitura, que abrigará a Diretoria de Educação e Formação Artística e a Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas. O escritor Marco Lucchesi, ex-presidente da ABL, assumirá a Biblioteca Nacional, até outro dia refúgio de olavistas. Que, na prática, a cultura, a arte, a literatura e a leitura voltem mesmo a fazer parte do leque de preocupações - e da planilha de investimentos - do Estado brasileiro.
- No ano passado nos encontramos em eventos literários. Bienal Internacional do Livro de São Paulo, Flipelô, Flima, Flibi, Flip... Foi bonito ver como diversas ações importantes sobreviveram à pandemia. Que a vacinação continue garantindo encontros presenciais para falarmos de livros e literatura, além da cerveja, da cachaça e do vinho no fundamental papo de boteco.
- Se nos últimos anos a preocupação era sobreviver, agora podemos almejar voos maiores. Que os novos caminhos permitam que esses eventos já estabelecidos se fortaleçam e que outras ações surjam e se espalhem por todo o país.
- Legal acompanhar o que rolou com Annie Ernaux. Paulatinamente, ao longo de 2022, cada vez mais leitores falavam sobre a obra da francesa. Quando a Flip anunciou sua vinda a Paraty, era uma escritora bastante querida entre os brasileiros. Depois, o Nobel de literatura coroou de vez o trabalho da mulher já badalada por aqui. Seria muito bom vermos outros fenômenos do tipo, sustentados mais por um movimento orgânico do que por ações apelativas de marketing.
- Como vinha dizendo... É preciso tomar cuidado com as ações marqueteiras tresloucadas de diversas editoras. Enfatizo: fiquem ligeiros com os melhores escritores de todos os tempos da última semana. Desconfiem. Mantenham a guarda alta - o próprio senso crítico, no caso. Insisto: o hype é o avesso da literatura. Se algo for mesmo bom, sobreviverá a modismos.
- Nesse sentido, desejo que todos encontrem o próprio caminho como leitor. Não é fácil, mas que saibamos distinguir nossos interesses mais genuínos da mera vontade de conhecer tudo o que pipoca com ares de imperdível. Um fato: não dá para estarmos sempre por dentro de tudo.
- E por falar em rigor... Que não tentem deslegitimar a crítica com sentimentalismos baratos ou acusações rasteiras. Se for o caso, que leituras duras sejam respondidas com argumentos sólidos, de forma madura, não com chiliques, ataques pessoais ou linchamentos de turbas virtuais.
- Um pouco do meu principal interesse no momento: leiamos os brasileiros e os autores da vizinhança latino-americana. Tem muita coisa boa sendo feita neste canto do mundo que começa no Rio Bravo e termina no Ushuaia.
- Há cada vez menos espaço para a literatura na imprensa profissional, dizem. Me parece verdade. Por outro lado, também me parece que muita gente só olha para os mesmos lugares. Que o admirável trabalho de veículos como o Cândido, o Suplemento Pernambuco e o caderno Pensar, do Estado de Minas, sejam mais valorizados e compartilhados.
- Enfim, outro ponto em que insisto: sabedoria para avaliar se leituras modorrentas merecem alguma insistência, desapego para arremessar longe livros definitivamente enfadonhos.
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