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Números preocupantes apontam: precisamos de mais leitores

"A Biblioteca", de Jacob Lawrence - Jacob Lawrence
'A Biblioteca', de Jacob Lawrence Imagem: Jacob Lawrence

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

19/06/2023 04h00

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Entre 2006 e 2022, o faturamento das editoras brasileiras encolheu 40%. É o que aponta a série histórica da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, feita pela Nielsen BookData e coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros. Só entre 2021 e 2022, quando faturou R$ 4 bilhões, a queda real do setor foi de 3%. É para nos preocuparmos.

São números que convergem com outros dados e também com certos discursos que se alastram por aí. Durante a campanha eleitoral do ano passado rolou um alerta de que falar de livros, se orgulhar de ser leitor, soaria elitista. Tirar foto com alguma obra nas mãos ou citar determinados autores afastaria os candidatos de uma parcela importante do eleitorado. É um papo estranho, mas que pode fazer sentido num país embrutecido, onde a mediocridade ganha força — escrevi a respeito disso aqui.

Os sérios problemas na educação (que fornece ou deveria fornecer as ferramentas básicas para a leitura) e a disputa entre os livros e as tecnologias da moda talvez não sejam as únicas questões que levaram o Brasil a perder cerca de 4,6 milhões de leitores nos últimos anos. Esse dado, lembrado por Sevani Matos, presidente da CBL, está na pesquisa Retratos da Leitura de 2020. Há algo mais profundo, cultural, na derrocada.

Mariana Bueno, economista da Nielsen, recorda que o número de exemplares vendidos pelas editoras ao mercado caiu cerca de 30% desde que a pindaíba econômica começou. Alguém pode argumentar, com razão, que ler um livro é diferente de comprá-lo. São dois elementos, no entanto, que caminham bem juntos, apesar das bibliotecas, dos amigos que emprestam, dos jeitinhos que rolam por aí.

Vez ou outra surgem suspiros que dão alguma esperança. Durante o caos da pandemia certos números do setor foram animadores, por exemplo. Mas não dá para depender de acasos, lampejos ou espasmos para termos melhoras reais nos índices relacionados à leitura e aos livros.

Precisamos de estratégias bem definidas, trabalho constante e metas ambiciosas, tanto de governos quanto de outros agentes da sociedade, para que o cenário mude. E aqui sempre penso na França, onde Houellebecqs da vida saem com tiragens de 300, 350 mil exemplares, algo inimaginável para nossos padrões.

E há uma chave fundamental a ser mudada, pelo visto. É primordial resgatar a ideia de que estar próximo aos livros é bom, ter um livro consigo transmite uma boa imagem e, acima de tudo, de que ler é prazeroso, divertido, que ler é legal.

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