Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mensagens no colofão: um capricho ignorado por muitos leitores
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"Este livro foi composto em tipologia Lora, no papel pólen bold enquanto Jimi Hendrix tocava 'Voodoo Chile Blues', para a Editora Moinhos. Era o último dia de setembro de 2020. O Brasil, há poucos dias, via seu presidente mentir na ONU".
O ritual se repete: quando ponho as mãos em algum livro da Moinhos, abro logo na última página. Ali que fica o colofão, canto onde as editoras colocam informações sobre o volume: edição, tiragem, fonte das letras, papel usado, época em que o calhamaço rodou na gráfica, quem fez a impressão... Gosto quando aproveitam o espaço para deixar marcas, transmitir mensagens.
Jimi Hendrix tocava e as mentiras de Bolsonaro ecoavam quando o ótimo "Kramp", de María José Ferrada, foi impresso. "Caderno de Entomologia", de Humberto Ballesteros, ganhou vida no Brasil enquanto "3 vacinas surgiam como salvadoras na luta contra a covid". Já "As Aventuras da China Iron", de Gabriela Cabezón Cámara, outro daqueles que insisto em recomendar, foi composto em Fairfield LT Std no papel Pólen Soft e nasceu embalado por "Dança da Solidão", de Paulinho da Viola. Naquele momento de nossas vidas, em maio de 2021, "não havia palavras para definir o que acontecia no Brasil...", registra a Moinhos.
Um livro sempre poder ir bem além de seu texto principal, sabemos. Pelos clássicos latino-americanos editados pela Pinard acompanhamos o aumento no número de mortos durante a pandemia. Quando saiu "O Aniversário de Juan Ángel", do uruguaio Mario Benedetti, eram 570 mil os brasileiros vitimados pelo vírus. Ao publicarem "Homens de Milho", do guatemalteco Miguel Ángel Asturias, esse número dantesco já estava em 666 mil.
Não são os únicos a largar a mesmice e caprichar nos colofões. Encontro versos ao final dos livros da Patuá. Tanto "Ao Pó", de Morgana Kretzmann, vencedor do Prêmio São Paulo de 2021, quanto "Acordar", de Fernanda Estácio, são encerrados com poemas que acompanham datas de impressão e fontes usadas - Garamond Premier Pro e Minion Pro, respectivamente.
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