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Fotos da ditadura chilena e feira do livro: o que fazer em SP no feriado
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"Eu nunca tive medo desse tipo de cobertura, eu sempre encarava a coisa com frieza, com tranquilidade, eu sabia onde estava pisando, eu sabia de certo modo pisar onde estava. Claro que temia que algo pudesse acontecer, mas eu sempre digo que tive muita sorte, a sorte sempre me acompanhou em minhas coberturas, na minha vida, em qualquer situação, mas claro que eu sabia que o local era minado, era perigoso, uma bomba poderia estourar a qualquer momento".
São palavras do fotógrafo Evandro Teixeira dadas numa entrevista no ano passado ao pessoal do Instituto Moreira Salles (IMS). Evandro se referia ao trabalho que fez no Chile logo após o golpe militar de 11 de setembro de 1973. O depoimento também ecoa a experiência do profissional na cobertura do golpe civil-militar de 1964 no Brasil e da resistência aos milicos por aqui.
O olhar de Evandro para as truculências dos fardados chilenos e brasileiros serve de base para a exposição "Evandro Teixeira, Chile, 1973", em cartaz no IMS, na avenida Paulista, em São Paulo. Com curadoria de Sergio Burgi, a mostra reúne cerca de 160 fotografias que contemplam a brutalidade no país sob o coturno de Pinochet e também momentos importantes de nossa ditadura, como a Tomada do Forte de Copacabana e a Passeata dos Cem Mil.
Quem visitar a exposição encontrará imagens do período que ficaram famosas, como a de um motociclista da força aérea brasileira se estabacando no chão ou de um estudante caindo ao ser caçado por cupinchas de ditador. A sugestão, contudo, é prestar atenção nas imagens menos familiares.
Na minha visita, dediquei mais tempo a observar três facetas da ditadura chilena pela lente de Evandro. Para alguém apaixonado por futebol, impossível não se deter diante dos registros do Estádio Nacional do Chile transformado em presídio e centro de tortura. A forma como o fotógrafo capta a desolação de parte do povo chileno numa Santiago tomada por homens do exército também impressionou.
Como impressionou todo o setor da mostra dedicado aos retratos feitos por Evandro do velório e do enterro de Pablo Neruda, comunista, prêmio Nobel de Literatura e grande inimigo da ditadura, morto em circunstâncias nebulosas. Evandro foi um dos raros profissionais da imagem a registrar a multidão que se reuniu para manifestar o luto pelo fim da vida do poeta. Ele também passa por esse momento num depoimento, este de 2021, para a equipe do IMS:
"Foi uma multidão incrível, uma multidão inacreditável. Um dos momentos mais emocionantes da minha história, da minha vida, foi eu ter visto o Neruda, a emoção de eu estar diante de um mito, de um prêmio Nobel de Literatura, massacrado pela ditadura daqueles generais, do Pinochet especialmente. E aí eu corri na frente, o pessoal cantando, declamando poemas do Neruda, foi muita emoção, eu chorei, mas chorei com a câmera firme na mão. Quando o caixão começou a chegar, eu consegui subir no túmulo onde ele foi colocado. Fotografei, as lágrimas derramando, foi emocionante. Eu acho que talvez tenha sido, certamente foi, a história jornalística mais importante da minha vida".
Retiro as palavras do catálogo da exposição. "Evandro Teixeira, Chile, 1973" fica aberta ao público até o dia 30 de julho, não paga nada para entrar. E, num passeio que pode ser legal para o feriado de Corpus Christi, ainda dá para juntar a visita à mostra com uma passada na segunda edição d'A Feira do Livro, que acontecerá entre hoje, dia 7, e domingo, dia 11, na praça Charles Miller, em frente ao finado estádio do Pacaembu.
O evento reunirá mais de 140 expositores e terá uma série de conversas entre autores. Estão na programação nomes como João Silvério Trevisan, Abdellah Taïa, Luiz Antonio Simas, Geovani Martins, Samir Machado de Machado, Antônio Xerxenesky, Milton Hatoum, Pablo Katchadjian, Itamar Vieira Junior, Fatima Daas, Luiza Romão, Txai Suruí, Patricia Hill Collins, Sueli Carneiro e Davi Kopenawa.
Realizada pela Associação Quatro Cinco Um em parceria com a Maré Produções, A Feira do Livro tem programação gratuita, que pode ser vista aqui. Minha ideia é passar por lá na quinta, no dia do feriado mesmo.
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