Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Falência da Cultura: As livrarias vão morrer?
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Logo não teremos mais livrarias físicas? É um temor que voltou a assombrar leitores após a falência da Livaria Cultura ser decretada. A resposta que trago é tranquilizadora: fiquem calmos, tudo indica que teremos durante muito tempo lojas de livros pelas cidades.
Há uma crise que ficou escancarada a partir de 2018, quando Cultura e Saraiva pediram recuperação judicial. Desde então, enquanto essas duas outrora gigantes mínguam, redes como a Curitiba e a Leitura ganham novos espaços, referências do setor como a Martins Fontes, a Travessa e a Livraria da Vila tocam seus caminhos com ajustes aqui, eventuais crescimentos ali, e pequenas livrarias aparecem a cada dia em diversos cantos do país.
As megalojas que vendem livros entre brinquedos caríssimos e bugigangas diversas parecem, sim, fadadas à extinção - e essa é uma tendência global. Por outro lado, também num movimento parecido com o que há em outros países, um certo tipo de livraria prospera nos últimos anos. São espaços mais enxutos, com acervo bem apurado e clareza de qual público deseja atender.
O impacto da Amazon
Frequentemente apontada como responsável pela derrocada da Saraiva e da Cultura, a Amazon cresceu e se estabeleceu no país enquanto as outras duas passaram a viver tempos tenebrosos. Com fama de boa pagadora, surgiram editoras com modelos de negócio pensados para ter a Amazon como principal ponto de venda, quando não exclusivo.
O poder financeiro, as pressões nas negociações e a disposição para garrotear concorrentes são outras características conhecidas da empresa fundada por Jeff Bezos.
Ao mesmo tempo, seguem emperradas iniciativas como a Lei do Preço Fixo, que, diferente do sugerido pelo nome, não pretende congelar o mercado, mas regular a taxa de descontos sobre lançamentos, diminuindo o abismo de valores que as novidades podem ter de um ponto comercial para outro. Não é de se estranhar a suposição que muitos faziam e ainda fazem: a multinacional dominará todo o mercado.
Mas estamos falando de um setor que em 2022 movimentou R$ 2,54 bilhões e vendeu 58,6 milhões de exemplares, segundo dados colhidos pela Nielsen BookScan e divulgados pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros. E nem só de mundo virtual se faz a vida. A grande questão, me parece, não é se a Amazon ou qualquer outra loja de internet acabará com livrarias espalhadas pelas cidades, mas qual será o ponto de equilíbrio entre os comércios físicos e o digital.
O futuro das livrarias
Por que alguém sai de casa e vai a uma loja para, talvez, pagar mais caro por um produto? A resposta certamente não passa apenas pelo preço do que está buscando. Livrarias físicas são lugares onde leitores vão não só para encontrar o que procuram, mas também para passear por prateleiras e descobrir o que sequer supunham existir. Assim que podemos esbarrar em obras surpreendentes, conhecer novos nomes, descobrir novas ou antigas tradições.
É uma lógica bastante diferente daquela entuchada pelos algoritmos. O futuro do negócio das livrarias físicas passa por oferecer aos leitores uma experiência muito mais complexa e completa do que apenas vender os livros procurados. São espaços que tendem a ter menos o ar de um varejo qualquer e mais de pequeno polo cultural.
Buscam ser assim livrarias inauguradas nos últimos em São Paulo: Mandarina, Ria, Megafauna, Miúda, Gato Sem Rabo, Livraria da Tarde, Livraria do Brooklin, Banca Tatuí (esta praticamente uma veterana)... Exemplos em lugares menores? Temos a Livraria da Praça, aberta há alguns meses em Cássia, cidade mineira com cerca de 18 mil habitantes. Ou a charmosa Ufa Malufa, de Santo Antônio do Pinhal, quase um vilarejo paulista habitado por menos de 7 mil pessoas.
A cada dia parece aumentar a fatia do mercado dominada pela Amazon, é verdade. Mas tudo indica que uma outra fatia, talvez menor e certamente mais diversa e interessante, seguirá à disposição dos leitores.
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