Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Diploma limpo de Chico Buarque, brigas e o que realmente importa no Camões
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Em 2012 não chegou a ser um quiproquó. Dalton Trevisan apenas seguiu a mitologia construída para si e ignorou a cerimônia na Biblioteca Nacional, no Rio. A editora que fez as vezes do Vampiro de Curitiba para receber o Prêmio Camões concedido ao autor por conta de livros como "A Polaquinha" e "Novelas Nada Exemplares".
Cinco anos depois a coisa esquentou. Raduan Nassar vinha de uma reclusão de décadas até dar as caras na Balada Literária de 2012. Ainda assim, causou alguma surpresa ao, no começo de 2017, também aparecer no Museu Lasar Segall, em São Paulo, para receber o seu Camões.
Com o microfone em mãos, o autor de "Lavoura Arcaica" e "Um Copo de Cólera" apontou para os tempos sombrios que o Brasil vivia sob o governo Temer, após a queda de Dilma Rousseff. A estupidez política já comia solta no país e o fascismo tateava seu caminho para o horror que viria a seguir. Roberto Freire, então ministro da Cultura de Temer, não gostou do que ouviu. Sob vaias, rebateu o premiado.
Quase outra metade de década se passou entre Chico Buarque ser anunciado como vencedor do Camões, em 2019, e receber o prêmio. Como sabem, a cerimônia aconteceu nessa segunda, em Portugal. A forma estúpida como Jair Bolsonaro lidou com a distinção (cabia a ele, presidente do Brasil, assinar o diploma que oficializa o laureado, o que se recusou a fazer) deu ao momento, agora com Lula à frente do país, ares apoteóticos.
"Reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões", cutucou Chico referindo-se ao espaço até então em branco, numa tirada digna de seus grandes momentos. "Recebo esse prêmio menos como uma honraria pessoal e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo", completou em seu discurso.
Cerimônias do tipo não deveriam ser motivo de grande alarde, capa de jornal, foguetórios e tudo mais. O que importa, de fato, é para quem vai o prêmio, o trabalho do autor, as discussões sobre a obra, não convescotes oficiais. Após um governo macabro e truculento que passou anos debochando da morte, atacando artistas e menosprezando a arte, no entanto, a volta de certa normalidade, de uma civilidade básica, deve mesmo ser celebrada.
Que as boas brigas sejam compradas, que a literatura extrapole as páginas, e que a leitura jamais fique de lado. Leiamos não só Chico, Raduan ou Dalton, mas também vencedores mais recentes do Camões. Paulina Chiziane, considerada a primeira romancista de Moçambique, levou em 2021 e começa a ter um bom reconhecimento aqui no Brasil. Silviano Santiago, vencedor de 2022, merece atenção tanto pela produção crítica (aqui um papo com ele) quanto ficcional. Recomendo "Mil Rosas Roubadas".
Aos livros, enfim!
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