O que será de Jack, o Estripador, com a revelação de sua real identidade?
Um homem que barbarizou a Londres no final do século 19. Um assassino que dava toques assustadores aos seus crimes. Acabava com a vida principalmente de garotas de programa. Cortava-lhes a garganta, perfurava-lhes a barriga, às vezes colocava para fora do corpo alguns órgãos da vítima.
Tamanha brutalidade chamava a atenção da população e da imprensa enquanto a polícia inglesa batia cabeça para descobrir quem era o criminoso. Uma carta, talvez falsa, circulou na época tratando das mortes e chamando o tipo de "Jack, o Estripador". Na falta do verdadeiro nome do maníaco, o apelido pegou.
E permaneceu ao longo muitas décadas, mais de século. Jack, o Estripador, se transformou numa figura mítica, um exemplo de quão macabro poderia ser o submundo londrino e de quão maligno o ser humano é capaz de ser. Foi parar em filmes, peças de teatro, inspirou centenas de livros e histórias que tentam imaginar seus passos ou nele se inspiram para apresentar aos leitores personagens sanguinários.
Lembro dois exemplos. Alan Moore e Eddie Campbell levaram a história de Jack para um dos quadrinhos mais reverenciados da história: "Do Inferno", publicado por aqui pela Veneta. Numa chave bem diferente, Jô Soares também se inspirou no criminoso em um dos seus livros. Em "O Xangô de Baker Street" (Companhia das Letras), os crimes a serem desvendados ao longo da trama carregam traços caros à forma como o inglês procedia com suas vítimas.
Junto com uma enxurrada de boatos, falsificações e documentos apócrifo, a falta do nome verdadeiro, de uma identidade, de um rosto para Jack contribuiu para que houvesse espaço em branco para que muitas histórias fossem criadas sobre o Estripador. O mistério no entorno de quem foi, de fato, o sujeito deu brecha para artistas de diferentes épocas e diferentes áreas criarem a própria versão do assassino. Essa porta escancarada para a fabulação também foi fundamental para que a aura de mistério no entorno do criminoso mantivesse sua figura em evidência, movimentando inclusive roteiros turísticos por Londres.
Mas agora a coisa pode ter mudado. Há poucas semanas saiu na Inglaterra um livro chamado "One-Armed Jack: Uncovering the Real Jack the Ripper" (Michael O'Mara Books), de Sarah Bax Horton. Nele a autora aponta qual seria a real identidade do criminoso: Hyam Hyams, que, enquanto não estava trucidando mulheres pelas ruas escuras, era funcionário de uma fábrica de charutos.
Sara é tataraneta de um policial que investigou os crimes cometidos por Jack. Características atribuídas ao assassino também faziam parte do descritivo de Hyam: a estatura, um sério problema no joelho, uma lesão nunca tratada que dificultava a articulação do braço esquerdo? Epilepsia e alcoolismo seriam outros traços que atormentariam a vida do homem que faleceu em 1913 num manicômio, onde estava internado desde o final de 1889.
O trabalho de Sara certamente passará pela avaliação e eventual validação de outros pesquisadores que tentam desvendar mistérios da história de Jack, o Estripador. Caso se confirme que o assassino era mesmo Hyam Hyams, a ver quais serão os desdobramentos. É sempre interessante acompanhar o choque entre o real e as construções fabulosas sobre determinadas figuras.
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