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Dia do Livro Infantil: a boa literatura para pequenos e marmanjos

Ilustração do livro Mexique - Ana Penyas
Ilustração do livro Mexique Imagem: Ana Penyas

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

18/04/2023 04h00

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A cada 18 de abril, quando a deixa para o texto se repete, recordo os livros que marcaram a minha infância. Os que primeiro vêm à cabeça são os mesmos: "Marcelo, Marmelo, Martelo", da Ruth Rocha, "O Menino Maluquinho", do Ziraldo, e "Meu Pé de Laranja Lima", do José Mauro de Vasconcelos. São títulos dos mais importantes na minha caminhada como leitor.

As tranqueiras de terror da série "Goosebumps", vendidas em edições bem simples nas bancas, vêm na sequência. Me lembro delas, acho, mais porque as histórias também estavam na TV e pela forma como meu pai se referia ao trabalho de R. L. Stine: Goosebobos. "Terror na Biblioteca" era o meu preferido. Monteiro Lobato, nascido num 18 de abril, daí a data para o Dia do Livro Infantil por aqui, tinha um espaço ínfimo no imaginário, estava distante dos meus interesses.

Não aproveitarei o dia para ficar em reminiscências. Fato é que, já adulto, trabalhando com livros, vez ou outra pego alguma obra infantil para ler. E não é raro gostar do que encontro. "Sagatrissuinorana", de João Luiz Guimarães e Nelson Cruz (ÔZé), por exemplo, é uma maravilha que cruza Guimarães Rosa com "Três Porquinhos" e tragédias ambientais em Minas Gerais. Levou o Jabuti de Livro do Ano em 2021 com méritos (tem papo com os autores no podcast).

María José Ferrada, chilena que conheci graças a "Kramp" (Moinhos, tradução de Silvia Massimini Felix), pequena joia da literatura latino-americana contemporânea, também me impressionou com seu trabalho para os pequenos. "Meu Bairro", feito em parceria com Ana Penyas, é um improvável livro infantil sobre a terceira idade. Outro de Ferrada e Penyas é "Mexique", história de quase 500 crianças, filhas de republicanos, enviadas para o México para fugir da guerra civil espanhola. Com a morte de boa parte dos pais, muitos desses pequenos virariam exilados políticos na América.

Apesar das feições ternas, acolhedoras, o terceiro de Ferrada tem uma pegada política ainda mais exacerbada. Falo de "Crianças", ilustrado por María Elena Valdez. O volume reúne 34 poemas feitos para homenagear, como o nome indica, crianças. Crianças que foram perseguidas e desaparecidas ou assassinadas pelos militares chilenos durante a ditadura de Augusto Pinochet. É belíssimo, é sensível e é também uma bordoada. Esses três de Ferrada saem pela Pallas Mini, tradução de Carla Branco.

A camada política também é latente em "O Rato e a Montanha", de Antonio Gramsci com ilustrações de Laia Domènech (Boitatá, tradução de Thaisa Burani e Luiz Sérgio Henriques), e "Ratolândia", de Alice Méricourt, ilustrado por Ma Sanjin (Oh!, tradução de Letícia Castro). Este é uma história sobre organização e conscientização de classe. Aquele, uma fábula a respeito da exploração estúpida do meio ambiente.

Para fechar, uma tríade sobre orgulho e contra o racismo. "Amoras" é uma beleza escrita por Emicida e ilustrada por Aldo Fabrini (Cia das Letrinhas). "O Pequeno Príncipe Preto", de Rodrigo França, ilustrado por Juliana Barbosa Pereira (Nova Fronteira), reinventa o clássico de Antoine de Saint-Exupéry com um principezinho preto a espalhar o Ubuntu. E "A Vida Não Me Assusta" chama a atenção por aliar um poema de Maya Angelou a pinturas de Jean-Michel Basquiat (Caveirinha, tradução de Anabela Paiva e edição de Sara Jane Boyers).

São títulos que valem para adultos revisitarem um livro infantil. Também valem para, quem sabe, marcar a trajetória leitora de alguma criança, como Marcelo e Maluquinho marcaram a minha.

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