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Filmes, legado e revisões da obra mantêm Agatha Christie em evidência

Agatha Christie foi uma das primeiras leituras adultas que me lembro de ter feito. Devia ter uns dez anos quando atormentei meu pai para comprar o fascículo de estreia de uma coleção sobre a escritora. Pelo preço de um levava para casa dois romances: "Cai o Pano" e "Assassinato no Expresso do Oriente".

Minha cabeça já apagou detalhes como editora e quem publicava a coleção, ou minúcias da trama de "Assassinato no Expresso do Oriente", o único da dupla que de fato li. Não desgostei da história detetivesca ambientada num trem clássico, mas também não morri de amores por esse que é um dos livros mais aplaudidos da autora. Agatha nunca teve espaço no meu panteão literário.

Não que isso importe muito. A obra da inglesa, pelo visto, segue interessando a muita gente. Penso em frequentes reedições que saem dos seus romances - a atual casa de Agatha no Brasil é a Harper Collins. Também constato a perenidade de suas sagas policiais pela frequência com que adaptações de seus livros chegam ao cinema. Nos últimos anos pipocaram filmes baseados em "Morte no Nilo", "A Casa Torta" e no próprio "Assassinato no Expresso Oriente".

Confirmando que os estúdios parecem não se desapegar dos livros de Agatha (ou das cifras que as adaptações desses livros podem gerar, o que é mais provável), mais um longa baseado em sua obra chega às telonas. Falo de "A Noite das Bruxas", terceiro filme inspirado na literatura da inglesa dirigido, produzido e protagonizado por Kenneth Branagh.

Também estão no elenco gente como Michelle Yeoh, Jamie Dornan e Tina Fey. "A Noite das Bruxas" se passa na Veneza do pós-guerra. Uma pessoa é assassinada numa cerimonia espírita. Como de praxe, cabe a Hercule Poirot desvendar o caso temperado com toques aparentemente fantásticos. Um dos detetives mais célebres da história da literatura visitava o lugar a convite de uma escritora

Não é só o cinema que tem feito com que as atenções se voltem para o nome da inglesa. No começo do ano o jornal britânico The Telegraph apontou que diversos livros de Agatha publicados entre 1920 e 1976, ano de sua morte, vinham sendo editados ou reescritos. O objetivo, como em tantos outros casos, é deixar o texto puro, limpinho, inofensivo, sem marcas racistas ou preconceituosas cunhadas pela autora em suas versões originais.

Agatha passou por situação semelhante em vida. "Ten Little Niggers", seu livro mais vendido, publicado na Inglaterra em 1939 (este sim me agradou bastante quando li, na juventude) já saiu nos Estados Unidos no ano seguinte com outro nome: "And Then There Where None". A ideia era evitar a palavra Nigger, potencialmente ofensiva, no título da edição estadunidense.

Com o passar dos anos, a família da autora passou a exigir que todos os países que a publicam adotassem uma tradução politicamente correta para o título. Leitores brasileiros talvez se lembrem que o livro que hoje encontramos nas livrarias como "E Não Sobrou Nenhum" um dia já se chamou "O Caso dos Dez Negrinhos" por aqui.

Deixo ainda uma sugestão. Para quem gosta de Agatha Christie, pode ser uma boa conhecer os romances de Samir Machado de Machado, tradutor de obras da inglesa para o português. É na literatura de Agatha, bem como na de Arthur Conan Doyle, que Samir se inspirou para escrever, por exemplo, o divertido "O Crime do Bom Nazista" (Todavia), seu último trabalho. Conversei com o autor sobre esse livro numa edição recente do podcast da Página Cinco.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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